A Bulgária realizou hoje o seu primeiro referendo desde que deixou de ser um regime comunista. Foi perguntado ao povo se o país devia continuar a apostar na energia nuclear. Na prática isso significa retomar a construção da central de Belene, que seria a segunda do país depois do complexo Kozloduy que fornece 1/3 da energia eléctrica do país.
É estúpido pedir opinião aos cidadão comum sobre assuntos eminentemente técnicos, para os quais a maioria não se sente naturalmente habilitada para opinar. Os referendos podem ser realizados para assuntos de consciência pessoal, não de carácter técnico. Talvez por isso só 20% dos eleitores foi exercer o seu direito. Sem pelo menos 60% de participação o referendo não tem peso. Contudo 60% daqueles que votaram optaram pelo "sim". Com estes resultados o tema irá regressar ao Parlamento.
A pouca adesão também poderá estar relacionada com o facto de o Primeiro-Ministro Boyko Borisov ter anunciado recentemente que o país não tem dinheiro para financiar o projecto. Talvez possam recorrer ao governo alemão para a obtenção do dinheiro.
“Our lives begin to end the day we become silent about things that matter.” Martin Luther King Jr
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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
Alemanha não gosta de centrais nucleares?
Durante os quase dois anos passados sobre Fukushima em que no Japão andou no ar a ideia de se abandonar a energia nuclear os investimento nipónicos no sector continuaram além fronteiras. A Alemanha que também vive um período cego anti-nuclear pós-Fukushima segue as mesma pisadas. É que, ao contrário das renováveis que sugam recursos financeiros públicos, a energia nuclear pode não dar votos mas dá dinheiro.
Contrariando uma decisão do Comité para o desenvolvimento sustentável do parlamento alemão o governo central vai continuar a financiar a construção de centrais nucleares noutros países. O Presidente do Comité considera essa decisão uma contradição grosseira para um país que tem o objectivo de encerrar todas as suas centrais nucleares a médio prazo e publicamente incita outras nações a seguir o exemplo. O Ministro da economia diz que não, que as políticas energéticas são do foro de soberania interna de cada país.
Contrariando uma decisão do Comité para o desenvolvimento sustentável do parlamento alemão o governo central vai continuar a financiar a construção de centrais nucleares noutros países. O Presidente do Comité considera essa decisão uma contradição grosseira para um país que tem o objectivo de encerrar todas as suas centrais nucleares a médio prazo e publicamente incita outras nações a seguir o exemplo. O Ministro da economia diz que não, que as políticas energéticas são do foro de soberania interna de cada país.
quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
Comboios ingleses mais amigos do ambiente
A Network Rail é a empresa responsável pela gestão da rede ferroviária inglesa e também o maior consumidor de electricidade do Reino Unido. Actualmente apenas 40% da rede está electrificada mas esse valor deverá subir para 54% em 2020 a que corresponderá passar de 55% para 75% do tráfego.
No passado dia 11/01 a Network Rail assinou um contrato de fornecimento de energia eléctrica com a francesa EDF para os próximos dez anos que permite à Network Rail orçamentar melhor os custos com electricidade graças a uma maior estabilidade no preço de compra. Mais mais interessante, e que me fez partilhar a notícia, é o facto do acordo estar ao abrigo do programa EDF blue energy.
Com o programa EDF blue energy, disponível para empresas ou particulares, a utility francesa garante que toda a electricidade fornecida tem fonte nuclear. Do parque electroprodutor da EDF na Grã-Bertanha também fazem parte centrais a carvão e torres eólicas mas toda a energia eléctrica que a Network Rail consumir virá de centrais nucleares.
No passado dia 11/01 a Network Rail assinou um contrato de fornecimento de energia eléctrica com a francesa EDF para os próximos dez anos que permite à Network Rail orçamentar melhor os custos com electricidade graças a uma maior estabilidade no preço de compra. Mais mais interessante, e que me fez partilhar a notícia, é o facto do acordo estar ao abrigo do programa EDF blue energy.
Com o programa EDF blue energy, disponível para empresas ou particulares, a utility francesa garante que toda a electricidade fornecida tem fonte nuclear. Do parque electroprodutor da EDF na Grã-Bertanha também fazem parte centrais a carvão e torres eólicas mas toda a energia eléctrica que a Network Rail consumir virá de centrais nucleares.
sexta-feira, 11 de janeiro de 2013
Como me tornei um céptico do aquecimento global
Como quase todos os portugueses, desde sempre fui sugestionado que lá em cima havia um ser superior omnipresente e omnisciente. E desde sempre achei esta ideia completamente disparatada. Não consigo entender como é que os conceitos de omnisciência e omnipresença passam no crivo de um pensamento com o mínimo de racionalidade.
A história terrena dos mensageiros divinos, seja Jesus Cristo seja Maomé (as que conheço melhor), também nunca me pareceu possuir qualquer credibilidade por violarem noções básicas de anatomia, biologia ou física. Fecundação de uma virgem, ressuscitação, etc. São histórias de ficção com um enredo muito fraco, ainda por cima sexistas. E é graças a estes contos que cristãos perseguem judeus, muçulmanos perseguem cristãos, todos perseguem homens da ciência e discriminam as mulheres. Tudo muito bizarro para a minha capacidade de compreensão.
Nunca aderi à fé em Deus mas na minha adolescência aderi à fé do ecologismo. Contudo nunca comprei o pacote completo, deixei sempre de fora o nuclear. O ecologismo, nascido na década de 70 do século anterior, é genericamente contra a energia nuclear. Mas ser contra a energia nuclear não passa na peneira de racionalidade. É impossível argumentar contra ela com coerência. A energia nuclear é limpa, abundante, concentrada, competitiva e segura, o que há de mal nisso?
Não é possível construir uma narrativa anti-nuclear consistente. Mas afirmar que a actividade humana desenvolvida no século XX está a desequilibrar o mundo natural de uma forma potencialmente irreversível e destruidora não toca, à partida, nenhuma campainha de contra-senso. A ideia é credível, não questionava a nossa capacidade de extinguir espécies animais ou desflorestar a Amazónia. Porém, já na altura, me pareceu excessiva a teoria do aquecimento global.
