quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Sobre a geração eléctrica açoriana

Central geotérmica da Ribeira - São Miguel
Já me têm perguntado e pedido para comentar sobre a produção eléctrica nas regiões autónomas dos Açores e Madeira. Tenho abordado mais a perspectiva mundial e o panorama de Portugal continental mas faço um pequeno comentário sem grande conhecimento do caso açoriano devo admitir.

Os Açores têm o mesmo problema, à escala, da Austrália e do Japão (dois casos que já comentei no blog). Como se tratam de ilhas não têm possibilidade de equilibrar a intermitência das renováveis solar e eólica com importação/exportação. A integração destas renováveis está por isso mais limitada. Por outro lado têm a sorte de ter potencial geotérmico. Depois da geotérmica e da hídrica (sinceramente não sei até que ponto o potencial de ambas está explorado), biomassa e solar são melhores do que a eólica pois a sua produção está mais ajustada ao consumo. Marés ainda é uma incógnita.

Mas a grande questão é o facto de 70% da electricidade da região vir de queima de derivados de crude o que devia diminuir a bem do ambiente e do custo futuro. Tal como em todo o mundo a energia de base devia originar primordialmente em centrais nucleares. Por exemplo, uma hipótese seria equacionar, nas ilhas de maior consumo, mini-centrais nucleares flutuantes como a que mencionei aqui. E terá de haver sempre disponibilidade térmica para assegurar pontas de consumo.

Em resumo, a diversificação de fontes de electricidade na Região Autónoma dos Açores é possível e desejável. Dada a latitude dos Açores a solar tem potencial. Dada a exiguidade de espaço nas ilhas, impacte visual e custo a aposta tem de ser bem ponderada e comedida. Como forma de proteger o preço da electricidade da flutuação dos preços do crude e diminuir a poluição provocada pela geração eléctrica, a prioridade devia ser dada a instalar capacidade nuclear para assegurar a base do diagrama de produção/consumo.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Dinamarca com 100% de energia renovável em 2050?


Há uns tempos a dinamarquesa Katherine Richardson veio a Portugal dizer que não sabia como mas que era imperioso que o paradigma energético mundial se afastasse dos combustíveis fósseis.

Na passada sexta-feira foi a vez de o ministro dinamarquês do Clima, Martin Lidegaard, afirmar que a Dinamarca, que tem um dos sectores eléctricos mais poluidores do mundo, vai depender integralmente de fontes renováveis para a produção de electricidade e aquecimento comunitário em 2035. E em 2050 toda a energia consumida na Dinamarca virá de fonte renovável.

À semelhança de Richarson o ministro não tem a menor ideia de como irá ser feito, apenas descansou os conterrâneos ao assegurar na página oficial do ministério que:

Creating green economic growth will secure Denmark’s future. Viewed in narrow terms, we can expect to pay more for energy, but this has to be seen as a form of insurance. These are costly investments, but compared with the cost of what we’re insuring ourselves against, the amount is minimal. It’s a good investment if energy prices increase more than we forecast – and there is a significant risk of that happening.
Na conferência de imprensa em que apresentou o plano Lidegaard deixou resvalar, ainda que prudentemente, que o plano poderá ter consequências nefastas no emprego:
[The plan] should not have an affect on the number of people employed by Danish businesses (...) I can guarantee that we have put a lot of effort into the plan so I’m quite sure that won’t be the case. But it requires co-operation from the businesses.
Como escrevi aqui a Dinamarca não consegue consumir nem 25% de energia renovável quanto mais 100%. Para atingir esse objectivo os dinamarqueses vão precisar de tecnologia que ainda nem existe.

Apesar de possuirem eficientes centrais termoeléctricas de co-geração o excesso de eólica torna a energia eléctrica dinamarquesa a mais cara do mundo. Sem essas centrais é preciso imaginação para prever onde o preço da electricidade dinamarquesa irá parar.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Os empregos verdes...

... não estão aqui como sonhou a Administração Obama mas no petróleo e no gás como mostra o Wall Street Journal neste artigo e do qual retiro alguns parágrafos mais interessantes:
So President Obama was right all along. Domestic energy production really is a path to prosperity and new job creation. His mistake was predicting that those new jobs would be "green," when the real employment boom is taking place in oil and gas.

While Washington has tried to force-feed renewable energy with tens of billions in special subsidies, oil and gas production has boomed thanks to private investment. And while renewable technology breakthroughs never seem to arrive, horizontal drilling and hydraulic fracturing have revolutionized oil and gas extraction—with no Energy Department loan guarantees needed.

The oil and gas rush has led to a jobs boom. North Dakota has the nation's lowest jobless rate, at 3.5%, and the state now has some 200 rigs pumping 440,000 barrels of oil a day, four times the amount in 2006. The state reports more than 16,000 current job openings, and places like Williston have become meccas for workers seeking jobs that often pay more than $100,000 a year.
Shale gas - North Dakota

Se alguém tem dúvidas que os EUA não vão ratificar prolongamento do Protocolo de Kyoto em Durban deve perde-las depois de ler este artigo.

Se alguém tem dúvidas que o gás natural será a fonte de energia eléctrica a crescer mais no mix global nas próximas décadas também terá de rever as suas ideias.

Projecto Windfloat é português?

Windfloat - eólica offshore flutuante
Noticia o jornal Expresso que o projecto de eólica offshore nacional, Windfloatestá a ser transportado para alto mar. Afirma o jornalista que assinou este artigo que se trata de um projecto único no mundo feito em Portugal.

O projecto Windfloat é propriedade intelectual de uma empresa americana, Principle Power, e o protótipo que ficará instalado ao largo da Póvoa do Varzim usa uma turbina Vestas dinamarquesa. A integração portuguesa no projecto vem da metalomecânica A. Silva Matos que, acredito, se dedicou a fabricar os flutuadores. Só que os flutuadores desta estrutura de dezenas de toneladas dificilmente poderão ser considerados inovadores.

Pelo menos quando comparado com com outros projectos de estruturas a flutuar em alto mar caso da Perdido instalada no Golfo do México. A Perdido é a plataforma petrolífera que explora a mais elevada profundidade (2,430m de profundidade de mar) e que pesa, não dezenas de toneladas, mas dezenas de milhares de toneladas.

