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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Alemanha que limitar subvenções para renováveis

Existem limites para a subsidiação massiva num Estado, até para o de um dos países mais ricos do mundo com a Alemanha. O seu Ministro do ambiente, Peter Altmaier, vai propor legislação para estabelecer um tecto para a quantidade de dinheiro que os consumidores alemães têm de pagar para viabilizar a produção de energia a partir de fontes renováveis (solar, eólica e biomassa). O facto de a proposta partir de Peter Altmaier diz bem sobre a situação insustentável a que se chegou.

Naturalmente esta proposta foi considerada ultrajante pelos partidos de esquerda. Para o SPD e "verdes" It will have massive consequences for the green revolution, it hasn't been thought through. Claro que sim, as energias renováveis não sobrevivem sem subvenções. Esta medida, se aprovada, é como tirar uma carta do andar de baixo de um castelo de cartas.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

A improdutividade é uma vantagem das renováveis?

A Austrália é um dos poucos países que continua a ratificar o Protocolo de Kyoto e uma das nações em que a narrativa ecologista do aquecimento global mais está disseminada nas instituições oficiais. Paradoxalmente também é o mais exportador de carvão e tem um dos parques electroprodutores mais poluidores do mundo.

Recentemente o Energy Research Institute da University of Melbourne realizou o estudo Zero Carbon Australia Stationary Energy Plan onde defende que a Austrália poderá, daqui a 10 anos, ambicionar que toda a sua energia eléctrica tenha origem renovável. A proposta é que 40% venha de turbinas eólicas e a maior fatia de 60% venha de centrais Concentrated Solar Power (CSP). Não me parece necessário discutir a exequabilidade técnica, viabilidade económica e segurança energética desta solução. Espanha é provavelmente o país do mundo com maior experiência em centrais CSP e aqui fiz um cálculo do custo de produção destas centrais espanholas.

Mas ainda mais interessante é que neste estudo se afirma:
switching to a 100 per cent-reliant renewable energy strategy wins big: it would provide approximately four times more permanent jobs than the fossil fuel sector in Australia, and even offset the number of jobs lost in the switch-over 
Afirmar que é vantajoso as renováveis precisarem de quatro vezes mais de mão-de-obra para realizar o mesmo que actualmente mostra bem a objectividade e o bom senso de quem realiza estes estudos. Infelizmente é um argumento corrente no wishful thinking pró-renovável.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

A paridade de custo das renováveis é um mito

Um dos mitos enraizados sobre as fontes renováveis intermitentes é que um dia, com a subida do preço dos combustíveis fósseis, serão competitivas no custo de produção e as subvenções actuais não serão necessárias.  A ideia é totalmente descabida mas perpetuada de tal forma pelo movimento "verde" neo-socialista que pessoas como Paul Krugman cometem o erro de não fazer contas.

No post linkado já tinha escrito que é preciso que a energia eólica e solar se obtenha de borla para que seja competitiva. E a probabilidade de isso acontecer um dia é pouco maior do que nula.
As fontes renováveis intermitentes não têm uma característica fundamental para uma fonte de energia eléctrica poder ser um pilar para a produção energética de um país, previsibilidade. As fontes clássicas estão  para a produção eléctrica como a rega está para um pomar, as fontes renováveis são como a chuva. Pode haver ou não haver chuva mas um pomar não prescindem de um sistema de rega para depender da imprevisibilidade da chuva. A chuva influência a escolha de ligar a rega, não a instalação. Da mesma forma todos os países que apostaram em eólica e solar mantiveram o parque electroprodutor clássico que já tinham. Em nenhum país do mundo as fontes renováveis fecharam uma barragem ou uma central termoeléctrica ou nuclear. Em Portugal, que é provavelmente o país do mundo com maior integração de renováveis intermitentes no consumo, nenhuma central termoeléctrica fechou por causa disso.

Os parques renováveis intermitentes não substituem as fontes clássicas, adicionam potência instalada, que pode ou não produzir energia eléctrica. Em relação ao custos é exactamente a mesma coisa, existe soma de custos. O resultado só é igual se uma das parcelas (o custo das intermitentes) for zero.

Alguém dirá oportunamente que quando, ou se, existir uma uma rede transeuropeia de alta-tensão haverá sempre alguma produção renovável que permitirá prescindir de uma pequena parte da potência nuclear/termo/hidroeléctrica instalada. Recuperando a analogia do pomar, se este for suficientemente extenso, pela lei das probabilidades, alguma parte dele terá água da chuva e produzirá fruta.

Vamos ultrapassar questões como a resistência das populações ao impacte paisagístico desta rede a ou distribuição de custos entre os diversos países da União Europeia. A sua necessidade advém, acima de tudo, da integração de renováveis e a elas deve ser imputado o custo.

Talvez mais importante é que a presença de renováveis intermitentes as centrais termoeléctricas deixam de trabalhar em cruzeiro para passarem a fazer ciclos de arranque/paragem. E fazendo nova analogia, um automóvel a andar a uma velocidade estabilizada em estrada gasta sempre menos do que no pára-arranque das cidades. isto é, a integração de renováveis intermitentes aumenta o custo de exploração das centrais termoeléctricas.
Voltamos ao início. Incorporemos o custo da rede eléctrica para ir buscar a electricidade às fontes renováveis intermitentes dispersas e longe dos centros consumidores. Mais a perda de eficiência das centrais termoeléctricas. Mesmo admitindo o hipotético desmantelamento de alguma potência convencional o custo de produção renovável terá de ser nulo para valer a pena economicamente. E num cenário em que as renováveis não valham mais de 10% do consumo.

Caso o plano seja mais ambicioso entra novo custo, armazenar produção renovável excedentária. Quando se pretende ultrapassa 10% de consumo a partir de fontes intermitentes como acontece em Portugal ou na Dinamarca há necessidade de consumir produção excedentária em barragens, outro custo que precisa de ser contabilizado.

