sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Instalar para desligar


Turbinas eólicas nas estepes da Mongólia Interior
De acordo com números oficiais, 9,6% do consumo eléctrico do Reino Unido já é abastecido por fontes renováveis graças essencialmente a um franco crescimento de geração eólica e hídrica. A produção nuclear também registou aumento e igualou a obtida com carvão, com as duas a garantir cerca de 43% da produção.

A distribuição do parque eólico nas Ilhas Britânicas não é uniforme e, dado que quanto mais para norte mais forte o vento sopra, "2010 wind generation in Scotland was nearly one third more than in England, and almost five times greater than in Wales."

O facto de boa parte do consumo desta energia eléctrica ser feita no sul industrializado de Inglaterra exige uma elevada capacidade de transporte da electricidade. Só que o reforço da rede não tem acompanhado o crescimento de potência eólica intermitente e por isso já tem acontecido os produtores eólicos escoceses receberem avultadas somas compensatórias para desligarem as turbinas da rede.

Naturalmente esta divergência entre capacidade de produção e capacidade de transmissão/consumo resulta em grande medida do regime de tarifas feed-in de que também a energia eólica goza por lá. Isso torna o negócio das energias renováveis apetecível não pela possibilidade de comercializar electricidade mas pelo interesse em arrecadar incentivos.

Província autónoma da Mongólia Interior
O fenómeno não acontece apenas no ocidente. A China começa a viver o mesmo problema e majorado à escala do país mais populoso do mundo. À semelhança do Reino Unido, a energia eólica chinesa é produzida maioritariamente na província da Mongólia Interior a norte e consumida nas cidades da costa oriental que distam centenas milhares de quilómetros. Porém os parques eólicos da Mongólia Interior estão ligados a uma rede eléctrica regional, a Inner Mongolia Grid que tem débeis conexões com as outras redes do país, a State Grid Corporation of China (SGCC) e a China Southern Grid. São precisamente estas redes que servem os destinos da energia eólica produzida a norte.

A consequência natural é a incapacidade de escoar a produção flutuante de tanta energia eólica. O problema é ainda agravado pelo facto de, à semelhança da Dinamarca, as centrais termoeléctricas co-gerarem aquecimento e por isso não terem total flexibilidade para abrandarem quando há excesso de produção eólica. Não é raro 1/3 da capacidade eólica chinesa estar desligada em horas de vento.

"These things happen all the time here. About a quarter of the turbines on my wind farm have to remain idle, even on the windiest days," afirmou o Director Geral da empresa chinesa com mais potência eólica instalada.

 
Potência eólica de Inner Mongolia com financiamento CDM
Como é que se chegou a uma situação destas? Em boa parte graças a dinheiro ocidental transferido através do programa Clean Development Mechanism (CDM) que permitiu a instalação de alguns destes parques quase sem custo. Só que, como a maioria dos parques são erigidos em zonas remotas, o reforço da rede eléctrica é muito dispendiosa e tem sido negligenciada. Mas não só, assim como na Escócia, também na Mongólia Interior já se pode ter ultrapassado o limite razoável de geração eléctrica intermitente que uma rede eléctrica consegue absorver sem riscos de sobrecarga.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Governo vai taxar termoeléctricas

De acordo com o Jornal de Negócios a produção eléctrica abrangida pelos Custos de Manutenção de Equilíbrio Contratual (CMEC), isto é, a produção eléctrica que recorre a queima de combustíveis fósseis vai passar a pagar uma contribuição especial em 2012.

Os CMEC surgiram em 2007 em consequência do aparecimento do Mercado Ibérico de Electricidade (MIBEL). Vieram substituir os anteriores Contratos de Aquisição de Energia (CAE) e têm a duração de 20 anos.

O estado estima arrecadar €200M suplementares com esta medida, sendo a EDP a principal contribuidora para este valor.

No entanto, "cada central terá de pagar este encargo em função da potência instalada. Mas este novo contributo será só para os empreendimentos que não transaccionem a sua produção no mercado. Ou seja, todas as centrais que vendam a electricidade a preços de mercado ficarão isentas deste encargo, que será aplicado a partir de Janeiro de 2012."

Espero que haja idênticas novidades relativamente a Produção em regime especial (PRE). Se o critério a aplicar fosse o mesmo, isto é, isenção apenas para electricidade vendida a preço de mercado as receitas podiam ser bastante superiores.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O marketing inconsistente da APREN (1ª parte - passado)


A previsão de cortes nos tão essenciais subsídios para a manutenção da indústria renovável nacional levou a Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN) a "encomendar" à consultora Roland Berger Strategy Consultants um estudo subordinado ao tema "Avaliação dos Custos e Benefícios da electricidade de origem renovável". Uma operação de charme que visa manter os portugueses crentes na miragem das energias renováveis baratas.

Fico espantado que a APREN tenha de recorrer a entidades exteriores para realizar este tipo de estudo, ainda por cima um forjado de forma tão grosseira. Mas acredito que as margens de lucro do sector permitam este tipo de luxos.