Perdido - Plataforma petrolífera flutuante de alto mar
Concordo que o fabrico de flutuadores para turbinas eólicas offshore abre perspectivas de negócio para metalomecânicas e estaleiros nacionais mas dificilmente se poderá considerar este nicho um negócio de elevado valor acrescentado. Se Portugal quiser reclamar uma fatia deste mercado terá de ser concorrencial em preço, antes de tudo.

Esperemos é que a desenvolver-se seja acima de tudo para exportação, não só para equilibrar a balança comercial portuguesa, mas para não encarecer ainda mais o custo da electricidade do país.

Claro que essa não é a versão oficial que, naturalmente, espera um contributo notável da eólica offshore para a economia portuguesa.

Outra ideia que está a arrancar neste momento, pelo menos na Rússia, é a construção de centrais nucleares flutuantes de baixa potência como é o caso da Akademik Lomonosov que tem a capacidade para gerar 70MW de electricidade ou 300MW de aquecimento.

A Rosatom, a empresa estatal russa para o sector nuclear, antevê procura futura para este tipo de estrutura, seja para indústrias ou pequenas localidades situadas em zonas costeiras remotas, seja para países sub-desenvolvidos com necessidades limitadas de energia eléctrica.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Custos ambientais das centrais termoeléctricas calculados

Indústrias que fazem 50% da poluição (com CO2) - EEA
Revela o jornal Público que o relatório da European Environment Agency (EEA) intitulado "Revealing the costs of air pollution from industrial facilities in Europe" (aqui) afirma que os custos ambientais decorrentes das actividades industriais na Europa cifraram-se, em 2009, entre os 102 e 169 mil milhões de euros.

Em Portugal, os custos variaram entre os 1432 e os 1986 milhões de euros, se estiverem incluídas as emissões de dióxido de carbono (CO2), ou entre 332 e 886 milhões de euros se ficarem de fora essas emissões.

Sectores mais poluidores (sem CO2) - EEA
Três quartos dos custos totais foram causados pela emissão de apenas 622 unidades fabris, ou seja, 6% do total. O sector que mais polui é evidentemente o sector eléctrico como é patente no diagrama ao lado que não inclui o CO2 que não é um gás poluente.

Voltando a excluir o CO2, segundo o relatório, o Top20 das unidades industriais mais poluidoras da Europa é preenchido por centrais termoeléctricas como se pode ver no quadro abaixo.

Da lista completa de 622 indústrias, 12 estão em Portugal. As indústrias que mais custos causaram foram a Central Termoeléctrica de Sines (entre os 296 e os 357 milhões de euros), a Central Termoeléctrica do Pego (entre 102 e 114 milhões de euros), a Refinaria de Sines (entre os 96 e os 175 milhões de euros) e a Central Termoeléctrica do Carregado (entre 73 e 76 milhões de euros). Como se pode ver no mapa, a Central de Sines está no quadro das indústrias que contribuem para 50% da poluição industrial europeia. 

Tentando ser o mais justo possível com estes dados vou admitir que dos €332M de custos ambientais em Portugal sem CO2, €250M são responsabilidade das termoeléctricas ordinárias.

Diagrama produção eléctrica por fonte (REN)
2009 foi um ano de hidraulicidade média (ver diagramas ao lado) e portanto com uma produção renovável e não emissora de poluentes média. Creio por isso que se pode admitir que foi um ano típico. A produção termoeléctrica ordinária neste ano foi de 23.708 GWh (ver abaixo).

Um reactor nuclear de 1.650MW de potência com uma produtividade de 0,85 produziria cerca de metade deste valor (12.286 GWh) o que significa que permitiria uma poupança de €150M/ano em custos ambientais directos (talvez mais porque acabava produção com carvão) já que tem um impacte ambiental praticamente nulo. Como custaria entre 5 e 7 mil milhões de euros estaria pago ao fim de 30/45 anos só em poupanças ambientais directas (contra um tempo de vida de 60 anos). Podia-se acrescentar os custos indirectos da obtenção e transporte dos combustíveis fósseis.

Produção eléctrica por fonte (REN)
E a alternativa renovável? Prescindir de 24.000 GWh de produção térmica ordinária com PRE renovável seria praticamente impossível do ponto de vista técnico como analisei aqui, para além de ruinoso do ponto de vista financeiro. Também não podemos contar com as novas barragens dado que estas vão acrescentar apenas 3,3% de capacidade de produção líquida ao parque electroprodutor nacional.

A troca de produção a carvão por produção a gás diminuiria a factura ambiental mais de metade do seu valor. Mas as únicas formas de reduzir efectivamente a poluição no sector eléctrico é substituir produção térmica por nuclear ou hídrica. A produção hídrica tem os limites impostos pela natureza para além de outros impactes ambientais que importa contabilizar.

A União Europeia acha que existem mais duas vias, a aplicação de Carbon, Capture and Storage (CCS) às centrais térmicas e a eficiência energética. A primeira é uma delírio sem razoabilidade técnica nem interesse prático como reforçarei no próximo post deste blog. A segunda tem limites que se ultrapassados deixa de ser eficiência energética e passa a ser não produção.

Tenho defendido que seja cobrado às centrais termoeléctricas europeias taxas que traduzam os seus reais custos para o ambiente e saúde. Desta maneira poder-se-á evidenciar o mérito da produção nuclear e sonhar em viabilizar economicamente a produção eólica e solar não subsidiada.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

NS Lenin - quebra-gelo nuclear

NS Lenin - actualmente um museu
Embora tenha reactores nucleares este post não está relacionado com energia eléctrica. Mas não é menos interessante.

Há poucos dias vi o episódio da série Big, Bigger, Biggest da National Geographic Television sobre os navios quebra-gelo. Aconselho esta excelente série e como cada episódio se repete várias vezes é provável que volte a dar. Um dos navios citados foi o quebra-gelo NS Lenin lançado ao mar em Setembro de 1959 e que é actualmente um museu. A antiga URSS sempre teve uma tradição de construção de quebra-gelos que servem para manter as rotas marítimas junto ao Ártico navegáveis todo o ano. Como por aquelas paragens não abundam postos de combustível foi tomada a decisão, em 1953, de equipar os quebra-gelo com propulsão nuclear de forma a dar a estes navios autonomias superiores a um mês. O primeiro destes quebra-gelo nucleares foi o NS Lenin.

O NS Lenin foi simultaneamente o primeiro navio e a primeira embarcação civil movida a energia nuclear. Possuia três reactores nucleares que lhe permitiam permanecer 1 ano no mar sem reabastecimento. Mais detalhes sobre a sua história encontra-se aqui, nomeadamente dois eventuais acidentes nucleares os quais, naturalmente, a URSS ocultou durante a Guerra Fria.