Em resumo, a única forma de as fontes renováveis intermitentes poderem sobreviver em concorrência é se o seu custo de produção for nulo e sem ultrapassarem cerca de 10% do consumo. Acima desse valor toda a adição de renováveis intermitentes é uma menos-valia que encarece o preço final de electricidade.

quinta-feira, 1 de março de 2012

APREN ameaça processo jurídico contra cortes nas rendas

António Sá da Costa, Presidente da APREN, tem tentado, ao longo de anos, convencer os portugueses que as energias renováveis intermitentes (eólica e solar) são competitivas e estratégicas para o país. Um dos últimos grandes esforços de mistificação da associação - o estudo da consultora Roland Berger -custou aos portugueses quase €280.000.


Mas quando Sá da Costa começa a sentir a actual política de incentivos ser ameaçada atira as conclusões do estudo e toda a sua retórica para trás das costas e ameaça recurso à via jurídica. Nada de surpreendente ou que já não tivesse previsto neste blog. Desde o começo do ano Sá da Costa vinha mostrando na imprensa o seu desconforto em relação às imposições da troika relativamente aos apoios concedidos à geração eléctrica em Portugal. As energias renováveis intermitentes são incapazes de sobreviver sem as actuais rendas garantidas que tornam este negócio isento de risco para os seus promotores. O fim das subvenções é uma sentença de morte para os associados da APREN.


Acredito que muitos portugueses que viram parte dos seus ordenados cortados e pagam uma das mais caras electricidades da Europa compreendem a posição de Sá da Costa.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A obsessão com a criação de emprego nas renováveis

Os defensores portugueses das renováveis têm dois argumento obsessivos, a potência instalada e a criação de emprego. É compreensível, não têm outros números em que fiquem bem na fotografia. Sobre a irrelevância da potência instalada face à energia produzida já me referi várias vezes, este post debruça-se sobre a a propalada criação de emprego. A APREN, com toda a sua demagogia, previa, em 2008, que em 2015 as energias renováveis criariam 60.800 empregos. Um número perfeitamente ilusório que testemunha a eufórica complacência pró-renovável que se vivia em Portugal antes da recessão mundial começar a trazer alguma objectividade a alguns observadores do sector. Hoje, até a APREN terá de rever os seus números depois do anúncio em relação ao congelamento de novos projectos renováveis. Não vou fazer uma contabilidade dos empregos efectivamente gerados pelas fontes renováveis em Portugal até porque a discussão não precisa de chegar tão longe para se desmontar este argumento falacioso dos defensores das renováveis. E não precisa por três razões fundamentais:
  1. Contar empregos criados e não os dividir pela energia eléctrica produzida não nos diz nada sobre a importância desses empregos. O sector eléctrico não foge à necessidade de eficiência e a eficiência só se mede reduzindo cada emprego à energia eléctrica que ele coloca na rede.
  2. Embora aparentemente desconhecido em Portugal, nos outros países europeus que apostaram fortemente em energias renováveis olha-se para o sector de uma forma mais científica e estudos aí realizados revelam que as energias renováveis destroem mais empregos na economia real do que aqueles que criam. Em Portugal, onde ao contrário dos países citados nunca existiu uma indústria de equipamentos para parques eólicos e solares, o rácio entre empregos criados e destruídos, principalmente nos mais qualificados, é ainda pior. Isso não interessa aos empresários que têm beneficiado das subvenções às renováveis mas é central numa análise do contributo positivo que o sector trouxe à economia portuguesa e à geração de emprego.
  3. Mas acima de tudo a criação de emprego não é um vantagem quando se fala de sector electroprodutor. Um centro electroprodutor é tanto melhor quanto menos empregos gerar. 
Confesso sentir algum constrangimento em escrever sobre conceitos tão básicos de racionalidade empresarial mas quando se usa tantas vezes o argumento da criação de emprego parece que nem toda a gente tem esta noção. A energia eléctrica não é um produto acabado que apela à emoção como um carro ou roupa ou um serviço diferenciado como um hotel de luxo ou um spa. É nesse tipo de produtos ou serviços que se consegue fazer diferença, seja na qualidade intrínseca ou tangível dos mesmo seja em valores mais abstractos e emocionais.

A energia eléctrica é um serviço básico, é um meio e não um fim em si mesmo. Pela particularidade de a energia eléctrica não ser um bem transaccionável e provir da mesma rede de distribuição nem sequer é possível distinguir a sua origem. Os consumidores não têm hipótese de fazer opções de origem da energia que consomem. Eu não sei se a energia eléctrica que me permite estar neste momento a escrever este texto no computador veio de Sines, Espanha ou de um parque eólico qualquer. Se um restaurante tiver um empregado por cada mesa ao invés de 10 mesas o serviço é com certeza melhor. Mas se amanhã a central do Carregado contratar mais 50 trabalhadores isso não mudará nada na forma como a máquina de lavar roupa cá em casa trabalha. Pode soar mal mas o sector electroprodutor ideal é aquele que não emprega ninguém. Ou aquele que emprega tão pouca gente quanto seja possível sem comprometer a sua eficiência.

Outra coisa completamente diferente seria os defensores portugueses das renováveis vangloriarem-se da criação de empregos qualificados indirectos na pesquisa e desenvolvimento, não na produção de energia. Porém isso é coisa que não existe. Isso seria estruturante e revelaria saúde e pujança do sector. Mas como se sabe em Portugal nunca houve visão para tal e neste momento é tarde. É tarde porque 2010 deverá ter marcado o pico da aposta renovável no mundo ocidental. E é tarde porque os chineses estão a tomar conta da indústria de fabrico de turbinas eólica e painéis solares.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Portugal congela novos projectos PRE

Como era de alguma forma esperado e seguindo as pisadas do governo espanhol o executivo português decidiu congelar novos projectos de produção eléctrica em regime especial que é o mesmo que dizer fontes renováveis (fica de fora a hídrica) e cogeração. Pressionado pela troika e num ambiente de contracção da enconomia nacional não havia muita escapatória. Já em Outubro tinha escrito aqui que o Plano Energético para 2020 tinha objectivos inconciliáveis e que mais tarde ou mais cedo algum teria de cair. Felizmente o bom senso prevaleceu e o sector pode começar a ser analisado com mais racionalidade daqui em diante.

