Mix produtivo Espanha continental (REE) |
A Dinamarca é considerada um case study mundial de produção de energia eólica depois de nos anos 80 o país ter decidido apostar fortemente nesta fonte de energia eléctrica. Tem, inclusivé, na Vestas um dos maiores produtores de turbinas do mundo. A Dinamarca é a referência mundial na produção mas não tanto no consumo. Como desenvolvi neste post a eólica pode valer 20% do mix produtivo dinamarquês mas não vale 1/5 do consumo. Como a electricidade é um bem que não pode ser embalado e rotulado é sempre discutível e dificilmente aferível a fonte de cada kWh consumido. No entanto, é possível afirmar, com bastante segurança, que no consumo dinamarquês de electricidade a energia eólica não vale mais do que 15%. Isso faz, automaticamente, da Península Ibérica a região do mundo com maior consumo relativo de energia eólica. Isso acontece, quer pela aposta que os dois países ibéricos também fizeram na energia eólica, mas também pelos recursos hídricos da península, os quais nos permitem distanciar da Dinamarca na capacidade reter produção eólica dentro de fronteiras.
Mix produtivo Portugal continental (REN) |
A Dinamarca tem das melhores condições de vento do mundo para produção eólica mas más características para gerir o seu consumo. Como as centrais termoeléctricas do país produzem simultaneamente vapor para aquecimento não podem reduzir a produção eléctrica tanto quanto seria desejável. A somar a isso, o país não tem recursos hídricos para armazenar produção eólica excedentária. Ao invés, a Península Ibérica tem ventos medianos para a produção mas as suas centrais termoeléctricas não têm a condicionante da cogeração de calor e a região dispõe de barragens para equipar com bombagem e assim armazenar energia eólica a mais.
Rede eléctrica espanhola (REE) |
Antes de continuar vale a pena reflectir porque é que a Península Ibérica se tornou líder global no consumo relativo de energia eólica. Uma das razões é a característica favorável do seu restante mix produtivo (peso significativo de flexíveis centrais a gás natural e recursos hidroeléctricos). A outra é o facto de o resto do mundo não ter embarcado na utopia eólica e ter sido bastante mais contido a aprovar parques eólicos. Ou seja, não nos devemos congratular com o feito, antes preocupar por não termos visto o que era óbvio para quase todos os países do mundo. Espanha ainda se pode defender com a Gamesa e uma indústria eólica que mitiga parcialmente a destruição de riqueza trazida pelo sourvedouro de subsídios que é a energia eólica. Portugal nem isso. Agora que a troika mandou colocar um travão na irracionalidade eólica os portugueses vão começar a pagar uma das mais caras energias eléctricas da Europa e do mundo. E a perceber até que ponto as renováveis foram ruinosas para o país.
Saldo exportador espanhol (REE) |
O mix produtivo ibérico fica assim distribuído pelas diversas fontes: gás natural (25%); nuclear (21%); hidroeléctrica (20%); eólica (18%); carvão (10%) e outros (17%) entre os quais solar, biomassa e não renováveis em regime especial.
Primeira ilação que se tira. Apesar de sermos recordistas mundiais no consumo de energia eólica a base de consumo da região luso-espanhola é termoeléctrica e nuclear. Como demonstrarei neste blog, o futuro eléctrico planetário passará essencialmente pelo duo gás natural-nuclear. Por esta razão, e não por consumirmos tanta eólica, se pode dizer que a Península Ibérica até nem está assim tão mal no caminho da sustentabilidade económica e ambiental do seu sector eléctrico.
Vários valores interessantes se retiram dos resumos anuais dos dois países. Se admitirmos uma potência eólica média em 2010 de 19.155 MW em Espanha e 3.531 MW em Portugal o factor de capacidade do parque eólico ibérico no ano foi de 27,9%. Devido a este facto, apesar de haver mais do triplo de potência eólica instalada do que potência nuclear (7.448 MW), as centrais nucleares espanholas conseguiram gerar mais electricidade do que as turbinas dos dois países.