A Rússia mantém 6 quebra-gelos operacionais e existe vontade de construir outros três. A Rússia é o único país do mundo que tem navios quebra-gelo atómicos. 

Ministro do Ambiente da Áustria não quer shale gas

Reservas de shale gas na Europa
Diz o ministro austríaco do Ambiente, Nikolaus Berlakovich, que é totalmente contra a exploração de gás xistoso. Talvez seja fácil para o ministro de um país rico em recursos hidroeléctricos recusar assim o shale mas esse é um luxo a que, por exemplo, a Polónia não se pode dar. Como já mencionei noutro post a França também se mostra contra a exploração de shale que me parece ser uma possibilidade viabilizada apenas por este país ter um parque nuclear tão significativo.

Contudo, numa altura de perda de competitivdade da Europa face ao resto do mundo parece-me pouco estratégico países europeus recusarem a exploração de recursos naturais que são a base do enriquecimento de potências emergentes como a Rússia e o Brasil.

Mais, a unidade europeia também deveria passar pela vontade de se assegurar, no conjunto da UE, a mais elevada segurança energética que for possível.

Embora não haja na Europa a experiência que os EUA já acumulam, a exploração de shale gas pode manter-se dentro de níveis aceitáveis de risco

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Mobi.e sem freguesia

Em breve coberto de graffitis
Via Correio da Manhã, o projecto europeu Mobile Energy Resoures for Grids of Electricity (MERGE) prevê que, em 2020, só 2% dos veículos a circular em Portugal sejam eléctricos. Um resultado que não surpreende ninguém com bom senso e sobre o qual já tinha escrito no blog. Outra evidência revelada pelo estudo é a de que "nos próximos anos, o carregamento das baterias será feito preferencialmente em casa dos consumidores ou em áreas privadas, como é o caso de centros comercial e de parques de estacionamento privados".

Temos de perguntar o que vai acontecer aos postos Mobi.e que têm sido plantados um pouco por todas as cidades, muitos deles em zonas privilegiadas e com escassez de estacionamento. Como é de se prever as máquinas vão ser deixadas ao abandono sujeitas ao vandalismo e à abrasão do tempo (na verdade hoje em dia uma boa percentagem de posts já não funciona). Os lugares vão passar a ser ocupados por carros convencionais, os únicos que precisam deles.

Mais do que os poucos milhões de euros que o Mobi.e já custou o mais gritante neste exemplo é a forma como cenários irreais norteiam muitas políticas nacionais.

Beco sem saída italiano

Porto Tolle odiada pelo Greenpeace
De acordo com a Unione Petrolifera (UP) italiana a factura com importação de combustíveis fósseis do país deverá aumentar cerca de €9 mil milhões passando dos €53,9 mil milhões em 2010 para os €63 mil milhões no final deste ano. Itália tem uma forte dependência de combustíveis fósseis, seja nos transportes seja no sector eléctrico. Parcialmente responsável por isso é a moratória que baniu a energia nuclear do país no final dos anos 80 do século anterior e que os italianos decidiram prolongar em Junho via referendo.

Como forma de combater essa dependência Itália assinou recentemente um acordo com a Sérvia no sentido de investir €2 mil milhões na construção de barragens neste país. Itália já importa cerca de 16% da sua energia eléctrica de França.

Com a terceira maior dívida pública do mundo depois dos EUA e Japão a Itália precisa de produzir energia eléctrica em quantidade suficiente e custo competitivo. Para um país que tem a décima economia do mundo não basta um programa nacional para converter centrais a fuel para carvão como a de Porto Tolle cuja conversão foi vetada por ambientalistas. Itália precisa de voltar a ter centrais nucleares.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Compensação alargada às hidroeléctricas espanholas

Antes de fechar a porta pela última vez o ex-ministro espanhol da Indústria, Miguel Sebastián, decidiu dar ouvidos ao pedido da Iberdrola de incluir as barragens no esquema de compensação de lucro cessante de fontes previsíveis para permitir a integração de fontes intermitentes. Por cá as térmicas estão abrangidas pelos CMECs que têm a mesma lógica de compensação.

Além do alargamento às hodroelétricas a compensação foi nivelada nos €5.750/MW para todas as fontes face aos actuais €3.150 euros/MW para o gás e €20.750 euros/MW para o carvão, o que levantou protestos mas que, confesso, não conseguir opinar sobre a justiça.

Já sobre a possibilidade de incluir as centrais nucleares no esquema, como abrodado no jornal, não me parece razoável dado que elas, ao contrário das supracitadas, não têm capacidade de variar a potência para compensar entrada de renováveis. Assim, não me parece lógico beneficiarem de uma remuneração para um papel que não estão habilitadas a desempenhar.

Esta compensação é um custo gerado pelo excesso de capacidade renovável intermitente instalada em Espanha.

Depois da Argentina o Brasil

Central de Angra com dois reactores mais um em construção
Alguns países europeus andam entretidos a empobrecer com ideias mirabolantes como o Carbon Capture and Storage (CCS). Mas o resto do mundo, principalmente aquele que cresce economicamente, está convertido à energia atómica. Na América do Sul, para além da Argentina, o Brasil pretende reforçar o contributo do nuclear no seu mix produtivo construindo mais oito centrais em adição ao terceiro reactor que tem em construção na central de Angra dos Reis.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Espanha mais perto de relançamento nuclear

Mariano Rajoy
O abaixamento do preço grossista da electricidade sempre que há excesso de produção renovável não é um benefícios destas fontes mas uma desvantagem. Este argumento presente no estudo APREN/Roland Berger é tolo quando aplicado à produção renovável portuguesa mas não tanto se essa produção tiver lugar do outro lado da fronteira. Como o dia 6 de Novembro tão bem ilustra, o excesso de produção renovável espanhol é um prejuízo para os consumidores locais mas uma prenda para os consumidores portugueses. E claro, o inverso é verdade.

O preço da electricidade em Portugal já é o mais elevado da Europa para consumidores domésticos pesando o poder de compra como calculei aqui e o secretário de estado da Energia reconheceu recentemente. Se este preço é de alguma forma financiado pelo excesso de produção renovável espanhola é seguro que se a potência renovável instalada em Espanha for suprimida os consumidores portugueses irão sofrer as consequências.