Espero que agora os objectivos do país nesta matéria passem, como defendo neste blog, pelo fim da aposta no carvão e que se substitua carvão e excesso de renováveis por nuclear e gás natural. Se Portugal fizer isso estará na vanguarda mundial da criação de um mix energético competitivo e sustentável. Ou então podemos esperar que os nossos vizinhos, alemães ingleses e o resto da Europa nos mostrem o caminho. Não tenhamos dúvidas, tal como a IAE (International Energy Agency) tem vindo a prever nos seus relatórios o carvão, o gás natural e o nuclear continuarão a ser os pilares da produção eléctrica nas décadas vindouras. Apagar o carvão do mix seria um excepcional exemplo de modernidade e protecção ambiental que a Europa podia dar ao mundo, principalmente ao mundo emergente.

Agora coloca-se a questão, para que servirá a fábrica de turbinas eólica que a China Three Gorges prometeu como contrapartida na privatização da EDP. E pode-se perguntar também que interesse estratégico pode haver na entrega do controlo da principal eléctrica portuguesa a uma empresa que aposta maioritariamente (pelo menos por enquanto) em fontes renováveis quando o país acaba de virar as costas a essas fontes. Mas sobre a venda da EDP aos chineses escreverei noutro post.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Espanha suspende subvenções a novos projectos renováveis

Uma semana depois de o governo alemão anunciar o fim progressivo das subvenções à energia solar, o governo espanhol anunciou, como se esperava, suspensão (para já temporários) no apoio dado a futuros parques produtores de energia renovável. Como tenho vindo a acompanhar aqui no blog o executivo anterior já tinha feito uma proposta de redução de apoio às eólicas que os intervenientes no sector apelidaram de ruinosa. E as grandes utilities espanholas tinham pedido uma moratória para impedir novos parques termosolares concentrados.

Mas a lei anunciada hoje é mais radical dado que qualquer parque eólico, solar, termosolar, cogeração ou biomassa construuído a partir de hoje terá de concorrer no mercado. E de acordo com a notícia nenhum prazo foi dado para a manutenção desta lei que na prática deverá parar de imediato novos projectos renováveis. A medida é sem dúvida o reflexo do défice tarifário de 24 mil milhões de euros que nuestros hermanos acumulam numa altura em que o país entra em recessão.

Em Portugal, depois do recente anúncio do congelamento de novos parques eólicos, é sabido que o ministério de Economia está a avaliar o sector e dentro em breve deverá apresentar novidades. Desconfio que, talvez não com a mesma contundência, mas o executivo português deverá seguir as pisadas do governo de Rajoy.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Erro das renováveis na comunicação social

O sobrecusto das renováveis e cogeração é cada vez mais notícia e tema da imprensa generalista. Ontem, na SIC Notícias, Patrick Monteiro de Barros falou sobre alguns assuntos abordados neste blog, o desastre económico das renováveis, o monstruoso défice tarifário, a segurança da energia nuclear, a necessidade de baixar o preço médio da energia em Portugal, segurança e independência energética, impacte ambiental. Para ver aqui a partir do minuto 7:00: http://sicnoticias.sapo.pt/programas/jornaldas9/article1260592.ece 

E hoje é o tema da coluna de Henrique Raposo no jornal Expresso.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Mais renováveis, mais linhas de alta tensão


Não é só na Alemanha que a intensificação de eólica e solar obriga ao reforço da rede eléctrica. Também nos EUA, em particular o estado do Texas, onde a aposta eólica é particularmente forte, o sonho renovável esbarra na realidade de ter de investir somas avultadas em linhas de alta tensão para levar a electricidade dos locais em que é produzida aos pólos onde é consumida. Estes três gráficos são particularmente elucidativos. Como seria de esperar a maior parte da rede eléctrica norte-americana situa-se nos estados da costa oeste e leste onde reside grande parte da população (ver primeiro mapa).

No entanto, o maior potencial eólico onshore está situado precisamente no centro do país onde escasseia consumo e linhas eléctricas para transportar a electricidade produzida. Como se pode ver no mapa abaixo, a exploração da energia do vento implica a construção de linhas de alta tensão um pouco por todo o centro dos EUA.


Relativamente ao potencial solar do país a situação não é muito diferente. As melhores localizações estão situadas a sul em estados que fazem fronteira com o México. Apesar de neste mapa estar desenhada uma proposta de rede eléctrica pra distribuir esta energia apenas pelo oeste do país será necessário investir na rede se se quiser tirar todo o seu potencial.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Rede eléctrica alemã no limite

Quando há uns tempos escrevi aqui que a Alemanha é potencialmente o melhor cliente europeu para novos postes de electricidade de design mais atractivo estava a pensar em notícias como esta da agência Bloomberg que diz que a rede eléctrica está no limiar da sua capacidade. 

Contrariamente ao que os defensores das renováveis defendem, a troca de produção nuclear por renovável, que a Alemanha tem vontade de fazer, vai exigir um reforço profundo da rede eléctrica. É fácil de perceber porquê. A Alemanha pretende encerrar centrais nucleares localizadas nos arredores das suas cidades mais industrializadas e compensar com parques eólicos no Mar do Norte e parques solares na Grécia e no norte de África.  

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Sobre a geração eléctrica açoriana

Central geotérmica da Ribeira - São Miguel
Já me têm perguntado e pedido para comentar sobre a produção eléctrica nas regiões autónomas dos Açores e Madeira. Tenho abordado mais a perspectiva mundial e o panorama de Portugal continental mas faço um pequeno comentário sem grande conhecimento do caso açoriano devo admitir.