Como é que num século o Homem tinha sido capaz de alterar o clima de um planeta que já conta com 4,5 mil milhões de anos? Como é que, se a actividade humana consome menos energia num ano do que aquela que o Sol produz num minuto (ou algo nesta ordem de grandeza), ela pode ter um peso tão grande no clima terrestre? Sempre me pareceu haver aqui uma gritante disparidade de forças, o David a vencer o Golias, mas havia consenso nos jornais. Havia a cimeira do Rio. Havia um pequeno barco do Greenpeace que navegava pelo mundo a desafiar os super-petroleiros. Se havia quem arriscasse assim a vida é porque o assunto era real e sério. Eu aceitava a narrativa mas haviam peças do puzzle que não encaixavam.
A primeira peça que não encaixava era a recusa da energia nuclear. Se a energia nuclear é essencial para diminuir a poluição provocada pelas actividades humanas como é que os ecologistas podiam ser contra?
Já mais recentemente, a intensa propaganda para promoção das energias renováveis intermitentes tinha lacunas graves. Era supostamente barata e sustentada mas precisava de ser subvencionada. Mas o que é que, sendo barato e sustentável, precisa de ser apoiado pelo Estado? Decidi pesquisar e descobri a aldrabice do modelo económico das energias eólica e solar que que nos é veiculada.
Mas o que fez desmoronar a minha fé no ecologismo foram aqueles a que os ecologistas ortodoxos e radicais chamam de cépticos ou negadores do aquecimento global. Os media sempre difundiram a mensagem do ecologismo que emergiu da falência do socialismo, mas uma boa parte da comunidade científica mantinha-se firmemente contra essa narrativa. E isso fazia-me confusão. Se o aquecimento global era real porque é que homens do saber o contestavam? Se o aquecimento global era consensual porque é que os seus defensores desvalorizavam os negadores com injúrias e acusações de serem agentes das grandes petrolíferas? Se o aquecimento global era inegável porque é que os alarmistas não esmagavam os cépticos com evidências factuais? Era muito estranho.
Não ter mais nada para disputar um debate do que acusações de actividade de lobby enfraquece muito a posição. Mas era isso que os alarmistas faziam para contrariar estudos científicos do lado dos cépticos. O argumento de lobby é fraco porque serve para os dois lados. Os alarmistas também podiam estar a ser pagos pelas empresas das novas fontes renováveis.
Pior do que fraco, o argumento dos alarmistas era e continua a ser insensato. As empresas que exploram os combustíveis fósseis não precisam de fazer lobby para manter a sua actividade. Estas empresas não são colossos devido a uma eficaz teia de influências. São enormes porque ainda não têm concorrência, porque no estado actual da tecnologia não existem alternativas. É verdade que o carvão pode ser substituído pelo nuclear (como aconteceu em França) mas o ecologismo não considera essa possibilidade.
Mais, as grandes empresas de extracção não estão emocionalmente ligadas aos combustíveis fósseis, perseguem racionalmente os lucros. Se os lucros estiverem nos biocombustíveis é aí que elas se concentram. Ou no solar, ou na fusão nuclear.
As empresas com sucesso são flexíveis e adaptáveis. O ecologismo só destrói as grandes petrolíferas se destruir a actividade económica e industrial e, como evidenciarei noutros posts, é mesmo esse o objectivo do ecologismo. O aquecimento global e a destruição do planeta é o pretexto. A desindustrialização é o objectivo. Às acusações de lobby os cépticos sempre responderam com estudos científicos do clima e análises custos/impacto para políticas de mitigação de alterações climáticas.
A visão ecologista sempre teve pedras na engrenagem, sempre teve meias verdades e muita propaganda. A visão céptica é estruturada, científica e moderada.
Designar os racionais de cépticos e negadores como fazem os ecologistas diz muito mais sobre aquilo que é o ecologismo do que sobre a contestação racional. Mantive os adjectivos propositadamente. Noutro post irei voltar a este tema.
A história terrena dos mensageiros divinos, seja Jesus Cristo seja Maomé (as que conheço melhor), também nunca me pareceu possuir qualquer credibilidade por violarem noções básicas de anatomia, biologia ou física. Fecundação de uma virgem, ressuscitação, etc. São histórias de ficção com um enredo muito fraco, ainda por cima sexistas. E é graças a estes contos que cristãos perseguem judeus, muçulmanos perseguem cristãos, todos perseguem homens da ciência e discriminam as mulheres. Tudo muito bizarro para a minha capacidade de compreensão.
Nunca aderi à fé em Deus mas na minha adolescência aderi à fé do ecologismo. Contudo nunca comprei o pacote completo, deixei sempre de fora o nuclear. O ecologismo, nascido na década de 70 do século anterior, é genericamente contra a energia nuclear. Mas ser contra a energia nuclear não passa na peneira de racionalidade. É impossível argumentar contra ela com coerência. A energia nuclear é limpa, abundante, concentrada, competitiva e segura, o que há de mal nisso?
Não é possível construir uma narrativa anti-nuclear consistente. Mas afirmar que a actividade humana desenvolvida no século XX está a desequilibrar o mundo natural de uma forma potencialmente irreversível e destruidora não toca, à partida, nenhuma campainha de contra-senso. A ideia é credível, não questionava a nossa capacidade de extinguir espécies animais ou desflorestar a Amazónia. Porém, já na altura, me pareceu excessiva a teoria do aquecimento global.
Como é que num século o Homem tinha sido capaz de alterar o clima de um planeta que já conta com 4,5 mil milhões de anos? Como é que, se a actividade humana consome menos energia num ano do que aquela que o Sol produz num minuto (ou algo nesta ordem de grandeza), ela pode ter um peso tão grande no clima terrestre? Sempre me pareceu haver aqui uma gritante disparidade de forças, o David a vencer o Golias, mas havia consenso nos jornais. Havia a cimeira do Rio. Havia um pequeno barco do Greenpeace que navegava pelo mundo a desafiar os super-petroleiros. Se havia quem arriscasse assim a vida é porque o assunto era real e sério. Eu aceitava a narrativa mas haviam peças do puzzle que não encaixavam.