Como venho defendendo neste blog há algum tempo não tenho dúvidas que Espanha irá trocar potência renovável por nuclear. Com um défice tarifário que ultrapassa os €20.000M parece-me uma dedução inevitável. Espanha precisa urgentemente de energia eléctrica barata e o nuclear será imbatível para o fazer sem o impacto ambiental das termoeléctricas.

A verdade é que em Espanha se têm dado passos extraordinários para que o país volte a apostar no nuclear. O anterior governo socialista em final de funções propôs novas tarifas para a eólica que, se aprovadas, serão a sua morte. Os lideres das eléctricas espanholas querem travar uma terceira vaga renovável agora sob a forma de termosolar concentrada. O maior avanço foi dado ontem com a maioria absoluta conquistada pelo Partido Popular (PP) nas eleições legislativas e a eleição de Mariano Rajoy como no Primeiro-Ministro de Espanha.

Embora durante a campanha Rajoy nunca se tenha comprometido com grandes objectivos, fosse para o sector eléctrico ou outro, é sabido que defensor de um mix energético que inclua centrais nucleares no parque electroprodutor. O programa do PP inclui para o sector eléctrico três medidas que dizem respeito ao nuclear (pág.33):
  1. Reverter a decisão de fechar a central nuclear de Santa Maria de Garona em 2013.
  2. Acordar a extensão até aos 60 anos no funcionamento das centrais nucleares espanholas em troca de uma taxa nuclear. Esta foi a proposta que Merkel fez aos operadores das centrais alemãs em 2010.
  3. Começar a estudar localizações para novas centrais.  
A primeira medida deverá avançar imediatamente e acredito que o acordo para a segunda acontecerá brevemente. A grande dúvida será até que profundidade será levada a terceira. Mesmo que o número de centrais em Espanha não aumente se os novos reactores instalados forem de 1.600MW de potência a capacidade nuclear espanhola aumentará. Mas, como calculei aqui, Espanha poderá ir até 16 reactores de 1.600MW para gerarem cerca de 70% do consumo doméstico. Actualmente Espanha tem 8 reactores com um total de 7.448MW de potência que geram 18% do seu consumo. 

Num cenário assim o diagrama de custos do MIBEL alterar-se-á para prejuízo de Portugal. O mais sensato seria o governo português começar a encetar conversações com o homólogo espanhol para que a aposta nuclear ibérica seja feita de forma concertada e integrada. Portugal só terá a ganhar com isso. Deixar-se ficar para trás será prolongar uma decisão mais ou menos inevitável. Arrastar demasiado esta decisão pode obrigar a construir mais centrais de ciclo combinado que inviabilizem o nuclear em Portugal até 2040. 

domingo, 20 de novembro de 2011

A paridade do fotovoltaico é expectável esta década?

Independentemente de, com a tecnologia disponível actualmente, a energia solar não ser capaz de ser economicamente competitiva devido à necessidade de ter backup térmico a armazenagem tenho algumas dúvidas que o possa vir a ser numa comparação directa kWh-kWh produzido como defendeu recentemente Paul Krugman.

A descida do custo de produção de paneis fotovoltaicos no último ano terá sido mais conduzida pela migração de muita produção para a China e pelo esmagamento da margens dos fabricantes. A diminuição do custo de produção unitário com o aumento da produção também tenderá para zero com a maturidade da tecnologia. 

O último artigo de opinião no Energy Tribune aborda precisamente este tema e dá uma visão que me parece realista e precisa de ter de ser tida em conta. Será interessante perceber se em 2020 a produção eléctrica a partir de fonte solar consegue sobreviver com os cada vez mais diminuídos subsídios que se antevê a que se soma:
(...)even if PV manufacturing costs continue to fall quickly for the next few years, it's less clear that the PV prices paid by project developers, businesses and consumers will follow suit, particularly if the current low margins lead to a global shakeout or consolidation among producers.   

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Alemanha quer limitar instalação de potência solar

De acordo com a Bloomberg o governo alemão na pessoa do ministro da Economia Philipp Roesler pretende que, na próxima revisão do Erneuerbare-Energien-Gesetz (EEG), agendada para Julho de 2012, a potência solar instalada anualmente seja limitada a 1 GW. Só em 2010 a Alemanha incrementou essa potência em 7,4GW. 

Um representante do partido "verde" alemão considera que esta restrição "would push the solar industry out of Germany”. A falência da indústria solar alemã está em marcha não só devido ao abrandamento da procura interna mas em grande parte pela concorrência chinesa.

Já este ano o governo alemão tinha feito uma adenda ao EEG no sentido de limitar a instalação anual a 3,5GW e reduzir no ano seguinte a subvenção solar caso esse valor fosse superado. Como nos primeiros 9 meses deste ano mais 5,2GW de painéis solares foram instalados em Janeiro de 2012 os incentivos terão um corte de 15%.

Este corte progressivo do incentivo ao solar no país do mundo que tem mais potência instalada visa controlar os elevados custos da sua produção. Contudo, e como abordarei brevemente noutro post, a Alemanha planeia construir parques solares na Grécia.

A recente adenda não trouxe apenas cortes, as tarifas FIT para a biomassa subiram 30%, geotérmica 50% e eólica offshore 15%.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

RenewableUK tem humor britânico

O comentário de um leitor neste post sobre o shale gas britânico levou-me a pesquisar sobre um relatório elaborado pela consultora KPMG. O relatório intitulado "Thinking about the Affordable" compara dois cenários de mix energético do Reino Unido em 2020, um com forte presença de fontes renováveis e outro com mais peso de nuclear e gás natural. Infelizmente não encontro o relatório pelo que não posso comentar sobre ele. Consegui arranjar um resumo com dois gráficos que ilustram, na visão da KMPG, a grande diferença entre os dois cenários. Na hipótese renovável o gasto em infraestruturas supera em £34B (biliões anglo-saxónicos) a via térmica/nuclear. No primeiro caso é de £108B e no segundo de £74B. O relatório tira três importantes conclusões:
  1. Economic modelling of different electricity generation scenarios, to calculate the cheapest way of meeting the UK’s 2020 emission reduction targets, has shown that achieving self-imposed renewable energy targets as well as EU carbon reduction targets could cost an additional £34 billion of upfront investment;
  2. Planning constraints and ‘not in my back yard’ public opinion of onshore wind is costing the UK more than £10 billion. Subject to any planning reform, this means  more expensive offshore wind developments are needed;
  3. A heavy weighting of renewable energy in the low carbon generation mix costs an additional £55 more per tonne of CO2 saved than the cheapest scenario.
Não encontrei o relatório da KPMG mas encontrei a resposta da associação inglesa de energia eólica, ondas e marés, RenewableUK. O comentário enferma das habituais lacunas da narrativa pró-renovável.