Os resultados da pesquisa foram divulgados à comunicação social na segunda-feira e disponibilizados no site da APREN ontem. As conclusões são previsíveis e completamente distorcidas. Retirei pedaços e comento-os por baixo:
Em 2010, o valor médio das tarifas da PRE-FER em Portugal situou-se 15% abaixo da média dos países Europeus e a actual FIT aplicada à energia eólica, para os projectos instalados a partir de 2009 (70 €/MWh), apresenta-se igualmente como a mais baixa.
Efectivamente é possível produzir energia eólica a €70/MWh, até menos no futuro graças à descida do preço das turbinas por falta de procura. Mas não é esse o valor que tem sido pago aos produtores. Segundo a ERSE, em 2010 foi paga uma média de €92/MWh e é precisamente este ajuste que se parece anunciar e que está a assustar os associados da APREN.
A evolução dos preços de electricidade em Portugal, que registou uma redução dos preços reais entre 1990 e 2010 colocando assim Portugal abaixo da média da União Europeia, confirma o balanço positivo da política energética nacional na última década.
De facto os governos anteriores conseguiram manter o preço da electricidade portuguesa artificialmente baixa através de IVA reduzido e défice tarifário. Mas isso vai acabar já no dia 1 de Outubro graças à Troika tornando a electricidade portuguesa uma das mais caras na UE27.


Produção em Regime Ordinário 

o valor das licenças de CO2
Defendo que a aproximação entre custos de produção termoeléctrica e renovável deve ser feita por aqui. Pela penalização da poluição dos combustíveis fósseis e não pelo favorecimento das renováveis. Contudo, como se vê pelo gráfico, ainda é uma parcela muito diminuta e com impacte reduzido.
sobrecusto relativo aos contratos de aquisição de energia da PRO já celebrados, denominados CAE (Contratos de Aquisição de Energia) e CMEC (Contratos de Manutenção do Equilíbrio Contratual) e que fixam uma remuneração garantida para a PRO.
Se existisse uma lei que só permitisse viajar de autocarro quando os comboios estivessem lotados provavelmente o transporte rodoviário de passageiros desaparecia se não lhe fossem dadas garantias financeiras. O mesmo se passa actualmente na produção eléctrica em Portugal.

Independentemente do custo de produção a geração renovável tem prioridade legal sobre a produção ordinária. Isso faz com que as centrais termoeléctricas em Portugal trabalhem menos e com menos eficiência do que aquela que seria possível num mercado justo. Mas como o país não pode prescindir da fiabilidade da produção termoeléctrica, sob pena de ocorrerem apagões regulares em Portugal, é preciso manter contratos para que as centrais se mantenham operacionais. Sendo assim, a necessidade destes contratos tem origem no excesso de produção renovável intermitente e por isso o sobrecusto dos CAE e CMEC deve ser parcialmente colocado do lado da PRE.


Produção em Regime Especial


o efeito da ordem de mérito, resultante do abaixamento do preço de mercado devido à deslocação da curva de oferta de electricidade no mercado graças à entrada de electricidade PRE-FER
O efeito da ordem de mérito, isto é, a prioridade dada às renováveis no acesso à rede não é de forma alguma um benefício dado pelas energias renováveis. Pelo contrário é um prejuízo resultante de quatro razões essenciais:
  1. Este efeito não é exclusivo das energias renováveis mas é simplesmente a lei da oferta e da procura a funcionar. Qualquer fonte de energia eléctrica que forneça electricidade à rede em excesso faz baixar a curva da oferta. Porém não existe interesse comercial que assim seja pelo que não é praticado deliberadamente.
  2. A produção de energia renovável não obedece a nenhum critério de rentabilidade mas apenas de condições meteorológicas pelo que o abaixamento do preço da electricidade que provoca é involuntário...
  3. ... e danoso dado que uma boa parte dessa redução é lucrada por Espanha. Em rigor quem fica a ganhar é Marrocos e França, os destinos finais do excesso eólico ibérico.
  4. Não interessa a influência que as energias renováveis têm no valor do mercado grossista dado que ele não chega aos consumidores finais. O preço de produção está estabilizado através das tarifas feed-in.


O efeito de mérito é um prejuízo induzido pela distorção inerente à PRE. Por absurdo, se o parque eólico português tende-se para infinito o preço da electricidade tendia para zero. Não é preciso ir tão longe, no mercado nórdico é frequente a Dinamarca ter de pagar à Noruega e à Suécia para estas aceitarem excesso eólico. O efeito de mérito a ser contabilizado no diagrama de custos devia entrar como factor penalizador por aumentar a divergência entre preço grossista e tarifa feef-in. No entanto, creio que deve ser retirado pois este efeito já está reflectido no preço de mercado.

as perdas evitadas na rede de transporte
Não entendo porque é que as renováveis provocam menos perdas na rede, ainda para mais se a produção renovável está mais dispersa. Este sumário é omisso em contas que sustentem a afirmação. Será que obedece à lógica ecotrópica de produzido localmente/consumido localmente?

Foi também acrescentado o custo de back up do sistema, isto é, o custo de potência de reserva para fazer face às flutuações na produção da PRE-FER.
Uma evidência de que Portugal não pode depender de produção renovável e tem de ter potência termoeléctrica de reserva. Potência essa que tem de ser assegurada com contratos CMEC.

Conclusão

Saltam à vista dois grandes factores contributivos para as alegações da APREN de que o impacto da PRE na factura média mensal de um consumidor doméstico corresponde a €1,9 e não a €5,5: os CAE/CMEC e o efeito de mérito. Mas como expliquei é errado incluir estas parcelas nas contas, pelo menos da forma que a Roland Berger faz.

As taxas ambientais, que ainda são baixas para poderem retirar competitividade aos combustíveis fósseis, se forem aumentadas vão indirectamente pesar sobre as renováveis dado que estas precisam de backup termoeléctrico.

Os restantes factores nos diagramas não têm peso apreciável pelo que se pode concluir que a produção renovável não é economicamente competitiva e encarece a factura final dos portugueses.

Se assim não fosse os produtores renováveis seriam os primeiros a prescindir de tarifas feed-in e a APREN não teria necessidade de pedir a realização deste estudo.

Nos próximo dias irei analisar o resto do documento da APREN/Roland Berger.