Os Açores têm o mesmo problema, à escala, da Austrália e do Japão (dois casos que já comentei no blog). Como se tratam de ilhas não têm possibilidade de equilibrar a intermitência das renováveis solar e eólica com importação/exportação. A integração destas renováveis está por isso mais limitada. Por outro lado têm a sorte de ter potencial geotérmico. Depois da geotérmica e da hídrica (sinceramente não sei até que ponto o potencial de ambas está explorado), biomassa e solar são melhores do que a eólica pois a sua produção está mais ajustada ao consumo. Marés ainda é uma incógnita.

Mas a grande questão é o facto de 70% da electricidade da região vir de queima de derivados de crude o que devia diminuir a bem do ambiente e do custo futuro. Tal como em todo o mundo a energia de base devia originar primordialmente em centrais nucleares. Por exemplo, uma hipótese seria equacionar, nas ilhas de maior consumo, mini-centrais nucleares flutuantes como a que mencionei aqui. E terá de haver sempre disponibilidade térmica para assegurar pontas de consumo.

Em resumo, a diversificação de fontes de electricidade na Região Autónoma dos Açores é possível e desejável. Dada a latitude dos Açores a solar tem potencial. Dada a exiguidade de espaço nas ilhas, impacte visual e custo a aposta tem de ser bem ponderada e comedida. Como forma de proteger o preço da electricidade da flutuação dos preços do crude e diminuir a poluição provocada pela geração eléctrica, a prioridade devia ser dada a instalar capacidade nuclear para assegurar a base do diagrama de produção/consumo.

domingo, 20 de novembro de 2011

A paridade do fotovoltaico é expectável esta década?

Independentemente de, com a tecnologia disponível actualmente, a energia solar não ser capaz de ser economicamente competitiva devido à necessidade de ter backup térmico a armazenagem tenho algumas dúvidas que o possa vir a ser numa comparação directa kWh-kWh produzido como defendeu recentemente Paul Krugman.

A descida do custo de produção de paneis fotovoltaicos no último ano terá sido mais conduzida pela migração de muita produção para a China e pelo esmagamento da margens dos fabricantes. A diminuição do custo de produção unitário com o aumento da produção também tenderá para zero com a maturidade da tecnologia. 

O último artigo de opinião no Energy Tribune aborda precisamente este tema e dá uma visão que me parece realista e precisa de ter de ser tida em conta. Será interessante perceber se em 2020 a produção eléctrica a partir de fonte solar consegue sobreviver com os cada vez mais diminuídos subsídios que se antevê a que se soma:
(...)even if PV manufacturing costs continue to fall quickly for the next few years, it's less clear that the PV prices paid by project developers, businesses and consumers will follow suit, particularly if the current low margins lead to a global shakeout or consolidation among producers.   

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Alemanha quer limitar instalação de potência solar

De acordo com a Bloomberg o governo alemão na pessoa do ministro da Economia Philipp Roesler pretende que, na próxima revisão do Erneuerbare-Energien-Gesetz (EEG), agendada para Julho de 2012, a potência solar instalada anualmente seja limitada a 1 GW. Só em 2010 a Alemanha incrementou essa potência em 7,4GW. 

Um representante do partido "verde" alemão considera que esta restrição "would push the solar industry out of Germany”. A falência da indústria solar alemã está em marcha não só devido ao abrandamento da procura interna mas em grande parte pela concorrência chinesa.

Já este ano o governo alemão tinha feito uma adenda ao EEG no sentido de limitar a instalação anual a 3,5GW e reduzir no ano seguinte a subvenção solar caso esse valor fosse superado. Como nos primeiros 9 meses deste ano mais 5,2GW de painéis solares foram instalados em Janeiro de 2012 os incentivos terão um corte de 15%.

Este corte progressivo do incentivo ao solar no país do mundo que tem mais potência instalada visa controlar os elevados custos da sua produção. Contudo, e como abordarei brevemente noutro post, a Alemanha planeia construir parques solares na Grécia.

A recente adenda não trouxe apenas cortes, as tarifas FIT para a biomassa subiram 30%, geotérmica 50% e eólica offshore 15%.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

RenewableUK tem humor britânico

O comentário de um leitor neste post sobre o shale gas britânico levou-me a pesquisar sobre um relatório elaborado pela consultora KPMG. O relatório intitulado "Thinking about the Affordable" compara dois cenários de mix energético do Reino Unido em 2020, um com forte presença de fontes renováveis e outro com mais peso de nuclear e gás natural. Infelizmente não encontro o relatório pelo que não posso comentar sobre ele. Consegui arranjar um resumo com dois gráficos que ilustram, na visão da KMPG, a grande diferença entre os dois cenários. Na hipótese renovável o gasto em infraestruturas supera em £34B (biliões anglo-saxónicos) a via térmica/nuclear. No primeiro caso é de £108B e no segundo de £74B. O relatório tira três importantes conclusões:
  1. Economic modelling of different electricity generation scenarios, to calculate the cheapest way of meeting the UK’s 2020 emission reduction targets, has shown that achieving self-imposed renewable energy targets as well as EU carbon reduction targets could cost an additional £34 billion of upfront investment;
  2. Planning constraints and ‘not in my back yard’ public opinion of onshore wind is costing the UK more than £10 billion. Subject to any planning reform, this means  more expensive offshore wind developments are needed;
  3. A heavy weighting of renewable energy in the low carbon generation mix costs an additional £55 more per tonne of CO2 saved than the cheapest scenario.
Não encontrei o relatório da KPMG mas encontrei a resposta da associação inglesa de energia eólica, ondas e marés, RenewableUK. O comentário enferma das habituais lacunas da narrativa pró-renovável.