A RenewableUK prevê que sem renováveis "electricity bills will be pushed up by 52% because of the volatility of fossil fuel prices". Os preços do gás natural, à conta do shale, têm descido em certos mercados, caso do americano. Mesmo a nível global não é provável que o preço do gás natural suba muito nas próximas décadas. Se em solo inglês existirem reservas de gás de xisto como a Cuadrilla admitiu o sector eléctrico britânico dependerá muito menos da importação do que até agora.
O estudo da KPMG refere que com renováveis é preciso investir mais £34B o que só pode surpreender mesmo quem vive iludido com estas fontes. Como tenho repetido inúmeras vezes só renováveis + gás natural (para backup) + barragens ou baterias (para armazenar) pode ser comparado a nuclear + gás natural. Não é difícil perceber que numa solução com elevado peso de renováveis seja preciso investir mais em parque electroprodutor, para além da rede, mesmo que parte dele vá ficar parado boa parte do tempo.

Os argumentos da RenewableUK atingem níveis humorísticos como neste por exemplo:
In Germany, Denmark and Spain, three European countries with a high level of wind power deployment, the low operational cost of wind means that it is the first choice of power source used to meet demand, displacing more expensive options, and thereby actually reducing rather than increasing electricity prices.
Na Alemanha, Dinamarca, Espanha (ou Portugal) a energia eólica não é a "primeira escolha" para responder à procura. Nestes países com excesso de eólica a rede está legalmente obrigada a escoar preferencialmente energia renovável. Se não houvesse esta prioridade imposta nenhum destes países a ia adquirir de livre vontade.

E fica ainda melhor:

The report states that wind farms only generate electricity for about one-third of the time. This is factually incorrect. Wind turbines in fact generate electricity for 80-85% of the time. They generate the maximum possible amount at full speed for about one-third of the time. KPMG appear to have confused these two concepts, leading to a basic error which does not inspire confidence in the rest of their research.
Claro, as turbinas funcionam entre 80-85% do tempo e não os 33% ditos pela KPMG (a média mundial andará pelos 25% mas adiante). É perfeitamente irrelevante que durante períodos destes 80% do tempo os aerogeradores sirvam para pouco mais do que manter acesa a iluminação pública, para a RenewableUK as turbinas trabalham tantas horas quanto um reactor nuclear!

Será que a RenewableUK não entende que o factor de capacidade é uma forma expedita de comparar a produtividade entre fontes de electricidade? Será que a RenewableUK não percebe que dizer que a eólica produz durante 1/3 do tempo não é dizer literalmente que as turbinas trabalham ininterruptamente de Janeiro a final de Abril e depois param o resto do ano?

O irrealismo prossegue:
"Those countries who previously embraced wind energy have reaped the rewards in terms of job creation. In Germany 80,000 people are employed in the wind energy sector, in contrast in the UK which missed its opportunities with onshore wind in the 1990s. Our wind industry currently employs just 10,600. RenewableUK's report "Working for a Green Britain" shows how this will could be increased to almost 90,000 people by 2020, but only if the Government recommits to offshore wind and meeting the 2020 renewable energy targets"
Por "recommits" deve entender-se "subvencionar". Com apoios estatais e prioridade no acesso à rede a violar o mais básico princípio da concorrência todos os empregos se podem criar, mesmo o de vendedor de areia no deserto.

Fico em pânico a pensar que são organizações com esta capacidade de pensamento e argumentação que influenciam o futuro do sector eléctrico europeu! Ou será que é deliberado? Coloca-se a ética e a honestidade na gaveta para continuar a viver à custa de subsídios?

Reino Unido rico em shale gas?

Uma pequena companhia da área da energia, Cuadrilla Resources, diz ter descoberto no centro da Grã-Bretanha um depósito de shale gas que dá às Ilhas Britânicas reservas deste combustível fóssil equivalentes às da Venezuela. A ser verdade isso coloca o Reino Unido no top ten mundial dos países com maiores reservas de gás natural.

O problema é que para o explorar a Cuadrilla precisará de efectuar centenas de furos na região o que está a assustar as populações locais que temem a contaminação dos solos e lençóis de água como já aconteceu nos EUA. A Cuadrilla terá de aplicar a técnica de hydraulic fracturing ou fracking que tem sido motivo de enorme controvérsia nos EUA, como recentemente entre Paul Krugman e Robert Bryce. Fica aqui um video da Cuadrilla a explicar o método:
A empresa diz que os locais nada têm a temer, no entanto a mesma admitiu que a sua actividade poderá ter sido responsável por dois pequenos sismos na região, um de intensidade 2,3 e outro 1,5 (escala de Richter). Este artigo da revista Scientific American confirma que a injecção no subsolo de água e aditivos sob elevada pressão poderá provocar sismos de intensiade 1 ou 2 como os que se verificaram na zona de exploração da Cuadrilla. Mas recusa que possa provocar abalos de maiores proporções.

Como escrevi no post do Krugman não tenho ainda plena opinião formada sobre os riscos reais do hydraulic fracturing mas no video abaixo a opinião de Ronald Bailey é semelhante à da resposta de Robert Bryce a Paul Krugman. O fracking é uma técnica já usada nos EUA há mais de 60 anos. O fracking per si não tem nenhuma falha grave. Tem os riscos associados à perfuração, seja para explorar shale ou não. Os casos de contaminação de água registados nos EUA resultaram de erros na perfuração e não do fracking.

Regressando à Europa será interessante perceber até que ponto esta descoberta irá abalar o actual programa do Department of Energy and Climate Change (DECC) britânico que visa descarbonizar a produção eléctrica do Reino Unido apostando fortemente em fontes renováveis e nuclear.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Paul Krugman blinded by the sun

In his last column in the New York Times Paul Krugman writes about power generation and either shows his lack of knowledge or a complete biased opinion on the subject. He starts by criticizing hydraulic fracturing technology that allows the exploration of shale gas and in which the americans are probably world leaders. Robert Bryce, a renowned journalist and author about the energy business debunks Krugman's arguments and refers the wealth and jobs created through the exploration of shale gas plus the drop in gas prices. In my opinion even more importantly than the beneficts to the price stability, shale gas reorganizes the world gas reserves and that brings energy security to several countries, namely the USA and european coutries. And that is something Krugman can't ignore. The Energy Information Administration (EIA) expects that in 2035 46% of natural gas consumed in the USA will come from shale. Russian Federation and Iran alone own the best part of the conventional natural gas reserves and none can be considered the most friendly country.