Testes alemães em CCS adiados

Unidade alemã de teste de CCS
O Bundesrat, representante dos 16 estados federais alemães, chumbou um projecto de lei do governo central para permitir o teste da captura e armazenamento de dióxido de carbono no subsolo, em inglês carbon capture and storage (CCS), emitido pelas centrais termoeléctricas.

As reservas do Bundesrat prendem-se com as consequências nefastas de uma possível fuga de gás armazenada, ainda por cima nas concentrações que o CCS naturalmente vai gerar. O medo do Bundesrat faz sentido. O CCS, também testado nos EUA, mas ainda não industrializado, é a esperança europeia, mas também chinesa, para a continuação da utilização de centrais termoeléctricas para produção eléctrica. Na minha opinião, como detalharei oportunamente noutro post, o CCS é uma das mais grosseiras e idiotas soluções tecnológicas das últimas décadas. É uma fuga desesperada à evidência de que a energia nuclear é incontornável em países desenvolvidos.

A Alemanha é um dos países mais interessados no sucesso do CCS. Porque se encerrar as suas centrais nucleares em 2022 vai precisar de incrementar proporcionalmente o seu parque termoeléctrico. E porque o único combustível fóssil de que tem reservas apreciáveis é o bastante poluidor carvão castanho.

Mina de carvão castanho na Alemanha
Sem CCS, a produção de electricidade com carvão deixará de ser comercialmente competitiva, em virtude da necessidade de adquirir créditos de carbono. Pode até deixar de ser legalmente possível se a emissão de créditos continuar a ser reduzida a ponto de não existir suficiente quantidade no mercado para transaccionar.

Sem carvão e sem nuclear a Alemanha fica perigosamente dependente do gás natural vindo da Rússia, nomeadamente através do recém-inaugurado gasoduto Nord Stream, e do futuro gás shale polaco. Mas aparentemente isso é menos preocupante do que os perigos de uma indústria que nunca matou nenhum alemão, ao contrário da bastante mais popular agricultura biológica

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Álvaro admite nuclear

O Ministro da Economia Santos Pereira, ou Álvaro como ele pediu para ser chamado quando iniciou funções, foi o convidado central do programa da RTP Pós e Contras de dia 26 de Setembro. Não vi o programa todo mas apanhei a referência do Ministro a dois assuntos que estão no âmbito deste blog. Foi na segunda parte do programa e pode ser visualizado aqui. Gostei bastante de ouvir Santos Pereira e concordo com a sua visão.

1. Ferrovia
O governo vai avançar com a construção de duas linhas internacionais para transporte de carga em bitola europeia. Uma a sair de Sines e outra a sair de Aveiro. Segundo Santos Pereira, a União Europeia já deu o aval para que os fundos destinados ao TGV sejam transferidos para estas duas obras. O transporte de mercadorias em ferrovia vai permitir baixar os custos de transporte da nossa indústria exportadora e ao mesmo tempo potenciar a actividade logística dos nossos portos. A partir de 2014, quando a expansão do Canal do Panamá permitir que navios de dimensões superiores à Panamax o atravessem, o potencial de movimentos nos portos nacionais será alargado. Estas linhas vão dar-lhes maior capacidade de escoamento e torná-los por isso mais competitivos para captar esse tráfego marítimo.

2. Política Energética

Embora se tenha escusado a desenvolver e até tenha mudado de tema Santos Pereira não renunciou à existência de centrais nucleares em Portugal no futuro. Esta é uma viragem impressionante face à posição obtusa do anterior governo nesta matéria e que já tinha comentado aqui. Santos Pereira também avançou que irá haver novidades no sector até 15 de Outubro dado que se nada for feito o preço da electricidade em 2012 aumentará 30% para clientes domésticos e 55% para as empresas, que classificou como incomportável. Relembre-se que há pouco tempo a ERSE já tinha avisado sobre esta consequência. Para tal Santos Pereira tem vindo a encetar conversações com produtores em regime especial, quer de renováveis quer de cogeração. O objectivo é reduzir os incentivos dados o que tem deixado o sector renovável extremamente nervoso.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

É a crise ou a verdade?

A Dinamarca é o paradigma da falência do modelo renovável para o sector energético. Tem a electricidade mais cara do mundo e uma das mais poluidoras da Europa. Não espanta quando ficamos a saber que à frente da Estratégia Energética Dinamarquesa 2050 está alguém como Katherine Richardson.

Em entrevista ao Expresso a dinamarquesa afirma que é a crise económica que tem feito com que o apoio público às teorias do aquecimento global tenha diminuído. Mas está errada, aquilo que mais tem provocado o fim desta crença quase religiosa é o trabalho de muitas pessoas na blogosfera e opiniões fundamentadas de muito cientistas que têm colocado a verdade científica à frente de objectivos menos nobres.

Em relação ao sector energético Katherine Richardson afirma que a sustentabilidade ambiental só será obtida com o abandono progressivo das fontes fósseis. Totalmente de acordo mas quando questionada como é que isso pode ser feito n caso dinamarquês responde
Tem de haver desincentivos ao investimento em infraestruturas relacionadas com os combustíveis fósseis e uma aposta forte no desenvolvimento de um sistema energético inteiramente novo, que não seja apenas a adaptação do sistema atual.
Em resumo, a responsável não tem noção de como isso é possível com a tecnologia actual. Com a tecnologia actual e excluindo a energia nuclear acrescento eu. O caso dinamarquês é particularmente difícil de resolver dado que o país aproveita as suas centrais termoeléctricas para gerar aquecimento central em cogeração. Ou seja, mesmo que a energia eólica fosse capaz de responder às necessidades de consumo eléctrico, o que está longe de acontecer, seria preciso redesenhar também o sistema comunitário de aquecimento. Uma tarefa que as centrais nucleares podem realizar perfeitamente. Mais, podem gerar electricidade para consumo doméstico e alimentação de baterias de carros eléctricos, produzir vapor para aquecimento e até hidrogénio para combustível automóvel se for essa a forma escolhida para substituir petróleo.