A RenewableUK prevê que sem renováveis "electricity bills will be pushed up by 52% because of the volatility of fossil fuel prices". Os preços do gás natural, à conta do shale, têm descido em certos mercados, caso do americano. Mesmo a nível global não é provável que o preço do gás natural suba muito nas próximas décadas. Se em solo inglês existirem reservas de gás de xisto como a Cuadrilla admitiu o sector eléctrico britânico dependerá muito menos da importação do que até agora.
O estudo da KPMG refere que com renováveis é preciso investir mais £34B o que só pode surpreender mesmo quem vive iludido com estas fontes. Como tenho repetido inúmeras vezes só renováveis + gás natural (para backup) + barragens ou baterias (para armazenar) pode ser comparado a nuclear + gás natural. Não é difícil perceber que numa solução com elevado peso de renováveis seja preciso investir mais em parque electroprodutor, para além da rede, mesmo que parte dele vá ficar parado boa parte do tempo.

Os argumentos da RenewableUK atingem níveis humorísticos como neste por exemplo:
In Germany, Denmark and Spain, three European countries with a high level of wind power deployment, the low operational cost of wind means that it is the first choice of power source used to meet demand, displacing more expensive options, and thereby actually reducing rather than increasing electricity prices.
Na Alemanha, Dinamarca, Espanha (ou Portugal) a energia eólica não é a "primeira escolha" para responder à procura. Nestes países com excesso de eólica a rede está legalmente obrigada a escoar preferencialmente energia renovável. Se não houvesse esta prioridade imposta nenhum destes países a ia adquirir de livre vontade.

E fica ainda melhor:

The report states that wind farms only generate electricity for about one-third of the time. This is factually incorrect. Wind turbines in fact generate electricity for 80-85% of the time. They generate the maximum possible amount at full speed for about one-third of the time. KPMG appear to have confused these two concepts, leading to a basic error which does not inspire confidence in the rest of their research.
Claro, as turbinas funcionam entre 80-85% do tempo e não os 33% ditos pela KPMG (a média mundial andará pelos 25% mas adiante). É perfeitamente irrelevante que durante períodos destes 80% do tempo os aerogeradores sirvam para pouco mais do que manter acesa a iluminação pública, para a RenewableUK as turbinas trabalham tantas horas quanto um reactor nuclear!

Será que a RenewableUK não entende que o factor de capacidade é uma forma expedita de comparar a produtividade entre fontes de electricidade? Será que a RenewableUK não percebe que dizer que a eólica produz durante 1/3 do tempo não é dizer literalmente que as turbinas trabalham ininterruptamente de Janeiro a final de Abril e depois param o resto do ano?

O irrealismo prossegue:
"Those countries who previously embraced wind energy have reaped the rewards in terms of job creation. In Germany 80,000 people are employed in the wind energy sector, in contrast in the UK which missed its opportunities with onshore wind in the 1990s. Our wind industry currently employs just 10,600. RenewableUK's report "Working for a Green Britain" shows how this will could be increased to almost 90,000 people by 2020, but only if the Government recommits to offshore wind and meeting the 2020 renewable energy targets"
Por "recommits" deve entender-se "subvencionar". Com apoios estatais e prioridade no acesso à rede a violar o mais básico princípio da concorrência todos os empregos se podem criar, mesmo o de vendedor de areia no deserto.

Fico em pânico a pensar que são organizações com esta capacidade de pensamento e argumentação que influenciam o futuro do sector eléctrico europeu! Ou será que é deliberado? Coloca-se a ética e a honestidade na gaveta para continuar a viver à custa de subsídios?

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Paul Krugman blinded by the sun

In his last column in the New York Times Paul Krugman writes about power generation and either shows his lack of knowledge or a complete biased opinion on the subject. He starts by criticizing hydraulic fracturing technology that allows the exploration of shale gas and in which the americans are probably world leaders. Robert Bryce, a renowned journalist and author about the energy business debunks Krugman's arguments and refers the wealth and jobs created through the exploration of shale gas plus the drop in gas prices. In my opinion even more importantly than the beneficts to the price stability, shale gas reorganizes the world gas reserves and that brings energy security to several countries, namely the USA and european coutries. And that is something Krugman can't ignore. The Energy Information Administration (EIA) expects that in 2035 46% of natural gas consumed in the USA will come from shale. Russian Federation and Iran alone own the best part of the conventional natural gas reserves and none can be considered the most friendly country.

Krugman thinks that hydraulic fracturing should internalize all costs associated and his right. Not only that but production of electricity with fossil fuels should pay for all the damages that it makes. If that happens nuclear power will be the cheapest way of power generation.

In the second part of the article Krugman presents solar power as the ultimate solution for power generation and explains that solar power costs follow Moore's Law. He refers this article in Scientific American magazine that says that solar power will achieve price parity with current electricity price in 2020c or early. In 2030 it will be half that price. The numbers seem very optimistic to me but they are irrelevant to Krugman's column. One cannot compare 1 kWh of solar power with 1 kWh produced in a gas powered power plant. It is like compare apples and oranges. Only solar + gas (as backup) + pumped-storage dam or batteries (for storage).

Let's imagine the (impossible) scenario of having solar power capacitiy to produce momentarily (not permanently due to intermittency) all USA power consumption. Even then USA would require exactly the same amount of gas powered power stations than in scenario of 100% gas covering the demand. Even if all this power plants could only, as a whole, be needed for one hour in a year they would have to be ready. In the solar scenario the biggest portion of income of the gas power plants would come from stand-by contracts instead of selling energy to the grid.

One doesn't need to be a Nobel prized economist to understand that solar power can only achieve price parity with natural gas when solar power can cost nothing and hydraulic pump-storage goes for free. When will it happen? Never!

If Krugman argues that fracturing should pay for its shortcomings he must also demand that solar (and wind for that matter) internalize the costs of backup and storage. That is exactly what is happening in Virginia.

Paul Krugman julga ter sido iluminado pelo sol

No Espectador Interessado li esta pequena polémica entre o Nobel da Economia Paul Krugman e o reconhecido jornalista na área da energia Robert Bryce.