A primeira peça que não encaixava era a recusa da energia nuclear. Se a energia nuclear é essencial para diminuir a poluição provocada pelas actividades humanas como é que os ecologistas podiam ser contra?
Já mais recentemente, a intensa propaganda para promoção das energias renováveis intermitentes tinha lacunas graves. Era supostamente barata e sustentada mas precisava de ser subvencionada. Mas o que é que, sendo barato e sustentável, precisa de ser apoiado pelo Estado? Decidi pesquisar e descobri a aldrabice do modelo económico das energias eólica e solar que que nos é veiculada.
Mas o que fez desmoronar a minha fé no ecologismo foram aqueles a que os ecologistas ortodoxos e radicais chamam de cépticos ou negadores do aquecimento global. Os media sempre difundiram a mensagem do ecologismo que emergiu da falência do socialismo, mas uma boa parte da comunidade científica mantinha-se firmemente contra essa narrativa. E isso fazia-me confusão. Se o aquecimento global era real porque é que homens do saber o contestavam? Se o aquecimento global era consensual porque é que os seus defensores desvalorizavam os negadores com injúrias e acusações de serem agentes das grandes petrolíferas? Se o aquecimento global era inegável porque é que os alarmistas não esmagavam os cépticos com evidências factuais? Era muito estranho.
Não ter mais nada para disputar um debate do que acusações de actividade de lobby enfraquece muito a posição. Mas era isso que os alarmistas faziam para contrariar estudos científicos do lado dos cépticos. O argumento de lobby é fraco porque serve para os dois lados. Os alarmistas também podiam estar a ser pagos pelas empresas das novas fontes renováveis.
Pior do que fraco, o argumento dos alarmistas era e continua a ser insensato. As empresas que exploram os combustíveis fósseis não precisam de fazer lobby para manter a sua actividade. Estas empresas não são colossos devido a uma eficaz teia de influências. São enormes porque ainda não têm concorrência, porque no estado actual da tecnologia não existem alternativas. É verdade que o carvão pode ser substituído pelo nuclear (como aconteceu em França) mas o ecologismo não considera essa possibilidade.
Mais, as grandes empresas de extracção não estão emocionalmente ligadas aos combustíveis fósseis, perseguem racionalmente os lucros. Se os lucros estiverem nos biocombustíveis é aí que elas se concentram. Ou no solar, ou na fusão nuclear.
As empresas com sucesso são flexíveis e adaptáveis. O ecologismo só destrói as grandes petrolíferas se destruir a actividade económica e industrial e, como evidenciarei noutros posts, é mesmo esse o objectivo do ecologismo. O aquecimento global e a destruição do planeta é o pretexto. A desindustrialização é o objectivo. Às acusações de lobby os cépticos sempre responderam com estudos científicos do clima e análises custos/impacto para políticas de mitigação de alterações climáticas.
A visão ecologista sempre teve pedras na engrenagem, sempre teve meias verdades e muita propaganda. A visão céptica é estruturada, científica e moderada.
Designar os racionais de cépticos e negadores como fazem os ecologistas diz muito mais sobre aquilo que é o ecologismo do que sobre a contestação racional. Mantive os adjectivos propositadamente. Noutro post irei voltar a este tema.
terça-feira, 8 de janeiro de 2013
China quer liderar 4ª geração da energia nuclear
Em Julho de 2011 a China ligou à rede um reactor nuclear experimental de neutrões rápidos de 20MWe. Desde essa altura o programa nuclear chinês foi temporariamente parado devido ao acidente de Fukushima. Mas tal como o Japão vai retomar a construção de novas centrais também a China reactivou o seu programa nuclear.
Um dos projectos aprovados é para a construção de um reactor comercial do tipo Gas-Cooled Fast Reactor (GFR) de 200MWe, um investimento de $476 milhões. Os reactores GFR são tipo de reactores na quarta e nova geração de reactores nucleares.
Outro projecto de $350 milhões está a nascer no Shanghai Institute of Nuclear and Applied Physics e visa desenvolver novos reactores para usarem Tório como combustível. O investimento prevê ocupar 750 cientistas em 2015. É provável que o Tório se torne no "combustível" nuclear mais usado dentro de algumas décadas. Também a Índia e a Noruega, dois países com importantes reservas deste metal, estão a fazer investigação nesta área.
Enquanto a Alemanha está a voltar ao passado trocando centrais nucleares por queima de carvão, os chineses estão apostados em liderar a tecnologia nuclear e passar dos actuais 12,54GWe de potência instalada para 40GWe em 2015.
A energia nuclear pode estar à beira de entrar um ciclo de investimento que não se via desde a Guerra fria. E desta vez a motivação não será o desenvolvimento de ogivas nucleares mas a independência energética e previsibilidade de custos de produção eléctrica.
Um dos projectos aprovados é para a construção de um reactor comercial do tipo Gas-Cooled Fast Reactor (GFR) de 200MWe, um investimento de $476 milhões. Os reactores GFR são tipo de reactores na quarta e nova geração de reactores nucleares.
Outro projecto de $350 milhões está a nascer no Shanghai Institute of Nuclear and Applied Physics e visa desenvolver novos reactores para usarem Tório como combustível. O investimento prevê ocupar 750 cientistas em 2015. É provável que o Tório se torne no "combustível" nuclear mais usado dentro de algumas décadas. Também a Índia e a Noruega, dois países com importantes reservas deste metal, estão a fazer investigação nesta área.
Enquanto a Alemanha está a voltar ao passado trocando centrais nucleares por queima de carvão, os chineses estão apostados em liderar a tecnologia nuclear e passar dos actuais 12,54GWe de potência instalada para 40GWe em 2015.
A energia nuclear pode estar à beira de entrar um ciclo de investimento que não se via desde a Guerra fria. E desta vez a motivação não será o desenvolvimento de ogivas nucleares mas a independência energética e previsibilidade de custos de produção eléctrica.
quarta-feira, 2 de janeiro de 2013
Japão vai construir novas centrais nucleares
O anterior governo japonês revogou, em Setembro último, a decisão de abandonar a produção de energia eléctrica em centrais nucleares. No passado domingo o recém-eleito Primeiro-Ministro Shinzo Abe disse na sua primeira entrevista na televisão que o país irá construir novas centrais. A notícia não é boa apenas para os japoneses. A construção de novas centrais deverá levar a que o país invista mais em I&D na área.