Krugman thinks that hydraulic fracturing should internalize all costs associated and his right. Not only that but production of electricity with fossil fuels should pay for all the damages that it makes. If that happens nuclear power will be the cheapest way of power generation.

In the second part of the article Krugman presents solar power as the ultimate solution for power generation and explains that solar power costs follow Moore's Law. He refers this article in Scientific American magazine that says that solar power will achieve price parity with current electricity price in 2020c or early. In 2030 it will be half that price. The numbers seem very optimistic to me but they are irrelevant to Krugman's column. One cannot compare 1 kWh of solar power with 1 kWh produced in a gas powered power plant. It is like compare apples and oranges. Only solar + gas (as backup) + pumped-storage dam or batteries (for storage).

Let's imagine the (impossible) scenario of having solar power capacitiy to produce momentarily (not permanently due to intermittency) all USA power consumption. Even then USA would require exactly the same amount of gas powered power stations than in scenario of 100% gas covering the demand. Even if all this power plants could only, as a whole, be needed for one hour in a year they would have to be ready. In the solar scenario the biggest portion of income of the gas power plants would come from stand-by contracts instead of selling energy to the grid.

One doesn't need to be a Nobel prized economist to understand that solar power can only achieve price parity with natural gas when solar power can cost nothing and hydraulic pump-storage goes for free. When will it happen? Never!

If Krugman argues that fracturing should pay for its shortcomings he must also demand that solar (and wind for that matter) internalize the costs of backup and storage. That is exactly what is happening in Virginia.

Paul Krugman julga ter sido iluminado pelo sol

No Espectador Interessado li esta pequena polémica entre o Nobel da Economia Paul Krugman e o reconhecido jornalista na área da energia Robert Bryce.

Paul Krugman
Na sua última coluna de opinião no New York Times Krugman escreve sobre energia eléctrica e mostra o muito pouco que sabe sobre o assunto ou a forma tendenciosa como analisa a questão. Começa por deitar abaixo o hydraulic fracturing ou fracking que permite explorar o shale gas e onde os americanos estão na vanguarda mundial. Confesso não ter uma opinião formada sobre os riscos da técnica e preciso de estudar mais sobre o assunto. O bom senso diz-me que é perigoso mas o bom senso também me diria que as fontes renováveis de energia são baratas. Robert Bryce que é um conhecedor da matéria desmonta os argumentos de Krugman e menciona a riqueza, emprego e estabilidade de preço do gás natural que a exploração de shale nos EUA tem permitido. Este artigo no Energy Tribune menciona o caso inglês mas chega à mesa conclusão que Bryce, os riscos de exploração do shale gas são largamente compensados pelos empregos que gera e pela manutenção do preço baixo do gás natural. Na minha opinião ainda mais importante do que o preço é a segurança energética que o shale traz aos EUA e Europa, um facto primordial que Krugman não pode ignorar.

Krugman acrescenta que sobre a actividade do fracking deviam ser imputados todos os custos associados, opinião com a qual concordo inteiramente e que estendo ao funcionamento das centrais a gás.

Depois apresenta-nos a energia solar como o futuro do fornecimento de energia eléctrica alegando que o seu custo segue a Lei de Moore. E cita este artigo da Scientific American que prevê que o custo da energia solar consiga paridade com o preço actual do mercado americano em 2020, baixando para metade em 2030. Os números parecem-me extremamente optimistas mas são irrelevantes para o artigo de Krugman. Não se pode comparar o "valor" de 1 MWh solar com 1 MWh vindo da queima de gás. Enquanto Krugman e os pró-renováveis insistirem nesta narrativa estéril é impossível debater soluções energéticas.

Só energia solar + gás natural (para backup) + hidro ou baterias (para armazenagem) pode ser comparado a gás natural. Imaginemos um cenário (irreal na prática) de os EUA terem instalada potência solar capaz de cobrir instantaneamente, mas não permanentemente dada a intermitência da fonte, o consumo do país. Neste cenário o número de centrais a gás teria de ser o mesmo que num cenário 100% gás. A diferença é que no cenário solar + gás + armazenagem as centrais termoeléctricas receberiam mais dinheiro pela garantia de potência do que pela venda de electricidade.

Assim, não é preciso ser um economista nobelizado para entender que a solução solar só conseguirá paridade com a produção a gás quando a produção solar for de graça e a armazenagem em barragens ou baterias sair de borla. Quando é que isso vai acontecer? Nunca!

Se Krugman defende que o shale pague os custos das externalidades nocivas também tem de apresentar a factura das externalidades negativas da solução solar. E o mesmo devia fazer o governo de Portugal.

domingo, 13 de novembro de 2011

Moreira da Silva quer ser ministro da Energia?

Via Espectador Interessado li o artigo de opinião de Mira Amaral no Expresso de ontem e não fiquei completamente surpreso quando aparece escrito que Moreira da Silva ambiciona ser ministro da Energia, Transportes e Ambiente. Não que eu faça parte do PSD ou tenha acesso a informação interna mas algumas coincidências levaram-me a pensar:
  1.  Quando ouvi Henrique Gomes, secretário de estado da Energia, apresentar a estratégia do governo para a área da energia das primeiras coisas que pensei é que se Moreira da Silva não tinha sido o pai pelo menos foi o padrinho do plano. Moreira da Silva é um ecotópico cuja visão de planeamento energético para o país assenta na eficiência energética. Como tenho escrito neste blogue eficiência energética é mais um objectivo ambiental do que energético. Deve ser uma meta para desenvolver paralelamente a um plano energético realista e não o cerne da estratégia para o sector energético.
  2. Quando fez a apresentação Henrique Gomes destacou no slide 44 que o ministério da Economia ia criar um grupo de estudo do nuclear (eu sei porque estava a assistir). Na altura não me surpreendeu dado que em Setembro, na televisão, o ministro Álvaro Santos Pereira tinha admitido estudar a hipótese nuclear. Achei muito curioso quando me apercebi mais tarde, no pdf da apresentação disponibilizada no site da Ordem dos Engenheiros, que o item da criação do grupo de trabalho do nuclear (pág. 44) foi apagado do documento. Moreira da Silva é um conhecido opositor de energia nuclear.
  3. Desde que Álvaro Santos Pereira tomou posse que quase todos os analistas em Portugal, mesmo os do PSD, têm dito que o seu ministério é demasiadamente grande, praticamente ingovernável. Haverá vontade de aliviar o ministério da Economia das pastas da energia e transportes?  