Paul Krugman
Na sua última coluna de opinião no New York Times Krugman escreve sobre energia eléctrica e mostra o muito pouco que sabe sobre o assunto ou a forma tendenciosa como analisa a questão. Começa por deitar abaixo o hydraulic fracturing ou fracking que permite explorar o shale gas e onde os americanos estão na vanguarda mundial. Confesso não ter uma opinião formada sobre os riscos da técnica e preciso de estudar mais sobre o assunto. O bom senso diz-me que é perigoso mas o bom senso também me diria que as fontes renováveis de energia são baratas. Robert Bryce que é um conhecedor da matéria desmonta os argumentos de Krugman e menciona a riqueza, emprego e estabilidade de preço do gás natural que a exploração de shale nos EUA tem permitido. Este artigo no Energy Tribune menciona o caso inglês mas chega à mesa conclusão que Bryce, os riscos de exploração do shale gas são largamente compensados pelos empregos que gera e pela manutenção do preço baixo do gás natural. Na minha opinião ainda mais importante do que o preço é a segurança energética que o shale traz aos EUA e Europa, um facto primordial que Krugman não pode ignorar.

Krugman acrescenta que sobre a actividade do fracking deviam ser imputados todos os custos associados, opinião com a qual concordo inteiramente e que estendo ao funcionamento das centrais a gás.

Depois apresenta-nos a energia solar como o futuro do fornecimento de energia eléctrica alegando que o seu custo segue a Lei de Moore. E cita este artigo da Scientific American que prevê que o custo da energia solar consiga paridade com o preço actual do mercado americano em 2020, baixando para metade em 2030. Os números parecem-me extremamente optimistas mas são irrelevantes para o artigo de Krugman. Não se pode comparar o "valor" de 1 MWh solar com 1 MWh vindo da queima de gás. Enquanto Krugman e os pró-renováveis insistirem nesta narrativa estéril é impossível debater soluções energéticas.

Só energia solar + gás natural (para backup) + hidro ou baterias (para armazenagem) pode ser comparado a gás natural. Imaginemos um cenário (irreal na prática) de os EUA terem instalada potência solar capaz de cobrir instantaneamente, mas não permanentemente dada a intermitência da fonte, o consumo do país. Neste cenário o número de centrais a gás teria de ser o mesmo que num cenário 100% gás. A diferença é que no cenário solar + gás + armazenagem as centrais termoeléctricas receberiam mais dinheiro pela garantia de potência do que pela venda de electricidade.

Assim, não é preciso ser um economista nobelizado para entender que a solução solar só conseguirá paridade com a produção a gás quando a produção solar for de graça e a armazenagem em barragens ou baterias sair de borla. Quando é que isso vai acontecer? Nunca!

Se Krugman defende que o shale pague os custos das externalidades nocivas também tem de apresentar a factura das externalidades negativas da solução solar. E o mesmo devia fazer o governo de Portugal.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Dois argumentos anti-nuclear dos pró-renováveis

Boeing 787 - um marco em 2011, obsoleto em 2041
Na semana passada estive na conferência na Ordem dos Engenheiros em que se debateu a plausibilidade económica de Portugal ter uma central nuclear. A resposta a esta questão é eminentemente política dado que Portugal não tem nenhuma particularidade geográfica ou técnica que o torne singularmente adverso a ter geração eléctrica nuclear. Se o resto do mundo pode Portugal também.

Os dois oradores foram o Eng. Pedro Sampaio Nunes, especialista na área energética e conhecido defensor da opção nuclear e o Prof. Manuel Collares Pereira da Universidade de Évora que defendeu a via renovável. Discutir nuclear vs "novas renováveis" (eólica, solar, ondas, marés, biomassa, etc) torna-se infrutífero dado que, com a tecnologia actual, as fontes renováveis não têm escala para substituir a produção fóssil ou nuclear. E como defendi aqui, a quarta geração da energia nuclear será, de um ponto de vista prático, renovável.

Ainda assim, gostei do resultado do debate e creio que se deu mais um pequeno passo para a introdução de energia nuclear em Portugal. Durante a sua apresentação o Prof. Collares debitou os típicos lugares-comuns, medos infundados e completa ausência de argumentos técnicos que permitam consubstanciar a impossibilidade de Portugal instalar um reactor nuclear. Não vou rebater tudo o que foi dito até porque os próprios provavelmente não virão aqui defender-se. Mas vou realçar duas ideias proferidas, um por Manuel Collares e o outro pelo Presidente da APREN, António Sá da Costa.

Argumento 1- Manuel Collares - A tecnologia nuclear evolui

Este argumento é pró-nuclear, é bom a tecnologia de reactores evoluir, no entanto foi a base da argumentação anti-nuclear de Manuel Collares. Este mês o voo comercial inaugural do Boeing 787 deu direito a peças nos telejornais em todo o mundo e justificadamente. Não obstante os atrasos no seu lançamento, o 787 marca uma nova geração de aeronaves comerciais. Daqui a 30 anos o 787 estará inevitavelmente desactualizado mas no presente é uma referência de eficiência em transporte intercontinental.

Os reactores Areva EPR ou Westinghouse AP1000 de geração III+ são, em 2011, a última palavra em energia atómica, a forma mais limpa e segura de produzir electricidade de base mas Manuel Collares rejeita-os alegando que dentro de 30 anos estarão obsoletos. Pior, como consomem o raro isótopo U235 cujas reservas darão para mais 30 anos (segundo Collares), um reactor destes nunca poderia funcionar todo o seu tempo de vida útil (60 anos) por falta de combustível. Creio que os ingleses, checos, finlandeses entre outros deviam ser avisados disto.

Collares disse que os reactores de quarta geração serão viáveis pois consomem U238 muito mais abundante e serão bastante mais eficientes. Portugal só pode, por isso, pensar em energia nuclear na segunda metade deste século. Só que daqui a 50 anos a fusão nuclear poderá ser uma hipótese real, nessa altura os reactores Gen IV estarão obsoletos. Portugal deve, nesta óptica, esperar por 2100.