Não deixa de ser surpreendente que a histeria anti-nuclear japonesa não tenha durado 24 meses. É irónico que durante este Inverno a abertura das vias marítimas do Ártico para o transporte de gás natural russo para o Japão tivesse sido assegurado por quebra-gelos nucleares.
Não deixa de ser surpreendente que a histeria anti-nuclear japonesa não tenha durado 24 meses. É irónico que durante este Inverno a abertura das vias marítimas do Ártico para o transporte de gás natural russo para o Japão tivesse sido assegurado por quebra-gelos nucleares.
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
O bom senso regressa ao Japão
Nenhum país industrializado pode viver sem geração eléctrica a partir de fonte nuclear. Pelo menos sem grandes custos ambientais ou económicos. De entre estes o Japão é um dos casos mais críticos de "dependência" nuclear. O país do sol nascente não tem reservas de combustíveis fósseis, não tem reservas hídricas nem vizinhos com os quais equilibrar produção eléctrica intermitente como escrevi aqui. Basicamente o fecho de centrais nucleares no Japão obrigaria o país a ficar dependente do gás natural russo. Parece-me que na prática isso significa que o Japão seria um dos últimos países do mundo a abandonar a energia nuclear.
Como quase tudo aquilo que é incontornável, acontece mais tarde ou mais cedo, com mais ou menos custos, mais ou menos dor. Nesta medida não se estranha este artigo do New York Times que dá conta que o Japão abandonou a ideia de abandonar o nuclear até 2040.
Na Alemanha a virtude do nuclear vai demorar mais tempo a revelar-se. Por duas razões. Primeiro, a visão ecofascista, neo-socialista, utópica é mais forte por lá. Segundo, os alemães podem sempre comprar energia nuclear aos seus vizinhos franceses, checos ou austríacos. Veremos como ficam as coisas depois das eleições de 2013.
sábado, 31 de março de 2012
Maioria de americanos apoia energia nuclear
A Gallup é uma empresa americana que tem entre as suas especialidades a realização de sondagens. Uma das que leva a cabo desde 1994 visa aferir o sentimento do povo americano em relação à energia nuclear.
Este ano 57% dos entrevistados mostraram-se favoráveis à utilização desta fonte para produção de energia eléctrica e consideram as centrais nucleares globalmente seguras. Os resultados dos vários anos mostram que, em quase 20 anos, o apoio que os americanos lhe dão não se tem alterado significativamente. O acontecimento em Fukushima, há pouco mais de um ano, não influenciou praticamente o sentimento americano a este respeito.
Como é normal quando se aborda este assunto as mulheres, que têm uma percepção de perigo mais aguçada dos que os homens, têm muito menos confiança na solução nuclear. Apenas 27% consideram a energia nuclear segura contra 71% dos homens inquiridos.
sexta-feira, 30 de março de 2012
Comparação de emissão de poluentes entre fontes eléctricas
Ainda que se fale maioritariamente nele o dióxido de carbono (CO2) é o menor dos males produzido pelas diferentes fontes de energia em termos de poluentes atmosféricos. Bem pior são os efeitos de dióxido de enxofre (SO2) e óxidos de azoto (NOx) produzidos nas combustões.
Por recorrer à combustão a produção elétrica através da queima de biomassa está longe de ser uma proposta ambientalmente vantajosa para produção de energia eléctrica. À semelhança da co-geração devem ser aproveitados os recursos florestais até porque a queima é habitualmente feita longe dos centros urbanos. Mas jamais criar uma indústria florestral exclusivamente centrada na produção de biomassa. Na minha opinião a energia eléctrica proveniente da biomassa e co-geração deviam ter prioridade máxima na distribuição.
Das fontes que não utilizam a combustão para gerar energia as eólica e fotovolticas são traídas pela baixa densidade que obriga ao fabrico de muito equipamento com consequências ambientais. Daí terem menos performance ambiental do que as fontes nuclear ou hidroelétrica.
Tudo pesado a hidroeléctrica é provavelmente a melhor fonte de energia eléctrica que existe mas tem as limitações de só ser possível em países com recursos hídricos. A energia nuclear polui pouco mais e não tem restrições geográficas e por isso deve ser a base da produção eléctrica em países preocupados com a sustentabilidade ambiental.
Por recorrer à combustão a produção elétrica através da queima de biomassa está longe de ser uma proposta ambientalmente vantajosa para produção de energia eléctrica. À semelhança da co-geração devem ser aproveitados os recursos florestais até porque a queima é habitualmente feita longe dos centros urbanos. Mas jamais criar uma indústria florestral exclusivamente centrada na produção de biomassa. Na minha opinião a energia eléctrica proveniente da biomassa e co-geração deviam ter prioridade máxima na distribuição.
Das fontes que não utilizam a combustão para gerar energia as eólica e fotovolticas são traídas pela baixa densidade que obriga ao fabrico de muito equipamento com consequências ambientais. Daí terem menos performance ambiental do que as fontes nuclear ou hidroelétrica.
Tudo pesado a hidroeléctrica é provavelmente a melhor fonte de energia eléctrica que existe mas tem as limitações de só ser possível em países com recursos hídricos. A energia nuclear polui pouco mais e não tem restrições geográficas e por isso deve ser a base da produção eléctrica em países preocupados com a sustentabilidade ambiental.
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
Um habitante de Fukushima que não passa sem cigarros
O jornal Expresso conta a história engraçada de um japonês que vive na zona de exclusão da central nuclear de Fukushima. Evacuado como todos os seus conterrâneos, Naoto Matsumura de 52 anos, regressou, à revelia das autoridades, para a sua vila onde é o único habitante. Passa os dias a cuidar das plantações e animais, ou do que resta deles. Muitos morreram de fome por não ter havido tempo para abrir os estábulos durante a evacuação das pessoas.