Dalai Lama apoia a energia nuclear

Numa recente visita ao nordeste do Japão para visitar as zonas devastadas pelo tsunami de Março o Dalai Lama referiu apoiar a energia nuclear como forma de trazer prosperidade e bem-estar às populações do planeta.

Numa conferência de imprensa referindo-se ao perigo de acidentes afirmou que é impossível erradicar completamente o risco do quotidiano humano seja a conduzir um automóvel ou a comer uma refeição e que por isso, desde que se tomem as máximas precauções, não teme a geração eléctrica nuclear.

Numa atitude de bom senso e realismo o Dalai lama afirmou que as fontes renováveis de energia são demasiado ineficientes para levar a luz eléctrica a todos e que os povos precisam de energia nuclear para estreitar as diferenças entre os ricos e os mais desfavorecidos.

Há uns dias, quando a Terra passou a ter 7 mil milhões de habitantes humanos, elaborei contas simples sobre o custo e a utopia de se fornecer, a partir de fonte eólica, electricidade a todas as pessoas que actualmente não tem acesso a ela. Nessas contas não entrei com custos de garantia de potência em centrais termoeléctricas que tinham de ser construídas para backup e barragens para armazenamento. O Dalai Lama está consciente destas necessidades. Paul Krugman infelizmente não.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Recorde de produção eólica em Espanha (06/11)

Diagrama de produção de Espanha (REE)
Portugal bateu novo recorde de produção eólica em Outubro mas Espanha não se deixou impressionar e fez o mesmo na madrugada do passado dia 6 de Novembro. Quem é que deve comemorar o recorde espanhol? Nós portugueses, dado que graças à sobreprodução eólica espanhola consumimos electricidade barata durante todo o dia.

Repare-se no diagrama espanhol, apesar de as barragens terem bombado água e as centrais térmicas terem estado em idle quase todo o dia, o país não se livrou de ter saldo exportador. A sobreprodução foi de tal forma elevada que a REE se viu obrigada a desligar parque eólicos da rede por incapacidade exportação.

Diagrama de consumo de Portugal (REN)
A política energética nacional é irracional mas espanhola tem sido verdadeiramente irresponsável. O dia 6 de Novembro é a prova. É por dias como estes que o governo espanhol quer la disminución del apoyo económico a un sector ya maduro. E é de facto uma tecnologia madura que não vai ganhar mais competitividade pela manutenção de subsídios.

É visível no diagrama português como o "pequeno" excesso espanhol foi a base do nosso diagrama diário. Aliás, durante a madrugada de domingo o preço da electricidade foi tão baixo que importámos energia eléctrica para consumir em bombagem. A média do dia foi inferior a €27/MWh e praticamente entre as 3h e as 10h Espanha exportou a custo zero para Portugal.

Durante este período Espanha exportou para Portugal um total de 9.600 MWh (média de 1.200 MWh). Dado que em Espanha a remuneração média da produção eólica é de €80/MWh não errarei por muito se disser que entre estas horas migraram para Portugal €768.000.

Produtores eólicos espanhóis ripostam

À recente proposta do governo espanhol de cortar significativamente nas tarifas garantidas à produção eólica já há contraproposta da Asociación Empresarial Eólica (AEE). A AEE pretende que os parque eólicos sejam subvencionados a €60 (mais €5 do que a proposta governamental) durante 20 anos (12 anos) e toda a energia produzida (e não apenas 1.500 horas anuais).

Na prática a AEE quer manter a produção eólica em Espanha um negócio sem risco durante todo o tempo de vida de um parque eólico (cerca de 20 anos) graças a uma remuneração ligeiramente acima do custo actual (€55/MWh). A AEE quer no fundo que os consumidores espanhóis paguem aos produtores eólicos pelo menos o dobro do custo médio da electricidade no período em que eles vão fornecer o mercado (€30/MWh).

Segundo o Plan de Energías Renovables (PER) espanhol é esperado que o país tenha instalados em 2015 27.860 MW de potência eólica. Mesmo com uma remuneração de €60/MWh, como sugere a AEE, esta potência terá um sobrecusto anual de €1.830M para uma produção típica de 2.190 horas.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Lisboa pondera gastar €3,2M em V.E.

Está em discussão na Câmara Municipal de Lisboa (CML) o aluguer de 54 a 70 veículos eléctricos pelo período de 5 anos. Um possível contrato no valor de €3,2M, ou seja, cerca de €50.000 por veículo. Com certeza a CML está apenas a cumprir esta resolução do Conselho de Ministros. Mas não deixo de ficar impressionado como assuntos destes chegam sequer a ser debatidos.

Não há dinheiro para o porquinho renovável

O mealheiro da economia verde está vazio
Um artigo de opinião na Forbes sobre os cortes que a Europa, à beira da recessão, está a fazer na luxuosa economia verde. Como se costuma dizer, quem não tem dinheiro não tem vícios. E em Portugal devia saber-se que, em tempos de crise, não existem direitos adquiridos. Conseguir uma pequena redução nos incentivos à microgeração, isto é, cortar apenas a particulares que não têm força de contestação é muito pouco.



Our friends in the U.K. and Europe are especially green.  Just hop off the plane in London and pick up the papers.  Global warming is everywhere, and, for decades, the religion’s been that carbon dioxide reductions are fine, virtuous, and they’re going to make everyone rich. (...) This all splatters to a halt when economies go south.  And the crash can be especially jarring if greenness is one of the causes.  Thanks in no small part to the debacle in Europe, in a very few recent weeks, we have witnessed the great green crack-up.

Índia projecta reactor nuclear a tório

A Índia poderá ter em 2020 um reactor nuclear experimental a produzir 300 MWe a partir da cisão de tório. O interesse indiano neste combustível prende-se com o facto de o país mais populoso do mundo dentro de poucas décadas ser também detentor das maiores reservas de tório do mundo. Para a humanidade esta notícia é importante dado que o tório é cerca de 4 vezes mais abundante do que o urânio para além de menos radioactivo. A utilização de tório como combustível dos reactores nucleares ao invés de urânio vem mitigar duas das maiores preocupações que rodeiam este tipo de energia, a longevidade das reservas de combustível e a gestão de lixo radioactivo.