Portugal avança para offshore


Eólica offshore no mundo em 2010 (EWEA)
 Como mostra este video do Expresso, já faltam poucos dias para ser levado para alto mar a turbina eólica Vestas que servirá a experiência offshore da EDP. De acordo com dados da European Wind Energy Association (EWEA) dos 84.324 MW de potência eólica instalada na EU27 até ao final de 2010 apenas 2.944 MW eram offshore. Uma discrepância que se explica fundamentalmente pelo custo superior da exploração no mar. E quase toda esta potência está instalada nas Ilhas Britânicas e na Dinamarca, regiões que têm simultaneamente bons ventos e mares de baixa profundidade ao largo das suas costas.

Devido à, cada vez maior intolerância dos europeus em relação a parque eólicos em terra, seja pelo impacte visual, seja pelo ruído provocado pelas turbinas, a continuação da expansão eólica no Velho Continente acontecerá, fundamentalmente, no mar.

É neste cenário que Portugal, que não tem nem bons ventos nem condições de fundo do mar propícios à instalação de turbinas offshore se propõe, através da EDP, avançar com esta experiência pioneira. Um ensaio que, se bem sucedido, obrigará à atribuição de avultados subsídios para viabilizar a sua industrialização.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Time Atlas derreteu gelo a mais na Gronelândia

Gronelândia em 1999(esq) e 2011(dir) (Time Atlas)
A reputada publicação geográfica Time Atlas publicou na semana passada a 13ª edição do seu mapa mundo. Mas esta semana vem reconhecer que se enganou relativamente à quantidade de gelo existente na Gronelândia. Depois da contestação de cientistas da área, aquela que se intitula detentora do mais respeitável atlas, teve de retirar as alegações de que nos últimos 12 anos mais 15% da superfície da Gronelândia tinha desaparecido em virtude do Aquecimento Global.

Embora seja inegável que a Gronelândia tem perdido gelo ao longo dos últimos anos a verdade é que a evolução desse degelo não segue os padrões dos modelos de aquecimento global antropogénico do International Panel for Climate Change (IPCC). O degelo na Gronelândia e nos pólos é uma resposta a evoluções do equilíbrio do planeta não padronizadas e não totalmente compreendidas pela ciência humana. A quantidade de gelo nos pólos (e na superfície terrestre) sempre sofreu variações desde que a Terra arrefeceu e a crosta se formou há cerca de 3,9 mil milhões de anos, ou seja, muito antes de o Homem, ou mesmo a vida, ter aparecido no 3º planeta a contar do sol.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Mundo do petróleo quer energia nuclear

Masdar, Abu Dhabi
Decerto muitos ainda se lembrarão da operação de charme de José Sócrates na cidade "ecológica" de Masdar, Abu Dhabi em Janeiro último. A viagem teve o propósito de seduzir os árabes a adquirir títulos de dívida portuguesa e fazer mais propaganda pró-energia renovável. A cidade de Masdar, fruto do sonho do arquitecto inglês Norman Foster, tem o objectivo de ser uma urbe para 50.000 habitantes neutra em emissão de dióxido de carbono. Para isso obtém a sua electricidade a partir do sol e do vento, dessaliniza água do mar e recicla depois de usada, possui edifícios e espaços públicos mais eficientes energeticamente, não permite veículos particulares ou indústrias pesadas. Naturalmente não é auto-suficiente em agricultura, indústria ou serviços pelo que esta suposta neutralidade é uma pura utopia. Nem me parece que a sua proposta de uma vida regrada em consumo energético vá cativar muitos dos novos ricos da região. As classes mais abastadas dos Emirados Árabes Unidos (EAU) gostam de levar uma vida de opulência e consumo desenfreado. Fazem-se deslocar em SUVs adoradores de gasolina barata e não dispensam aberrações ambientais como o Ski Dubai ou corridas de power boats offshore.

Actualmente praticamente toda a energia eléctrica consumida pelos EAU provém de centrais a gás natural. Masdar é evidentemente uma montra ou ideal, jamais será a norma nos EAU, ou em qualquer parte do mundo. Por isso, e porque o consumo eléctrico no conjuntos dos Emirados cresce a um ritmo de quase 10% ao ano, em 2006/2007 houve um debate interno para se estabelecer uma política energética para 2020. As premissas foram:

1. As reservas de gás natural só cobririam metade das necessidades em 2020 o que punha em causa a segurança energética.

2. A importação de carvão foi desconsiderada por questões ambientais e também segurança energética.

3. As energias solar e eólica só conseguiriam fornecer 7% dos 40GW de potência média requerida em 2020.

Projecto da central nuclear de Braka (4 x 1.400 MW)
O resultado foi o estabelecimento de um ambicioso programa nuclear que dotará o conjunto dos seis Emirados de um parque de 14 centrais nucleares capazes de gerar 20GW de potência média, 25% das quais estarão concluídas em 2020. A EAU abriu um concurso internacional milionário para fornecer todos estes reactores pois pretendia uniformizar as suas centrais. A vitória, pelo menos para a primeira central licenciada, Braka, foi ganho pelo consórcio liderado pela empresa sul-coreano KEPCO.

Braka vai ser um complexo de quatro reactores com uma potência combinada de 5.600 MW de potência que estarão a fornecer electricidade à rede entre 2017 e 2020.

