Iniciei este blog no passado dia 19 de Junho, há precisamente 3 meses. E comecei-o especificamente para tentar mostrar da melhor forma que conseguisse a situação explosiva que se está a criar no sector eléctrico português. A política energética nacional dos últimos 15 anos é provavelmente um dos mais ruinosos programas governativos a que o país assistiu durante a sua jovem democracia. Os portugueses aceitaram este crime público de forma inconsciente e silenciosa graças à propaganda oficial excelentemente arquitectada e à contenção, artificialmente legislada, do preço da electricidade.
Não reclamo nenhuma capacidade especial de previsão sobre esta matéria. Estava à vista de quem quisesse ver. Justiça seja feita, a ERSE já vinha a alertar para a insustentabilidade da situação há alguns anos. E ainda há poucos dias o
Presidente da Endesa Portugal não se mostrou nada surpreendido com os desenvolvimentos no sector no decurso deste verão.
O paradigma tinha os dias contados e eu queria que quando chegasse o momento mais portugueses tivessem acordado da letargia e soubessem identificar as verdadeiras causas do problema. Porém, nem nas minhas previsões mais optimista pensei que bastariam 3 meses para o monstro começar a emergir. O meu
agradecimento público à troika por ter vindo colocar barreiras no caminho irresponsável que está a ser trilhado.
Não tenhamos ilusões, por mais rapidamente que se reverta o sentido, e até agora não há nenhuma evidência de haver vontade política para isso, a escalada do preço da electricidade, como ilustrado neste cartoon do Expresso, é inevitável. Mantendo a metáfora montanhista espero que ele nunca entre na "
zona da morte" e asfixie perigosamente a economia portuguesa.
No próximo mês é garantida a subida do preço da electricidade em
virtude do aumento do IVA e em 2012 nova subida irá reflectir a desregulamentação das tarifas e a amortização do défice que se situa nos
€3,2 mil milhões. Estas subidas irão criar convulsões sociais e para o evitar, quer o
governo quer a
oposição, andam a correr atrás do prejuízo negociando ou propondo reduções nos subsídios pagos aos produtores em regime especial (PRE).
Claro que a diminuição dos subsídios PRE (se conseguida) irá estancar temporariamente a ferida mas não a vai curar. Se a aposta em renováveis alternativas continuar em Portugal, como parece ser o caso, os custos associados vão avolumar-se. Ainda por cima se, de agora em diante, a aposta em Portugal (como na Europa) forem as ainda mais caras energias solar e
eólica offshore. Some-se, nos próximos anos, as novas barragens com um
modelo de negócio lesivo para os consumidores que vão dar o seu contributo para inquinar o preço da electricidade.
A subida do preço da electricidade tem um lado positivo que é destruir mitos amplamente difundidos pela máquina propagandística, como a diminuição da importação de petróleo através das renováveis de produção eléctrica barata. Ora, nem a importação de petróleo diminuiu com o crescimento de produção renovável nem a electricidade ficou menos dispendiosa.
O fim destas ideias pré-concebidas abre a porta para a introdução da energia nuclear no nosso país, a única capaz de fornecer electricidade abundante, controlável, limpa, barata e não dependente de combustíveis fósseis. Como defendi no
primeiro parágrafo deste post creio que a maioria dos portugueses não são anti-nuclear, são Nimby. E a posição Nimby dos portugueses face ao nuclear mudaria radicalmente, estou convencido, se lhes fosse explicado que as energias renováveis a produzir electricidade de base
não custam apenas mais 5% do que a nuclear.
Esse é um trabalho que continuarei a fazer neste blog.