quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A necessidade de consumir eólica em barragens

Turbina reversível Alqueva
Na semana passada deixei inequívoco que as novas barragens que vão ser construídas em Portugal durante a presente década servirão apenas para armazenar energia eólica excedentária em virtude do sobredimensionamento do parque nacional de aerogeradores. Mas nem era necessário, a memória descritiva do Plano Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNBEPH) é bem explícita relativamente a essa necessidade (pág.12)
Se além dos equipamentos hidroeléctricos convencionais se recorrer igualmente à instalação de equipamentos reversíveis, tal possibilitará a sua intervenção quer quando a produção eólica é inferior à prevista quer quando ela é superior, utilizando-se nestes casos a energia eólica excedentária para bombar água para um reservatório superior, a qual será turbinada mais tarde quando as necessidades forem maiores e/ou a produção eólica for menor. Os aproveitamentos reversíveis operarão então como acumuladores de energia eólica.
que se reforça na página 15:
(...) o aumento da potência eólica instalada deverá ser complementado com um aumento da capacidade hidroeléctrica, nomeadamente na vertente reversível, a qual deverá compensar a acentuada irregularidade da produção eólica, possibilitando ainda a bombagem da energia excedentária disponível durante o período nocturno de dias ventosos.
e na página 18 desfazem-se as dúvidas sobre o desencadeador da construção das barragens:
(...) tendo em conta os 5700 MW eólicos previstos para 2010, seria conveniente dispor nessa ocasião de aproximadamente 1600 MW reversíveis, o que implicará uma aumento de aproximadamente 600 MW face à potência reversível actualmente disponível.
O documento é de Novembro de 2007. Hoje sabe-se que nem mesmo o irresponsável governo socialista conseguiu cumprir a meta de 5.700 MW de potência eólica instalada em 2010 tendo ficado cerca de 2.000 MW abaixo.  

No fim do meu post sobre o PNBEPH referi que a capacidade de bombagem instalada depois da conclusão de todas as barragens com equipamento reversível seria mais do dobro da necessidade portuguesa de bombagem num cenário de 25% de integração eólica na Península Ibérica. Este aparente exagero de instalação de turbinas reversíveis tem de ser devidamente enquadrado:

1. Admiti que metade da produção eólica é consumida imediatamente o que pode ser um valor optimista.

2. Portugal tem a sorte de muitos rios ibéricos desaguarem na nossa costa o que nos garante uma densidade de recursos hídricos superior ao de nuestro hermanos. Isso significa que num cenário de igual proporção de produção eólica no mix dos dois países Portugal terá maior peso na capacidade de bombagem, o que naturalmente nos é favorável.

3. Como admiti proporção na instalação de turbinas entre os dois países, significa que, quando se chegasse aos 25% de integração, Portugal pouco passaria dos 5.000 MW de potência eólica instalada.

Porém, o meu cenário é manifestamente conservador face aos objectivos que estiveram na base do lançamento do PNBEPH. O antigo governo socialista "sonhava" com 9.000 MW até 2020 como consta na página 11 da Estratégia Nacional para a Energia 2020 (ENE2020). Não acredito que alguma vez se venha a atingir o valor e até o documento é cauteloso:
(...) a atribuição desta potência dependerá de um conjunto de factores, designadamente, da evolução da procura de electricidade, da penetração dos veículos eléctricos, da capacidade de transferir consumos de períodos de ponta para períodos de vazio e também da viabilidade técnica e dos custos das tecnologias eólicas offshore, assim como dos impactos ambientais associados aos diferentes tipos de tecnologia.
Irá perdurar esta paisagem
na Península Ibérica?
O programa de governo que o PSD apresentou antes da legislativas levantou a intenção de racionalizar a subsidiação PRE mas de concreto, enquanto governo, ainda não se conhecem medidas.

Se o PNPEBH foi dimensionado para mais de 6.000 MW de potência eólica instalada o que acontecerá se essa quantidade de turbinas nunca chegar a existir? As novas barragens não vão produzir mais electricidade, a sua viabilidade económica depende da bombagem.

Prevê-se que em 2020 se abandone as tarifas feed-in para as renováveis na Península Ibérica. Com este pressuposto o que acontecerá ao parque eólico português na próxima década? Os parque eólicos duram em média 20 anos, cerca de 1/3 da longevidade de uma barragem. Qual a viabilidade económica das novas turbinas reversíveis se em 2030 a produção eólica na Península Ibérica já for residual? Irão exisitir contratos de garantia de potência de consumo para bombagem à semelhança do que acontece para as termoeléctricas de apoio à produção renovável?

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