O engraçado da história é que Naoto Matsumura tem uma dieta alimentar pouco variada e fuma muito. Diz que para se aliviar do stress de viver privado das normais condições de vida e da perda do seu património. Os hábitos de vida menos saudável deste agricultor, semelhantes aos de muitas pessoas no mundo moderno, terão um impacte na sua vida maior do que as consequências da libertação da radiactividade da central nuclear. A diferença é que Matsumara tem a coerência de temer tanto com as consequências de umas como das outras.
O engraçado da história é que Naoto Matsumura tem uma dieta alimentar pouco variada e fuma muito. Diz que para se aliviar do stress de viver privado das normais condições de vida e da perda do seu património. Os hábitos de vida menos saudável deste agricultor, semelhantes aos de muitas pessoas no mundo moderno, terão um impacte na sua vida maior do que as consequências da libertação da radiactividade da central nuclear. A diferença é que Matsumara tem a coerência de temer tanto com as consequências de umas como das outras.
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
Futuro do nuclear a ser construído
Apesar do acontecimento em Fukushima ter criado um compasso de espera 2012 deverá recolocar os vários projectos de construção de novas centrais nucleares no mundo de novo em cima da mesa. Ainda para mais por terem começado a existir sinais de que a economia mundial está prestes a sair da crise que se abateu sobre ela em 2008. Contrariamente ao que se veicula penso que será mais a exploração de novas formas de gás natural e não Fukushima a poder boicotar este renascimento do nuclear que, para já, parece estar a afirmar-se.
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HTGR Antares da Areva |
O renascimento do nuclear terá que ser acompanhado necessariamente por inovação no desenho de reactores. A regulamentação será cada vez mais apertada o que levará a uma obsolescência mais rápida das actuais tecnologias. Também a inovação na utilização das outras fontes evoluirá pelo que o nuclear terá de se aperfeiçoar para não morrer. A inovação e competitividade no nuclear é tanto mais importante pela pouca popularidade que tem entre as comunidades. Ainda que acredito que ela tenderá a melhorar não me parece que alguma vez o nuclear vá gozar de wishful thinking fantasioso como aquele que alimenta hoje em dia as fontes renováveis intermitentes. A energia nuclear terá de se continuar a impor pelos números.
Creio que a inovação acontecerá naturalmente desde que haja mercado e aí é preciso facilitação política. Quando digo facilitação não me refiro a apoios mas apenas a planeamento e legislação que permita a construção de novas centrais nucleares. Sou optimista ao ponto de achar que se esse espaço para o nuclear for criado a visão de Bill Gates de uma concorrência feroz e altamente inovadora de soluções nucleares surgirá.
Na semana passada houve duas notícias que ajudam a alimentar a convicção de que o nuclear está longe de estar morto. Da Índia chegou a notícia de que o governo local planeia, no começo de 2013, preparar o funcionamento (commission - uma etapa fundamental para a entrada ao serviço de um reactor) do seu primeiro reactor nuclear de 4ª geração. Trata-se do primeiro de um conjunto de cinco reactores de neutrões rápidos ou Fast breeder reactors (FBR)com uma potência de 500MWe, muito superior ao experimental de 13MW existente no país ou ao de 20MW que a China ligou à rede no verão passado.
Os FBR têm a capacidade de consumir urânio 238 (o mais abundante) e por isso têm um consumo específico de urânio muito mais baixo do que a actual geração. Os FBR conseguem inclusivamente consumir resíduos produzidos nos reactores actuais. Este novo reactor constitui o começo da segunda fase do prgrama nuclear indiano, um dos mais ambiciosos do mundo. A primeira fase começou na década de 70 com a construção de reactores que usam água pesada para arrefecimento (Pressurized Heavy Water Reactor - PHWR) e que se ofram tornando cada vez mais potentes à medida que o país ia acumulando know-how. A Índia tem neste momento alguns PHWR em construção. Os FBR destinam-se precisamente a consumir os resíduos que os PHWR geraram ao longo das últimas décadas. A terceira fase terá lugar com o lançamento daquilo a que os indinao designam de advanced reactor que será capaz de consumir tório 232, um material quatro vezes mais disponível na Terra do que o urânio 238 e do qual a Índia detém as maiores reservas mundiais.
Nos EUA, país que recentemente aprovou a construção da sua primeira central nuclear em 30 anos,viu agora a Next Generation Nuclear Plant Industry Alliance (NGNP) seleccionar um design de reactor de 4ª geração arrefecido a gás. A NGNP é uma joint venture criada pelo governo central em 2005 que visou juntar esforços entre várias empresas ligadas ao sector energético para desenvolver e contruir até 2021 um reactor High-temperature Gas-cooled Reactor (HTGR) arrefecido a gás em alternativa à água comum nos reactores actuais. A escolha caiu no reactor Antares da francesa Areva. A utilização de um refrigerante alternativo permite aumentar a temperatura de funcionamento do reactor até perto dos 1000ºC. Para além da maior eficiência do reactor na produção de energia eléctrica as temperaturas elevadas que o gás pode atingir permitem-lhe gerar calor ou produzir hidrogénio em cogeração. Isso torna este tipo de reactor bastante apetecível para outras indústrias e não apenas as que exploram a produção eléctrica. A aliança NGNP é constituída por algumas petrolíferas e outras empresas que actuam no sector químico.
A industrialização de reactores de 4ª geração será um passo decisivo para o futuro da energia nuclear no mundo. A eficiciência destes reactores afasta definitivamente questões de duração de reservas de urânio. E por diminuirem grandemente a quantidade e perigosidade dos resíduos que criam colocam-se noutro patamar de segurança face aos reactores actuais.
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
Europa dá vida ao nuclear
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Manifestações de apoio e repúdio em Garona |
Depois de ter dividido a opinião pública espanhola o encerramento da central nuclear de Garona decretado pelo anterior governo socialista para ter lugar em 2013 foi agora revisto pelo PP. O executivo de Rajoy decidiu prolongar por mais cinco anos (com a possibilidade de um sexto) o tempo da vida desta central que foi ligada à rede em 1971. Apesar da crise espanhola que, à semelhança do que está acontecer em Portugal, deverá levar o consumo eléctrico a diminuir no país vizinho o governo considera que não é oportuno nem estratégico prescindir da geração eléctrica em centrais nucleares.