A diferença entre os Emirados e Portugal é que, mesmo apostando em pontuais projectos de energia renovável, os estados do médio oriente não perderam o discernimento e sabem que um futuro com geração eléctrica sustentável passa necessariamente pela existência de centrais nuclerares.

Busherh (1.000 MW) já fornece energia nuclear ao Irão
Os EAU não são o único exemplo de aposta nuclear para a geração eléctrica. Mais a norte o Irão conectou recentemente a sua primeira central nuclear, Bushehr, à rede. A central de 1.000 MW, cujo plano já vem de longa data, está equipada com tecnologia russa. Ainda que o combustível nuclear não sirva directamente para produzir bombas atómicas, por se tratar do Irão, medidas especiais para evitar a sua proliferação foram tomadas. Não haverá enriquecimento de urânio para a central nem armazenamento depois de usado no Irão. O ciclo do combustível de Busherh será responsabilidade da Rússia com supervisão da International Atomic Energy Agency (IEAE).

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Siemens e o abandono nuclear

A imprensa portuguesa tem difundido a notícia de que o gigante Siemens vai abandonar a energia nuclear em virtude de Fukushima. Mas esta é uma interpretação pouco precisa mas que até já tinha sido feita no artigo original do Der Spiegel.

1. A Siemens não vai abandonar a energia nuclear completamente. Uma central nuclear difere de uma central termoeléctrica na forma como gera o vapor de accionamento da turbina. Nas centrais nucleares usa-se a cisão de urânio e nas termoeléctricas queima de combustível fóssil. Toda a parte convencional de geração eléctrica, ao fazer o vapor passar por uma turbina, é basicamente idêntica.

Aquilo que o CEO da Siemens Peter Löscher confessou ao jornal alemão é que a sua empresa irá deixar de participar na construção e financiamento de novas centrais e no desenvolvimento da parte nuclear das mesmas mas continuará a fornecer todo o equipamento para a parte convencional. Ainda que a Siemens seja um líder mundial na construção de turbinas da dimensão requeridas em centrais eléctricas o facto da empresa ter deixado de ter qualquer parceria com um fornecedor de reactores fará, na minha opinião, com que deixe de ter uma posição cometitiva no mercado.

2. Ainda que Löscher diga que a razão para a decisão teve como base "German society and politics' clear position on ending nuclear energy.", o que até lhe fica bem dizer no momento actual, a verdade é que a Siemens tem vindo a abandonar progressivamente a tecnolgia de reactores nucleares, pelo menos desde 2009, quando alienou a sua participação na Areva.

Não é raro as empresas reorganizarem-se e diminuírem o portfolio de capacidades para se concentrarem em áreas chave. Não conheço a realidade da Siemens para afirmar se é este o caso mas coloco reservas em relação ao timing escolhido para abandonar o core do nuclear e apostar mais nas renováveis. As maiores economias do mundo como a China, Índia, Reino Unido, EUA ou Rússia têm renovado compromissos em relação à energia atómica. Esta decisão da Siemens de deixar os reactores nucleares para saltar para bordo do comboio renovável que começa a abrandar parece-me pouco sensata. Ainda para mais quando se sabe que a Alemanha terá uma palavra cada vez menos forte no sector.

A hipocrisia anti-nuclear na Europa

Saldo exportador/importador electricidade alemã (Bundesnetzagentur)
A Agência Federal Alemã Bundesnetzagentur que actua no sector da electricidade produziu o gráfico do saldo de exportação/importação de electricidade alemã. A barra amarela assinala o dia em que Merkel deu ordem para desligar os oito (em 17) reactores nucleares mais antigos da rede. Imediatamente, como o gráfico tão bem ilustra, o país passou de exportador para importador de electricidade. Até aqui nada de novo dado que as centrais nucleares alemãs garantiam até Março cerca de 25% do consumo eléctrico alemão. Naturalmente que, se de um dia para o outro, o país se viu amputado da mais de 10% da sua capacidade de geração teriam de existir consequências.

Muito mais interessante é a forma como essa falta foi suprimida. Previsivelmente, a Alemanha teve de recorrer aos maiores exportadores europeus de electricidade. A Electricité de France (EDF), que tem compensado a falta de energia nuclear germânica com energia nuclear gaulesa. E a checa CEZ que vende aos alemães parte da electricidade produzida na central nuclear de Temelín a cerca de 100km da fronteira com a Alemanha. Também a Polónia tem ajudado a cobrir a falta de energia nuclear limpa alemã. Fá-lo com a electricidade produzida da forma mais venenosa que existe, a obtida com queima de carvão castanho ou linhito. Mas não só.

O jornal Der Spiegel, que tem dado bastante atenção a este tema do fim do nuclear na Alemanha, vem revelar que também os austríacos, deficitários em produção eléctrica e importadores de electricidade nuclear alemã até Março, querem explorar este filão que se abriu no seu vizinho.

Barragem nos Alpes Austríacos
Os Austríacos, à semelhança dos suíços, têm a sorte de parte dos Alpes estarem no seu país e dispõem de recursos hidroeléctricos que lhes garante a maior parte das suas necessidades de electricidade. Mas ao contrário dos Helvéticos, a Áustria é o país do mundo com maior fobia anti-nuclear. A ponto de ainda recentemente se terem manifestado e exigido que a partir de 2015 seja proibida importação de energia atómica, nomeadamente da vizinha República Checa. Como se fosse possível saber com exactidão a fonte de todos os kW que percorrem a rede.

Como a Áustria não tem excedente produtivo adquire energia nuclear a Temelín nas horas de vazio para depois vender aos alemães nas horas caras de pico fazendo uso da capacidade de bombagem das suas barragens.

