segunda-feira, 18 de julho de 2011

A infância do nuclear

Um dos propósitos deste blog é destruir ideias erradas em redor da energia nuclear. Ideias criadas por correntes de pensamento contrárias ao desenvolvimento humano e enraizadas por uma imprensa débil em capacidade analítica e técnica. Portugal é um país particularmente permeável a interiorizar falsidades científicas sem contestação dada a pouca atracção que os portugueses têm pelas disciplinas técnicas. Ainda para mais um assunto tão remoto e desinteressante como a energia nuclear. Facto é que o tema nuclear é tabu em Portugal, embora eu ache que os portugueses são acima de tudo NIMBY (Not In My Back Yard) e não anti-nuclear, uma posição que tem muito mais de comodismo que de rigor técnico (mas esse debate fica para outro post). Este post serve para desmistificar duas ideias correntes entre a população portuguesa mas que chocam gritantemente com a realidade dos números:

Ideia 1: A energia nuclear é usada excepcionalmente em alguns países
Na mapa-mundo da figura surgem a azul escuro os países que têm centrais nucleares e estão a construir novas centrais e a azul claro os que têm energia nuclear e estão planear novas centrais. A amarelo os que têm centrais nucleares e não planeiam novas e a vermelho aqueles que têm e planeiam abandonar. Ou seja, em quase todo o mundo desenvolvido com excepção de alguns países como Portugal, Dinamarca ou Austrália o nuclear faz parte do mix produtor de energia eléctrica. Os portugueses não têm noção mas a posição dominante na nossa sociedade face à energia nuclear não é partilhada por quase todos os países mais ricos, desenvolvidos e esclarecidos do que nós. A ausência de energia nuclear só é norma nos países africanos.

Ideia 2: A energia nuclear está a ser descontinuada
Desde há algum tempo, é uma ideia corrente que a energia nuclear tem os dias contados. Ultimamente tornou-se mais popular em virtude das decisões políticas italiana, suíça e alemã. Mas é uma ideia errada desmentida pelos números. Mesmo com a paragem de algumas centrais no Japão e Alemanha em virtude de Fukushima e de todos os testes que se têm levado a cabo posteriormente, existem 440 reactores nucleares a funcionar no mundo. Eles fornecem 14% da energia eléctrica consumida globalmente. Dentro de alguns anos este número irá subir para 500 quando estiverem concluídos os 60 reactores em construção/remodelação. Apesar do acidente em Fukushima ter parado alguns projectos/estudos existem mais 154 projectados para entrar em funcionamento dentro de 10 anos. E a World Nuclear Association prevê a entrada ao serviço de mais 343 reactores até 2030, talvez uma previsão demasiado optimista. Números redondos, a quantidade de reactores nucleares poderá quase duplicar nos próximos vinte anos. Nessa altura já estarão em operação os reactores de 4ª geração que irão resolver o grande problema das centrais nucleares, os resíduos radioactivos.

Esta expansão da energia nuclear está bem patente no mapa em que o azul corresponde a países que têm energia nuclear e estão a construir/planeiam reactores e a verde aqueles que vão passar a incluir energia atómica no seu mix produtivo.

Enquanto português preocupa-me especialmente a mancha verde no Norte de África e Turquia. Estes países já fazem uma forte concorrência ao turismo nacional. Com a queda das ditaduras na África muçulmana e a previsível instauração de regimes democráticos, estas nações irão sofrer progressos económicos e tecnológicos assinaláveis na próxima década. As necessidades energéticas irão aumentar e a opção nuclear terá cada vez mais força. Com uma mão-de-obra mais barata a que se juntarão preços da electricidade mais competitivos estes países irão desafiar cada vez mais Portugal, não só no sector do turismo, como em todos os bens transaccionáveis. Só esta ameaça devia desencadear uma discussão séria e urgente sobre as opções energéticas que se têm vindo a tomar em Portugal.

Ao contrário do que se diz a energia nuclear não está à beira do fim. Pelos avanços técnicos que se estudam actualmente e pela previsão de expansão de número de reactores em funcionamento a energia nuclear está a sair da infância, a energia nuclear está só no fim do seu começo.

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