Também na semana passada David Cameron e Nicolas Sarkozy, por ocasião da cimeira franco-inglesa, asinaram acordos bilaterais de cooperação no desenvolvimento de novas centrais nucleares no Reiuno Unido. As Ilhas britânicas querem tornar-se um dos países com maior peso de nuclear no seu mix electroprodutor e empresas com grande experiência no sector, caso da EDF e Areva, estão a participar activamente na renovação do parque electroprodutor britânico.
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
Debate televisivo prós e contras: ausência do nuclear
Esta semana irei comentar mais detalhadamente alguns aspectos debatidos no programa Prós e Contras da passada segunda-feira mas hoje vou referir-me ao aspecto da ausência do nuclear no debate que já vi abordado em mais do que um local, nomeadamente pelo Ecotretas que é contra a energia nuclear em Portugal por razões que discordo mas que compreendo.
Acho que os defensores do manifesto fizeram bem em não mencionar o tema nuclear. Em primeiro lugar por que nem todos apoiam a solução e em segundo lugar porque não existe ainda em Portugal maturidade e objectividade para debater este assunto pacificamente. Como o Ecotretas bem ressalvou o programa teve alturas de quase descontrolo e a discussão do nuclear poderia ter consequências ainda mais desastrosas. Basta referir que no final do programa quando Patrick Monteiro de Barros preferiu a palavra nuclear Carlos Pimenta quase entrou em colapso nervoso. E Carlos Pimenta tem formação de engenharia, é supostamente entendido no sector energético e portanto deveria ter uma visão mais pragmática sobre o tema. Não há condições para se debater nuclear numa praça tão pública e, ao contrário de uma sugestão no programa, sou totalmente contra um referendo em Portugal sobre este assunto. Na verdade, sou contra referendos de cariz técnico que exijam conhecimentos que a maioria dos portugueses não tem e por isso nunca poderia votar conscientemente. A energia nuclear deve ser discutida por quem sabe e em espaços próprios.
Sobre a introdução da energia nuclear em Portugal a questão não é se mas quando. Se há coisa sobre a qual tenho a certeza absoluta é que a energia nuclear fará um dia parte do mix produtivo de Portugal. Talvez não no meu tempo de vida mas fará. A central nuclear é como o automóvel, o telemóvel ou a caixa ATM ou a ainternet. O seu benefício é de tal forma gritante e óbvio que lutar contra ela exige argumentos falaciosos e apaixonados como aqueles que Carlos Pimenta esgrimiu no debate.
A aversão nacional à energia nuclear faz-me lembrar a luta dos comerciantes tradicionais contra os centros comerciais e os hipermercados. Uma luta que tinha aquela emblemática e aberrante distorção de as grandes superfícies estarem proibidas de abrir ao domingo. Supostamente era para defender o dia da família mas sempre me lembro de dizer que essa medida tinha os dias contados. Quem beneficiava com isso? Apenas os comerciantes tradicionais.
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
O pragmatismo turco
Já tenho abordado a estratégia energética turca simplesmente porque é um dos concorrentes naturais do nosso país. Sabendo que a competitividade do custo da energia eléctrica é um factor de competitividade das empresas, também das exportadoras, é útil saber aquilo que andam a fazer os nossos competidores. Há umas semanas referi o projecto turco de construção de duas novas centrais nucleares em parceria com japoneses.
Agora o governo de Ankara juntou-se a sul coreanos para desenvolver duas novas centrais a carvão. O objectivo é reduzir a dependência do gás russo e iraniano. Antes de ser pró-nuclear sou anti-carvão mas consigo entender o ponto de vista, a ideia de independência energética é utópica mas a segurança energética deve ser uma preocupação primordial de um país, principalmente um situado numa região tão sensível. Com as novas centrais nucleares e a carvão a Turquia pretende acompanhar a procura crescente por electricidade na economia turca e ao mesmo tempo reduzir de 50 para 30% o peso do gás no seu mix electroprodutor.
Agora o governo de Ankara juntou-se a sul coreanos para desenvolver duas novas centrais a carvão. O objectivo é reduzir a dependência do gás russo e iraniano. Antes de ser pró-nuclear sou anti-carvão mas consigo entender o ponto de vista, a ideia de independência energética é utópica mas a segurança energética deve ser uma preocupação primordial de um país, principalmente um situado numa região tão sensível. Com as novas centrais nucleares e a carvão a Turquia pretende acompanhar a procura crescente por electricidade na economia turca e ao mesmo tempo reduzir de 50 para 30% o peso do gás no seu mix electroprodutor.
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
Defender nuclear em Portugal é uma uphill battle
Defender a energia nuclear em Portugal é aquilo a que os ingleses designam de uphill battle. A maioria dos portugueses tem um medo inexplicável e não justificado em relação à energia nuclear. Vou admitir que seja a maioria pois começo a achar que existe uma grande minoria silenciosa que não é anti-nuclear. Atribuo esse medo ao desconhecimento. Mas a questão é que mesmo pessoas aparentemente informadas sobre o sector energético são incapazes de serem objectivos quando se fala de energia nuclear. Se os especialistas não são capazes de ser objectivos como se pode esperar que a maioria da população seja?
Um bom exemplo foi dado no programa Olhos nos Olhos 18 da passada terça-feira 31 de Janeiro. Ainda que não seja um especialista em energia nuclear Agostinho Pereira de Miranda é um advogado que há muitos anos trabalha com empresas no sector petrolífero. Prova do seu conhecimento do sector é dado no video acima quando, revelando dados interessantes sobre as reservas e o custo de exploração de tar sands no Canadá, desmonta a ideia do peak oil.
Primeiro argumento: Impacte ambiental. Começa por mencionar o custo ambiental do ciclo de vida de uma central nuclear. O custo ambiental de uma central nuclear tem de ser vista em relação à energia que ela produz. Como esta produz quantidades enormes de energia eléctrica a partir de pequenas quantidades de urânio a pegada ambiental por MWh produzido é das mais baixas (só comparável à hídrica) de todas as fontes de energia eléctrica conhecida.