Os alemães e os austríacos parecem ter esquecido a luta que vêm travando há mais dez anos para fechar a central nuclear de Temelín sob o pretexto da falta de segurança. Temelín começou a ser construída na década de 1980 e está equipada com tecnologia russa.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

TGV, ou é ou não é

Destino final - Poceirão
Diz o Público que o governo, pressionado por Bruxelas e Madrid, admite avançar com o TGV mas só com uma linha. Eu digo, vamos ser alvo de chacota internacional. Pela linha única? Claro que não. Pelo facto da linha terminar no Poceirão. A menos que o governo aprove simultaneamente a ligação Lisboa-Poceirão, que pode obrigar a uma terceira via sobre o Tejo na região de Lisboa, a ligação da margem sul ao Caia é idiota.

As experiências do comboio de alta velocidade em França, Japão, Alemanha, Espanha ou, mais recentemente, na China têm mostrado que, em distâncias até aos 750 km, a ferrovia de alta velocidade, ou high speed rail (HSR) pode ser competitiva face ao transporte aéreo. A China até inaugurou recentemente a linha Pequim-Xangai com 1.300 km de distância. Apesar de circular a cerca de 1/3 da velocidade de uma aeronave de passageiros, parte normalmente do centro das cidades e o processo de embarque é mais rápido o que se traduz em viagens de igual duração. E o comboio tem as vantagens de não restringir tanto peso das bagagens, oferecer mais conforto e menor impacte ambiental.

Claro que é necessário que haja procura para viabilizar o investimento e evitar casos como os que já aconteceram em Espanha com o encerramento de linhas de alta velocidade por falta de passageiros. Esse é um dos aspectos que se aponta contra o projecto entre as capitais ibéricas mas sobre o qual não me debrucei pelo que não posso comentar. Agora, aquilo que é óbvio é que uma linha de alta velocidade Poceirão-Madrid será uma risada franca. Ainda para mais quando Lisboa tem um dos aeroportos europeus mais próximos do centro da cidade. Quem é que se vai dar ao trabalho de ir ao Poceirão apanhar o TGV para Madrid? Só os mais ferrenhos entusiastas do transporte ferroviário!

Apeser de tudo o Ministro Santos Pereira revela bom senso quando insiste na prioridade que pretende dar ao transporte internacional ferroviário de mercadorias.

Corte nos incentivos potencia competitividade eólica

Pode parecer contraditório, quase irónico, mas o corte nos incentivos à energia eólica poderá tornar esta forma primária de energia eléctrica economicamente sustentável no futuro. E quando digo economicamente sustentável refiro-me evidentemente como forma minoritária de complemento do mix produtivo, não como forma de produção de electricidade de base como advogam políticos desconhecedores e irresponsáveis.

A manutenção de subsídios à produção eólica, muitas vezes desproporcionadamente elevados como acontece em Portugal, mantém o sector a viver numa prosperidade artificial. Esta realidade fabricada castra o seu desenvolvimento equilibrado. Os produtores de turbinas não se sentem impelidos a procurar maior eficiência e competitividade dado que a manutenção de mercado consumidor de equipamentos, por via das tarifas feed-in, tem garantido o escoamento de toda a produção.

A recente crise mundial veio abrandar o entusiasmo eólico. Por um lado os países começaram a atribuir menos licenças, por outro os potenciais candidatos à exploração de parques sentem maior insegurança para investir dada a imprevisibilidade da manutenção dos incentivos essenciais à viabilidade dos projectos. O resultado foi, como reconhece a EDP Renováveis, um decréscimo de 25% no preço das turbinas eólicas no último ano. E como afirma Rui Teixeira, tal deveu-se essencialmente à quebra no ritmo de venda de turbinas.

A produção de energia eólica praticamente não tem custos marginais em virtude do seu combustível ser gratuito. Pode-se afirmar, com uma imprecisão aceitável, que o decréscimo do preço do equipamento resulta numa diminuição equivalente do custo da electricidade produzida. Até há pouco tempo os parques eólicos conseguiam gerar electricidade com um custo (fortemente influenciado pelo factor de capacidade) entre €65 e €70 por MWh. Evidência disso é o facto da tarifa feed-in nacional estipulada (mas não cumprida) para parques eólicos estar fixada em €75/MWh durante 15 anos (um parque eólico dura entre 15 e 20 anos). Com uma redução de 1/4 no preço das turbinas estas conseguem produzir electricidade entre os €48 e os €53/MWh.

Se tomarmos o exemplo ibérico isso torna esta forma de electricidade quase competitiva se tivermos em conta o preço médio (€46 em 2010). Na prática, as turbinas eólicas "concorrem" por um preço inferior ao preço médio de mercado por duas razões. Estatisticamente, geram mais electricidade em horas de vazio. E, quando em excesso e devido à sua incontrolabilidade, fazem baixar o preço da electricidade quando mais fornecem por excesso de oferta. Seja como for é inegável que a energia eólica está mais competitiva do que há 12 meses atrás.

Um bom exemplo foi divulgado pelo blog a ciência não é neutra. Foram recentemente leiloadas licenças de exploração de energia eólica no Brasil por uns surpreendentes €41/MWh. Como a energia eólica está a dar os primeiros passos no Brasil estão a leiloar-se as melhores localizações, nomeadamente no estado do Ceará, onde o factor de capacidade chega a atingir uns excelentes 34%. Voltando a assumir ausência de custos marginais e proporção directa nos custos produtivos podemos comparar a eólica brasileira e ibérica. Se os novos parques do nordeste brasileiro tivessem um factor de capacidade igual aos "nossos" (28% em 2010 usando dados oficiais) o custo unitário da electricidade subiria para €50/MWh que fica dentro de intervalo que determinei atrás.