Esquema de um reactor nuclear do tipo SFR
Estes problemas também serão praticamente eliminados com a industrialização de reactores nucleares de 4ª geração que usam neutrões rápidos para cindirem o isótopo de urânio U238 muito mais abundante do que o U235 usado nas actuais centrais. A China é um dos países que está a apostar nesta tecnologia e em Julho passado ligou à rede um reactor experimental de 20 MW.O reactor chinês é do tipo SFR (Sodium Fast Reactor) que usa sódio líquido em vez de água para arrefecimento.

Enquanto europeu acho particularmente preocupante que o Velho Continente possa perder a corrida no desenvolvimento de novas soluções de energia atómica. A industrialização de reactores nucleares que usem tório ou U238 como combustíveis será uma mina de ouro para exportação. O futuro da geração de electricidade de base passa por aqui e nenhum país passará ao lado. Aqueles que não tiverem a tecnologia terão que a importar.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Co-geração automóvel

Neste post comentei sobre a subsidiação de fontes renováveis de energia eléctrica e carros eléctricos e na forma ingénua como os defensores destas soluções sonham com a competitividade destas soluções não admitindo que as tecnologias ditas convencionais não vão parar de evoluir o que contraria toda a história humana.

Um bom exemplo de que as coisas não vão permanecer estáticas nos automóveis de combustão interna é a possibilidade de aproveitar a energia do calor dos gases de escape, ou seja, utilizar o princípio da co-geração no mundo automóvel. Uma das marcas que tem feito desenvolvimentos neste campo é a BMW. O sistema da casa bávara tem o nome de turbostreamer e a marca espera ter em comercialização, quer em carros novos quer como retrofit para carros usados, dentro de 10 anos.

Aqui encontra-se uma descrição mais pormenorizada do sistema mas, em traços gerais, tem dois circuitos fechados (um com água para altos regimes de motor e outro com álcool para baixos) que convertem o calor dos gases de escape em vapor que faz rodar uma turbina ligada à cambota do motor. No fundo, é a miniaturização da co-geração industrial mas com a diferença de aqui o output ser movimento de rotação em vez energia eléctrica.

Como exemplo a BMW espera, com a aplicação deste sistema, ganhos de 15cv de potência e 20Nm de binário no seu motor 4 cilindros de 1,8 litros e uma redução de 15% no consumo de gasolina.

Microgeração ameaçada na Virginia

A microgeração eléctrica poderá deixar de ser economicamente vantajosa no estado da Virginia, EUA. Tudo porque a utility local Dominion Virginia Power propôs uma taxa de "stand-by" a ser aplicada aos micropodutores de solar e eólica. A taxa foi aprovada pelo governo local e está a ser contestada pelos microprodutores.
No fundo o que a Dominion pretende é que os microprodutores paguem uma garantia de potência para que possam ter energia eléctrica quando o sol se põe e o vento não sopra.

O mesmo devia ser feito em Portugal a uma escala nacional. Os CMECs indiferenciados deviam acabar e ser substituídos por taxas de stand-by para todos os produtores de energia eléctrica intermitente com prioridade de acesso à rede.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Recorde de produção eólica em Portugal (23/10)

Diz-nos o Jornal de negócios que no passado dia 23 de Outubro pelas 20h15 Portugal bateu novo recorde de eólica com 3.680MW em produção. Tive curiosidade e fui ver o que se passou nesse Sábado em termos de mercado ibérico de electricidade. Do site da REN tira-se estes gráficos interessantes do dia:

Diagrama de consumo português

Saldo importação/exportação (lado português)
Como se pode ver perfeitamente, à hora em que Portugal batia o recorde, 800MW de energia eléctrica era exportada para Espanha. Não me recordo exactamente mas penso que essa noite foi bastante ventosa e chuvosa.

A explicação para os dois períodos de exportação nacional de energia eléctrica descobre-se consultando o diagrama de consumo da Rede Eléctrica de Espana (REE) do mesmo dia.

Diagrama de produção espanhol
É notório que que entre as 8h-11h e as 19h-24h Espanha não teve sopreprodução de geração eléctrica. A mancha amarela clara é a da importação/exportação e ela deixa de estar abaixo de zero nessas horas. Da mesma forma a mancha azul (hidroeléctrica) também passou para a parte positiva do eixo. Isso significa que as barragens deixaram de bombar para passar a turbinar. A produção eólica, tal como em Portugal, manteve-se elevada todo o dia. A razão para estas variações no gráfico espanhol serem relativamente mais esbatidas do que no português prende-se com o facto de a produção espanhola ser mais de cinco vezes superior à nossa.

Assim, a exportação portuguesa não foi motivada por excesso de produção nacional mas por carência espanhola (ou francesa ou marroquina). A cobertura foi, tal como do lado espanhol, efectuada recorrendo a produção eléctrica controlável, ou seja, hidráulica (também em Portugal nestas horas as barragens deixaram de bombar e passaram a turbinar) e também térmica. Nos dois gráficos seguintes é visível o incremento da produção das barragens e das centrais térmicas nos dois períodos de exportação.

Produção hidroeléctrica portuguesa

Produção termoeléctrica portuguesa
Ou seja, apesar da intensa produção eólica a gestão da carga na rede ibérica teve de ser efectuada com produção ordinária. Como a exportação não foi motivada por excesso de eólica mas por falta de produção em Espanha, nas horas de exportação, o custo da electricidade na Península Ibérica subiu como se pode ver no gráfico abaixo.
Se não fossem as tarifas pagas à produção eólica a exportação neste dia até teria sido lucrativa para Portugal. Por se tratar de um Sábado o custo da electricidade andou numa média de €40/MWh mas no período 8h-11h foi exportada a cerca de €42/MWh e no período 21-23h a quase €55/MWh. Se Portugal adoptasse a tarifa FIT que me parece justa (€55/MWh), e que os espanhóis querem implementar, neste Sábado 23/10 a produção eólica teria atingido a paridade na últimas horas do dia. Mas como é remunerada a €95/MWh a exportação significou que parte do valor da factura eléctrica de todos os portugueses foi oferecida aos nossos vizinhos.