Segundo argumento: o custo elevado. França tem a energia eléctrica mais barata da Europa. A Alemanha com a paragem das centrais nucleares viu o preço da electricidade aumentar. Os países com mais renovável tem as energias mais caras da Europa. Ouço muitos detractores do nuclear usar a segurança como razão mas o preço da electricidade? Éuma ideia ainda mais gasta do que o peak oil.Terceiro argumento: o tempo de construção. Per si não é um impedimento, requer planeamento estratégico de longo prazo. Em Portugal onde isso não existe pode considerar-se uma desvantagem. O grande inconveniente do prazo de construção alargado de uma central nuclear está nos custos decorrentes de derrapagens na construção. Ainda assim esse inconveniente não detém vários países de apostar fortemente na construção de centrais nucleares.
Quarto argumento: falta de reservas de urânio. Agostinho Miranda afirma que para que a energia nuclear fornecesse toda a energia do planeta seriam precisos 8.000 reactores nucleares ao invés dos actuais 450 (6%) e que para isso não existe combustível necessário. Os números estão correctos mas a argumentação é descabida. Primeiro, provavelmente apenas de carvão existem reservas para se pensar numa planeta com uma única fonte de energia. Depois Agostinho Miranda sabe que é tecnicamente inviável nas próximas décadas substituir o petróleo por electricidade no sector dos transportes. Fazer cenários de 100% de energia de origem nuclear é inútil e só revela parcialidade intelectual.
Mais, se o mundo decidisse apostar de forma tão decidida em centrais nucleares a investigação e desenvolvimento teria um enorme incremento de financiamento. Muito mais rapidamente a 4ª geração de centrais e a utilização de tório como combustível seria industrializado. Com estas inovações que se perspectivam a existência de reservas de combustível nuclear torna-se um problema inexistente. O peak uranium de Agostinho Miranda coloca-se tanto como o peak oil que o próprio afasta.
Logo de seguida cita Churchil para afirmar que o futuro está na diversificação de fontes. Afasta a energia nuclear por esta não ser capaz de fornecer toda a energia que o mundo precisa mas as renováveis fazem sentido num cenário de diversificação de fontes. Objectivamente Agostinho Miranda não consegue eliminar a solução nuclear e fá-lo esgrimindo entraves absurdos, entraves que não coloca a outras fontes de energia.
Defender o nuclear em Portugal é não só esclarecer quem tem preconceitos infundados sobre o assunto mas também contrariar argumentos inconsistentes de pessoas supostamente informadas. É um duplo desafio, uma uphill battle!
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
Serão assim tão poucos os apoiantes portugueses do nuclear?
A coisa que mais me tem impressionado desde que iniciei este blog e que inevitavelmente me leva a conversar mais sobre este assunto com amigos e não só é a quantidade de portugueses que apoia a introdução de energia nuclear em Portugal. Naturalmente não conheço pessoas suficientes para poder ter uma amostra do país nem, seguramente, o leque de pessoas com quem falo é representativa da população portuguesa mas ainda assim surpreende-me a quantidade de pessoas que nada têm contra a introdução de energia nuclear em Portugal se daí resultarem benefícios. A questão está longe de ser considerada prioritária mas em todo o caso não se opõem.
Creio que não dão muita relevância à questão porque, mesmo aqueles que não são anti-nuclear, têm a ideia de que as energias renováveis são baratas e sustentáveis. É inegável que a propaganda de Manuel Pinho, José Sócrates, António Sá da Costa entre outros foi eficaz e está largamente difundida na população portuguesa, mesmo entre engenheiros, economistas e pessoas com maior capacidade analítica.
Pode parecer contraditório mas sou da opinião que quanto mais pobre o país ficar mais oportuna e possível será a construção de uma (ou duas) centrais nucleares em Portugal. Quanto mais pobre o país estiver maior enfoque será colocado no preço da energia eléctrica, logo maior ambiente existirá para a aposta nuclear. O lançamento do terceiro manifesto do movimento Energia para Portugal acontece, por isso, no momento exacto.
E para os mais cépticos deixo este link da World Nuclear News que divulga uma sondagem na Grá-Bretanha que mostra que os britânicos consideram que a renovação do parque de centrais nucleares é o investimento em infraestruturas mais relevante que o governo de Cameron pode fazer.
Creio que não dão muita relevância à questão porque, mesmo aqueles que não são anti-nuclear, têm a ideia de que as energias renováveis são baratas e sustentáveis. É inegável que a propaganda de Manuel Pinho, José Sócrates, António Sá da Costa entre outros foi eficaz e está largamente difundida na população portuguesa, mesmo entre engenheiros, economistas e pessoas com maior capacidade analítica.
Pode parecer contraditório mas sou da opinião que quanto mais pobre o país ficar mais oportuna e possível será a construção de uma (ou duas) centrais nucleares em Portugal. Quanto mais pobre o país estiver maior enfoque será colocado no preço da energia eléctrica, logo maior ambiente existirá para a aposta nuclear. O lançamento do terceiro manifesto do movimento Energia para Portugal acontece, por isso, no momento exacto.
E para os mais cépticos deixo este link da World Nuclear News que divulga uma sondagem na Grá-Bretanha que mostra que os britânicos consideram que a renovação do parque de centrais nucleares é o investimento em infraestruturas mais relevante que o governo de Cameron pode fazer.
domingo, 29 de janeiro de 2012
Aviação vs energia nuclear, a bela e o monstro
Aparentemente nada têm que ver mas existem muitos paralelismos entre a energia nuclear e o transporte aéreo. A mais óbvia é o mediatismo de qualquer acidente que aconteça. Apesar de pouco frequentes quer os acidentes aéreos quer os acidentes em centrais nucleares têm normalmente consequências elevadas. Isso dá-lhes direito à atenção dos meios de comunicação de uma forma quase única. Os acidentes rodoviários são tão comuns que nos habituámos a considerar como algo quotidiano e cujo acontecimento é irrelevante. Em contraste, qualquer perda humana que envolva aviões, mesmo que seja do outro lado do planeta e não envolva conterrâneos, prende a nossa atenção.