A recente e franca descida do preço de venda das turbinas coloca a questão da saúde financeira dos fabricantes em países de mão-de-obra cara. Apesar dos impedimentos físicos, é provável que se assista ao reforço da migração da produção de turbinas para países com custos de produção mais reduzidos tal como está a acontecer na indústria de painéis solares fotovoltaicos. Esse é um problema que não afecta Portugal dado que não existe indústria nacional relevante de turbinas eólicas. Estrategicamente o país só tem a ganhar em cortar progressivamente os subsídios à produção eólica (e também solar). Diminui os custos directos na aquisição da energia eólica e força as empresas que se queiram implantar a procurar maior eficiência e fornecedores de equipamento mais barato.

Obviamente que esta não é a visão das empresas que exploram a energia renovável em Portugal habituadas que estão ao regime singular de que têm desfrutado. Como salienta o Ecotretas, a indefinição relativamente ao futuro das tarifas feed-in está a deixar o sector bastante nervoso e tem travado o surgimento de mais potência renovável em Portugal. 

Claro que a (maior) competitividade do preço da energia eólica só se atinge nos moldes descritos anteriormente se o seu peso no mix de produção permitir o consumo imediato de toda a electricidade produzida. Esse equilíbrio já foi amplamente ultrapassado em Portugal e na Península Ibérica. Isso obriga a haver centrais a gás natural a trabalhar parcialmente e de forma ineficiente para compensar a ausência de vento e barragens com bombagem para armazenar excessos. Estes equipamentos suplementares fazem disparar o preço da energia eólica e tornam a sua competitividade, mesmo no longo prazo, uma miragem só visível para pessoas desinformadas ou desonestas.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Objectivo do Luz Ligada

Iniciei este blog no passado dia 19 de Junho, há precisamente 3 meses. E comecei-o especificamente para tentar mostrar da melhor forma que conseguisse a situação explosiva que se está a criar no sector eléctrico português. A política energética nacional dos últimos 15 anos é provavelmente um dos mais ruinosos programas governativos a que o país assistiu durante a sua jovem democracia. Os portugueses aceitaram este crime público de forma inconsciente e silenciosa graças à propaganda oficial excelentemente arquitectada e à contenção, artificialmente legislada, do preço da electricidade.

Não reclamo nenhuma capacidade especial de previsão sobre esta matéria. Estava à vista de quem quisesse ver. Justiça seja feita, a ERSE já vinha a alertar para a insustentabilidade da situação há alguns anos. E ainda há poucos dias o Presidente da Endesa Portugal não se mostrou nada surpreendido com os desenvolvimentos no sector no decurso deste verão.

O paradigma tinha os dias contados e eu queria que quando chegasse o momento mais portugueses tivessem acordado da letargia e soubessem identificar as verdadeiras causas do problema. Porém, nem nas minhas previsões mais optimista pensei que bastariam 3 meses para o monstro começar a emergir. O meu agradecimento público à troika por ter vindo colocar barreiras no caminho irresponsável que está a ser trilhado.

Não tenhamos ilusões, por mais rapidamente que se reverta o sentido, e até agora não há nenhuma evidência de haver vontade política para isso, a escalada do preço da electricidade, como ilustrado neste cartoon do Expresso, é inevitável. Mantendo a metáfora montanhista espero que ele nunca entre na "zona da morte" e asfixie perigosamente a economia portuguesa.

No próximo mês é garantida a subida do preço da electricidade em virtude do aumento do IVA e em 2012 nova subida irá reflectir a desregulamentação das tarifas e a amortização do défice que se situa nos €3,2 mil milhões. Estas subidas irão criar convulsões sociais e para o evitar, quer o governo quer a oposição, andam a correr atrás do prejuízo negociando ou propondo reduções nos subsídios pagos aos produtores em regime especial (PRE).

Claro que a diminuição dos subsídios PRE (se conseguida) irá estancar temporariamente a ferida mas não a vai curar. Se a aposta em renováveis alternativas continuar em Portugal, como parece ser o caso, os custos associados vão avolumar-se. Ainda por cima se, de agora em diante, a aposta em Portugal (como na Europa) forem as ainda mais caras energias solar e eólica offshore. Some-se, nos próximos anos, as novas barragens com um modelo de negócio lesivo para os consumidores que vão dar o seu contributo para inquinar o preço da electricidade.

As consequências nefastas da política energética nacional são de tal modo tenticulares e duradouras que me parece que devia havia lugar, no mínimo, a consequências políticas para os seus promotores. Nomeadamente para o Ex-Primeiro-Ministro José Sócrates ou o seu Secretário de Estado para a energia e inovação Carlos Zorrinho. Mas o primeiro começa já a preparar, na rectaguarda, a sua futura candidatura presidencial e o segundo foi recentemente eleito líder parlamentar do PS

A subida do preço da electricidade tem um lado positivo que é destruir mitos amplamente difundidos pela máquina propagandística, como a diminuição da importação de petróleo através das renováveis de produção eléctrica barata. Ora, nem a importação de petróleo diminuiu com o crescimento de produção renovável nem a electricidade ficou menos dispendiosa.

O fim destas ideias pré-concebidas abre a porta para a introdução da energia nuclear no nosso país, a única capaz de fornecer electricidade abundante, controlável, limpa, barata e não dependente de combustíveis fósseis. Como defendi no primeiro parágrafo deste post creio que a maioria dos portugueses não são anti-nuclear, são Nimby. E a posição Nimby dos portugueses face ao nuclear mudaria radicalmente, estou convencido, se lhes fosse explicado que as energias renováveis a produzir electricidade de base não custam apenas mais 5% do que a nuclear.