Este tipo de argumento, se aplicado a todas as fontes de energia eléctrica, é mortal para o sector renovável. Se a tecnologia evoluir então não faz sentido Portugal instalar os actuais aerogeradores e painéis solares. Se Collares defende a instalação da actual tecnologia então está a admitir que a tecnologia não vai evoluir. Se a tecnologia não evolui a base para a existência das tarifas feed-in deixa de existir pelo que devem acabar de imediato. Seja qual for a hipótese  é um beco sem saída para as fontes renováveis.

No final de contas, é irrelevante qual vai ser o estado da tecnologia e a competitividade comparativa entre as várias fontes de energia em 2030, é um exercício especulativo com pouca importância prática. Em 2011 a solução nuclear não só é viável como é a mais racional. É isso que deverá importar aos decisores políticos.

Argumento 2 - Sá da Costa - Nuclear precisa de bombagem em barragens

Muitas vozes têm dito que a construção das novas barragens em Portugal só está a acontecer para consumir energia eólica. Este argumento irrefutável irrita os defensores da eólica que afirmam, demagogicamente, que a energia nuclear também precisa de bombagem. Foi o caso de Sá da Costa durante a conferência. Comparar a necessidade de armazenagem de energia nuclear com a eólica ou é desonesto ou mostra uma incapacidade de fazer contas elementares. Mas vamos a elas.

Sá da Costa dá o exemplo de França para justificar a necessidade que o nuclear tem de bombagem. Sá da Costa esquece-se que o nuclear representa 75% do parque electroprodutor francês. Se Portugal atingisse esse tipo de penetração de nuclear precisaria de bombagem mas se existisse um planeamento energético de longo prazo o país podia ir até 50% de contribuição atómica sem precisar de bombagem. As novas barragens reversíveis servem para permitir que a eólica atinja apenas 20% do mix. Isto porque com um FC de 25% é preciso instalar uma potência equivalente a 80% do consumo médio para se atingir 20% de abastecimento. Naturalmente 80% do consumo médio é mais do que o consumo em vazio. Só que nem é a partir de que percentagem precisam de bombagem que se faz toda a diferença entre eólica e nuclear.

Realmente relevante é que se a bombagem consome MWh subvencionados, como é o caso presente da eólica, a bombagem para além de pesar na eficiência energética do país também pesa na carteira dos consumidores. É isso que se passa na associação eólica/barragens. A energia eléctrica produzida em centrais nucleares e turbinada em barragens é competitiva em mercado livre e é por isso que França, apesar de recorrer a ela, consegue ter um custo energético extremamente baixo.

Esta questão do nuclear precisar ou não de bombagem acaba por se tornar irrelevante em Portugal dado que o governo não vai parar o PNBEPH. A capacidade vai estar instalada e mais vale ser usada. EM 2020 Portugal vai ter capacidade de bombagem que permitiria a replicar o mix produtor francês a partir de 2030.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Utilities espanholas pedem moratória anti-CSP

Andasol 1 - Parabolic through (50 MW)
Depois da eólica e da solar fotovoltaica (photovoltaic - PV) a nova moda em energia renovável é a energia solar concentrada ou Concentrated Solar Power (CSP) como é conhecida em inglês. Existem quatro tipos de sistemas CSP sendo o Parabolic Through o mais comum. Espanha é o país do mundo com mais potência CSP instalada. No final de 2010 existiam 690 MW de CSP em construção no país vizinho. Estão licenciados mais 2.342 MW, o que dá um total de 3.030 MW.

Uma das vantagens do CSP sobre o PV é a capacidade de armazenar a energia sob a forma de calor. Tipicamente isso permite aumentar o factor de capacidade (FC) de uns bons 0,2 no PV para 0,4 no CSP. A primeira central CSP parabolic through europeia é a Andasol na Andaluzia. Andasol é composta por três conjuntos de 50 MW que geram cada um 180.000 MWh/ano, ou seja, com um FC de 0,41. Andasol 1 custou €300M, ou seja, €6M/MW instalado. Se Andasol tivesse a capacidade de um reactor Areva EPR custaria 1650*6 = €9.900M. A última previsão de custos para Olkiluoto 3 coloca-o nos €6.600M. Como uma central CSP funciona 25 anos em vez dos 60 anos de um reactor Areva EPR e não tem o mesmo FC de 0,85 o custo comparado entre os dois tipos de centrais eleva o preço da central CSP Andasol para €50.490M. O custo da energia fornecida por Andasol 1 é 7,6 vezes superior ao que fornecerá Olkiluoto 3. Se admitirmos que o MWh de Olkiluoto 3 custará os típicos €40 então Andasol 1 fornece energia eléctrica a €306/MWh o que está em linha com a tarifa feed-in (FIT) espanhola para CSP que é de €270/MWh durante 25 anos.

Gemasolar - Solar Power Tower (20 MW)
Também a funcionar na Andaluzia desde Abril a central Gemasolar é um exemplo de CSP Power Tower. Trata-se de uma unidade de 20 MW cuja previsão é produzir 110.000 MWh/ano o que, pelas minhas contas, daria um extraordinário FC de 0,63. O projecto menciona um FC de 0,75. Acreditando neste número, e tendo em conta os €230M que a instalação custou, em comparação com Olkiluoto 3 ela produzirá, durante 25 anos, energia eléctrica a €312/MWh.

Se se cumprirem os objectivos de 3.030 MW, e admitindo um valor médio de FC = 0,40, o CSP vai custar ao consumidores espanhóis €7.167M em subsídios, ou €5.919M de sobrecusto em relação ao valor médio MIBEL (€47/MWh). Sob qualquer ponto de vista um disparate. Tendo em conta o défice tarifário que Espanha já acumula, um suicídio.