Esta característica comum ao transporte aéreo e à energia nuclear de os acidentes poderem ter resultados brutais faz com que ambas as actividades estejam sujeitas níveis de legislação e supervisão anormalmente apertados. Isso resulta em exigências de segurança acima da média e na prática o avião e a central nuclear são, estatisticamente, as formas mais seguras de transporte e produção de energia eléctrica respectivamente. Mas uma coisa é aquilo que a racionalidade dos números demonstra outra é o receio irracional criado pelo mediatismo doas acidentes. Por mais que os números contrariem é difícil á maioria das pessoas ultrapassar a percepção que têm do risco que atribuem a viajar de avião ou viver perto de uma central nuclear.
Outra parte desse medo advém do desconhecimento. Um avião e um reactor nuclear são sistemas altamente complexos cuja compreensão não está acessível a todos. Quase toda a gente tem uma opinião sobre os dois mas será uma minoria que entende que força sustenta um avião no ar ou o que provoca a cisão do urânio no interior de um reactor nuclear. E a incompreensão gera medo.
Não obstante as contrariedades a aviação e a energia nuclear persistem e continuarão a existir simplesmente por serem essenciais à vida moderna. O comboio de alta velocidade constitui actualmente uma alternativa viável ao avião em viagens até 3 horas mas em distâncias maiores o avião é imbatível. E se a viagem evolver a travessia de oceanos o barco é incapaz de competir com a rapidez do avião. Na produção eléctrica também não existe nenhuma fonte capaz de produzir sustentavelmente (em poluição e combustível) energia de base como uma central nuclear.
O transporte aéreo e a energia nuclear são duas das actividades humanas mais regulamentadas e por essa razão seguras. São também das mais avançadas tecnologicamente e por isso sujeitas a equívocos e mitos. E são formas eficientes de dar resposta a necessidades da sociedade actual e por isso o seu desaparecimento devia ser impensável. É precisamente aqui que a aviação e a energia nuclear divergem. Apesar do medo que existe em viajar de avião não existe ninguém no mundo que recomende o desaparecimento do transporte aéreo. Já a energia nuclear tem muitos detractatores que iriam aplaudir o seu fim. Creio que é uma simples questão de imagem, enquanto o transporte aéreo remete a pessoa comum para um imaginário glamoroso e agradável de férias, destinos exóticos e hospedeiras simpáticas uma central nuclear é um unidade industrial sombria e feia, colonizada por homens mascarados e de onde saem bombas atómicas.
Deverão os governos recusar o bem-estar que a energia nuclear traz baseados apenas numa imagem pública pouco sedutora? Não deveria até ser inconstitucional privar as populações do progresso e do avanço tecnológico? Por muito pouco interessante que seja o design dos fato-macacos dos trabalhadores de uma central nuclear na sua essência a energia nuclear é benéfica para o desenvolvimento das sociedades.
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
Erro das renováveis na comunicação social
O sobrecusto das renováveis e cogeração é cada vez mais notícia e tema da imprensa generalista. Ontem, na SIC Notícias, Patrick Monteiro de Barros falou sobre alguns assuntos abordados neste blog, o desastre económico das renováveis, o monstruoso défice tarifário, a segurança da energia nuclear, a necessidade de baixar o preço médio da energia em Portugal, segurança e independência energética, impacte ambiental. Para ver aqui a partir do minuto 7:00: http://sicnoticias.sapo.pt/programas/jornaldas9/article1260592.ece
E hoje é o tema da coluna de Henrique Raposo no jornal Expresso.
E hoje é o tema da coluna de Henrique Raposo no jornal Expresso.
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Japão entra na espiral fantasiosa europeia
O Japão está a entrar na mesma espiral irrealista e ruinosa da Europa. O Japão está a querer escalar a barreira do nuclear. Mas vai estatelar-se. Como a Dinamarca, a Alemanha, a Itália e todos os países desenvolvidos que quiserem prescindir de energia nuclear.
Recapitulando, o Japão vai aligeirar leis ambientais do país e permitir a invasão de parques naturais para instalação de potência geotérmica. O Japão também quer começar a poluir no lugar de países mais pobres. E agora quer taxar outras fontes de energia para financiar a instalação de parques renováveis. E claro, o santo graal da revolução renovável, ou bem vistas as coisas, a prova definitiva que as fontes renováveis não chegam para iluminar o mundo moderno, a poupança de energia. Está com uma sensação de dejá vu?
O mais irónico, a cereja no topo do bolo, é que a exportação de tecnologia nuclear é uma prioridade nacional. Como escrevi anteriormente, a energia nuclear pode não ser suficientemente boa para os nipónicos mas serve para o resto do mundo.
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
Sobre a geração eléctrica açoriana
Central geotérmica da Ribeira - São Miguel |
Os Açores têm o mesmo problema, à escala, da Austrália e do Japão (dois casos que já comentei no blog). Como se tratam de ilhas não têm possibilidade de equilibrar a intermitência das renováveis solar e eólica com importação/exportação. A integração destas renováveis está por isso mais limitada. Por outro lado têm a sorte de ter potencial geotérmico. Depois da geotérmica e da hídrica (sinceramente não sei até que ponto o potencial de ambas está explorado), biomassa e solar são melhores do que a eólica pois a sua produção está mais ajustada ao consumo. Marés ainda é uma incógnita.
Mas a grande questão é o facto de 70% da electricidade da região vir de queima de derivados de crude o que devia diminuir a bem do ambiente e do custo futuro. Tal como em todo o mundo a energia de base devia originar primordialmente em centrais nucleares. Por exemplo, uma hipótese seria equacionar, nas ilhas de maior consumo, mini-centrais nucleares flutuantes como a que mencionei aqui. E terá de haver sempre disponibilidade térmica para assegurar pontas de consumo.
Em resumo, a diversificação de fontes de electricidade na Região Autónoma dos Açores é possível e desejável. Dada a latitude dos Açores a solar tem potencial. Dada a exiguidade de espaço nas ilhas, impacte visual e custo a aposta tem de ser bem ponderada e comedida. Como forma de proteger o preço da electricidade da flutuação dos preços do crude e diminuir a poluição provocada pela geração eléctrica, a prioridade devia ser dada a instalar capacidade nuclear para assegurar a base do diagrama de produção/consumo.
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