Esse é um trabalho que continuarei a fazer neste blog.

domingo, 18 de setembro de 2011

A parcialidade anti-nuclear do jornalismo português

A postura anti-nuclear é a norma na comunicação social portuguesa. já o tenho mencionado em alguns posts. Se alguns orgãos a ignoram outros remetem-na à mais grosseira discriminação. O Público é um bom exemplo de jornalismo desinformado e enganador relativamente à energia nuclear. Os exemplos são inúmeros. Em 2011, este jornal diário, através do seu caderno Ecosfera, tem divulgado todo o lixo intelectual proferido pelo anterior Primeiro-Ministro do Japão Naoto Kan sobre o nuclear mas omitiu escandalosamente a decisão inevitável do actual PM de dar luz verde à reactivação do parque de centrais nucleares nipónicas.

Este fim de semana o Público deu-nos mais uma pérola de jornalismo tendencioso. A manifestação de algumas pessoas, ditas ambientalistas, a reclamar o encerramento da central nuclear de Almaraz foi devidamente destacada. Já sobre o protesto na China contra a poluição provocada por uma fábrica de painéis solar fotovoltaicos nem uma palavra.

Nem é preciso mencionar a imprecisão técnica dos textos da maioria destas notícias ou o alarmismo dos títulos. Só como exemplo, também este fim de semana, o Público noticia que a Siemens abandona a energia nuclear como se a decisão tivesse algum carácter ideológico. Mais, na legenda da fotografia que acompanha o texto escreve "A Siemens quer tornar-se um grupo pioneiro das energias verdes". No entanto, no corpo da notícia cita o Director-executivo da multinacional alemã afirma:
 “No futuro vamos continuar a fornecer peças convencionais, como as turbinas. Isso significa que nos vamos concentrar em tecnologias que não sirvam só para o nuclear mas que também sejam necessárias em centrais a gás ou a carvão”
Esta decisão tem mais que ver com a vontade alemã de substituir centrais nucleares por termoeléctricas a carvão e gás do que outra razão qualquer.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Postes de electricidade atractivos

O Royal Institute of British Architects lançou um concurso com patrocínio estatal para redesenhar o clássico poste de electricidade, uma forma que não tem sofrido grandes evoluções. Existem várias propostas sendo a minha favorita a da foto anexa que faz lembrar a vela de um veleiro e tem qualquer coisa de Santiago Calatrava no seu design.
Faz todo o sentido modernizar e tornar as linhas eléctricas visualmente mais atractivas. Se os objectivos de integração de energia renovável na Europa avançarem o Velho Continente será cravejado de mais postes eléctricos e quanto mais apelativos eles forem mais fácil será impor a sua presença às populações. Os alemães serão excelentes clientes dado que terão de transportar a energia eólica offshore do Mar do Norte e a solar fotovoltaica produzida na Grécia.

ERSE quer subir preço da electricidade

A ERSE pretende aumentar em 30% o preço da electricidade para os consumidores domésticos no próximo ano. A proposta não constitui surpresa e já anteriormente tinha referido que seria uma consequência natural das políticas seguidas nos últimos quinze anos em Portugal. E convém esclarecer que este aumento proposto exclui o aumento do IVA anunciado recentemente e que entra em vigor já em Outubro.

Com este cenário seria oportuno a comunicação social (dado que não é de esperar que a classe política o faça) fazer um esforço para explicar às pessoas, anestesiadas com propaganda renovável, as razões para esta inevitável escalada do preço da electricidade. Era útil debater-se seriamente a relevância das novas barragens, o custo que elas irão trazer nas próximas décadas e parar projectos se ainda for possível. Era útil delinear uma política energética de médio/longo prazo coerente, sustentável e supra ciclos eleitorais que não deixe de fora o nuclear. E, no imediato, reduzir a subsidiação PRE (sem discriminar nenhuma fonte) tal como imposto pela troika e já debatido no seio dos partidos.

EDIT: A ERSE desmentiu esta notícia avançada pelo Diário Económico. Contudo, é inevitável a subida do preço da electricidade em 2012 pelas razões que tenho exposto neste blog.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Modelo de negócio das turbinas reversíveis


Barragem do Alqueva

Se as novas barragens com capacidade de bombagem a construir em Portugal vão custar cerca de €5 mil milhões e não vão gerar electricidade apreciável a pergunta que se coloca naturalmente é, qual o seu modelo de negócio?

A viabilidade económica dos novos projectos está naturalmente na bombagem. As barragens vão turbinar a água da albufeira nas horas de pico e preço elevado e bombar a água de volta nas horas de vazio e preço mais reduzido. E o preço de revenda terá de ser necessariamente 1/3 superior ao da compra para compensar a perda de 1/4 no processo de bombagem. O modelo não parece ser difícil de concretizar.

A bombagem será feita, sobretudo, consumindo energia eólica e as turbinas têm o dom de produzir quando menos é preciso (Inverno e noites) e portanto a preço mais baixo. Os dias 6 e 8 de Janeiro deste ano são um bom exemplo. A maioria da exportação foi feita a preços inferiores a €10/MWh e a maior parte das importações custou acima de €40/MWh. Usando estes valores como referência pode-se dizer que a concessionária da barragem compra o MWh a €13,3 (10/0,75) e revende a €40.

Infelizmente, para os consumidores o custo não é proporcional. O MWh eólico comprado pela barragem para bombagem era pago, nos dias de hoje, a mais de €90 através de tarifas feed-in. No dia seguinte é colocado no mercado a €40. Quando chegasse ao consumidor o preço seria, no Inverno passado, de €120 (90-10+40).