A FIT espanhola para CSP limita o tamanho das instalações a 50 MW. O CSP vai buscar o calor ao sol mas transforma-o em energia eléctrica da mesma forma que as centrais termoeléctricas ou nucleares, através da rotação de uma turbina. A eficiência de uma turbina depende da sua dimensão e potência e alguns estudos indicam que o ideal será uma central CSP ter entre 150 e 250 MW de potência.

É neste cenário que o presidente da Iberdrola, Ignacio Sánchez Galán, veio pedir uma moratória para congelar a construção de centrais CSP até se anular o pesado défice tarifário espanhol, sob pena de se criar outra bolha como aconteceu com o solar fotovoltaico. Logo de seguida o presidente da Unesa (associação das utilities espanholas), Eduardo Montes, reiterou o pedido do Galán e reforçou sobre a insustentabilidade da actual política energética espanhola.

Neste outro artigo Galán vai mais longe e pede mesmo para se rever a política eléctrica espanhola, nomeadamente reenquadrar as renováveis. Galán pede que se olhe para o exemplo do Reino Unido. O Reino Unido está a apostar fortemente na energia nuclear como forma de produzir energia de base limpa. Conta construir 8 novos reactores nucleares que duplicarão a potência nuclear instalada mesmo depois do desmantelamento dos 18 reactores actuais.

Já referi em posts anteriores que não tenho muitas dúvidas que Espanha irá, no decorrer desta década, relançar um programa de renovação e expansão do seu parque nuclear, tal como o Reino Unido está a fazer. Tenho pena que Portugal fique para trás neste debate e nesta mudança de paradigma. Mas acho que é isso que vai acontecer.

Eólica
Há dez dias o governo espanhol anunciou um corte no FIT à eólica que eu apelidei de fatal para o sector. As reacções não se fizeram esperar e quer a Asociación Empresarial Eólica (AEE) quer a patronal eólica gallega (EGA) têm desenvolvido esforços para travar as pretensões do governo central e já admitiram mover processos em tribunal. Ambas afirmam que as novas tarifas não asseguram a rentabilidade dos parques e que esta nova lei inviabiliza o financiamento de novos projectos.


segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Reino Unido e Portugal diminuem subsídios à microgeração solar

Depois de, em Agosto, ter reduzido as tarifas feed-in ao solar em larga escala o Department of Energy and Climate Change (DECC) britânico propôs hoje a diminuição em 55% dos subsídios à geração solar doméstica, mas apenas para instalações posteriores a 2011. Os projectos até 4 kW passarão a receber 21p/kWh  em vez dos actuais 43,3p/kWh. De acordo com o DECC os novos valores reflectem um abaixamento de 30% no preço dos equipamentos. Se nada fosse feito:
by 2014-15 FITs for solar PV would be costing consumers £980 million a year, adding around £26 (2010 prices) to annual domestic electricity bills in 2020. Our proposals will restrict FITs PV costs to between £250-280 million in 2014-15, reducing the impacts of FITs expenditure on PV on domestic electricity bills by around £23 (2010 prices) in 2020.
2012 tambem traz novidades à microgeração solar portuguesa. Saiu na sexta-feira passada a Portaria n.º 284/2011 que estabelece uma remuneração de €326/MWh nos primeiros 8 anos e de €185/MWh nos últimos 7 anos. A quota de potência a instalar anualmente também cai de 25 MW para 10 MW. 

A presidente da Associação Portuguesa da Indústria Solar (Apisolar), Maria João Rodrigues, disse ao jornal de negócios que o novo enquadramento cria um "ambiente de choque" entre os empresários do sector.

Da minha parte saúdo a portaria, só acho que o "haircut" na quota devia ter sido 10 MW maior. Pelas razões que defendo aqui a microgeração devia acabar quanto antes. Para o problema energético do país esta portaria não terá impacto visível.



quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Nuvem negra sobre a indústria solar alemã

Futuramente "Death Valley"?
Nem só a indústria solar americana está a sofrer o violento impacto dos painéis fotovoltaicos made in China de baixo custo. Também a indústria alemã está a ser arrasada como conta este artigo do Der Spiegel. Apesar de a Alemanha estar longe de ter óbvias condições naturais para a exploração desta forma de produção eléctrica a indústria solar floresceu no país graças à atribuição de generosas tarifas feed-in desde há 11 anos. Só em 2010 contabilizaram um fardo de €81,5 mil milhões para os consumidores alemães. Foi graças a este enquadramento que, a partir de 1999, a cidade de Bitterfeld-Wolfen se desenvolveu e ganhou a alcunha de "Solar Valley". Com a concorrência chinesa as fábricas de painéis da região estão a fechar por incapacidade de competir no preço.

Mais do que dever-se a inovações tecnológicas de relevo como defendem os adeptos desta forma de energia, a descida de 50% verificada no preço dos painéis solares nos últimos três anos explica-se essencialmente pela transferência do fabrico nos EUA e Alemanha para a China e Taiwan. Sem indústria será bem mais complicado os respectivos governos justificarem os chorudos subsídios de que esta caríssima forma de energia goza.

Prevejo a continuidade da descida do preço nos próximos anos à medida
que os países ocidentais retirarem as tarifas feed-in o que levará ao definhar da energia solar incapaz de competir em mercado aberto. A energia solar, nos moldes actuais, simplesmente deixa de ser atractiva na Europa e EUA e é uma questão de tempo até os consumidores deixarem de tolerar esta migração encapotada de impostos para Oriente.

É provável que o Ministro das Finanças alemão venha a rever as suas ideias para a recuperação económica grega dada a morte anunciada da indústria solar alemã.

Mais sorte tem a indústria eólica. Não que tenha mais competitividade nos custos mas simplesmente porque colocar turbinas em contentores é uma tarefa mais complicada do que exportar painéis solares. Contudo, em 2010:
German wind turbine manufacturers as a whole saw revenues and jobs decline for the first time(...)Five years ago, there were four German names among the world's 10 largest wind turbine producers. Today there are only two, Siemens and Enercon, while four Chinese turbine makers are now among the top 10.