Se admitirmos que toda a exportação de energia eléctrica ibérica se deveu a excesso de produção eólica então 15,7% da produção eólica foi exportada. Com esta assunção, na Península Ibérica, a eólica valeu apenas 14,4% do consumo. Ainda assim, certamente, o valor mais elevado do mundo. Com esta assunção, uma pequena parte da factura eléctrica que os portugueses e espanhóis pagam serve para financiar a electricidade de Marrocos que é deficitário na produção eléctrica. Graças à produção em regime especial (PRE) a exportação de electricidade na Península Ibérica empobrece os dois países.
Na minha opinião, e o futuro provará se tenho ou não razão, dificilmente os 15% de peso eólico no consumo serão superados expressivamente. As metas de integração de 50% de renováveis propagandeadas pelo Greenpeace, Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) ou as associações americanas (AWEA) e europeia (EWEA) de energia eólica, entre outros, não passam de fantasias parcas em sustentação científica ou económica.
Apesar de os subsídios vitais para a manutenção do negócio da energia eólica estarem cada vez mais a ser postos em causa, quer em Portugal quer em Espanha, acredito que na Península Ibérica ainda se instale potência eólica por mais uns anos até se chegar, talvez, a um peso de 25% no mix produtivo (8% de aumento). Para tal será requerido um parque eólico de 31.500 MW de potência, ou seja, é preciso adicionar mais 9.000 MW de potência. O valor é uma enormidade e, naturalmente, o investimento terá de ser suportado por tarifas feed-in. Parte desta potência será, provavelmente, instalada no mar com custos entre duas e três vezes o custo em terra. Com o fim das tarifas reguladas em Portugal pode-se imaginar o preço da electricidade que estaremos a pagar num cenário destes.
Admitamos que o consumo eléctrico na península não vai aumentar nos próximos anos, uma simplificação que não é totalmente descabida dada a situação económica. Contudo isso significa mais cerca de 23.100 GWh/ano de energia eólica a chegar à rede. Se assumirmos que metade é imediatamente consumida sobram 12.000 GWh. Admitindo que os países periféricos têm capacidade de absorção as exportações iriam aumentar 150% (8.300 GWh em 2010). Se a opção for armazenar em barragens isso implica triplicar a capacidade de bombagem (4.900 GWh em 2010) num total de 16.900 GWh. Mantendo a proporção entre os países a Portugal caberia 2.700 GWh (16%). A opção de bombagem também significa que 3.000 GWh se perdem dada a eficiência de 75% do processo. O custo do equipamento e infraestruturas para a bombagem fica demonstrado no PNBEPH.
Um aumento de 8% na produção eólica significa, respectivamente nos cenários de exportação e bombagem que admiti, uma cobertura de 4% e 6,5% do consumo de energia eléctrica nos países ibéricos. Apesar dos elevadíssimos custos associados, qualquer que seja o cenário, o investimento não permitiria, em segurança, prescindir dos 10% de produção eléctrica com uso de carvão. Essa devia ser a primeira meta ambiental no sector eléctrico. Isso mostra, se dúvidas houver, que a integração de energia eólica não aumenta drasticamente a independência energética nem anula a necessidade de backups termoeléctricos.
Por tudo isto acho que estamos a assistir à chegada do pico de integração de energia eólica na Península Ibérica e também no mundo. Aqui analiso a extrapolação do exemplo ibérico para a União Europeia.
Primeira ilação que se tira. Apesar de sermos recordistas mundiais no consumo de energia eólica a base de consumo da região luso-espanhola é termoeléctrica e nuclear. Como demonstrarei neste blog, o futuro eléctrico planetário passará essencialmente pelo duo gás natural-nuclear. Por esta razão, e não por consumirmos tanta eólica, se pode dizer que a Península Ibérica até nem está assim tão mal no caminho da sustentabilidade económica e ambiental do seu sector eléctrico.
Vários valores interessantes se retiram dos resumos anuais dos dois países. Se admitirmos uma potência eólica média em 2010 de 19.155 MW em Espanha e 3.531 MW em Portugal o factor de capacidade do parque eólico ibérico no ano foi de 27,9%. Devido a este facto, apesar de haver mais do triplo de potência eólica instalada do que potência nuclear (7.448 MW), as centrais nucleares espanholas conseguiram gerar mais electricidade do que as turbinas dos dois países.
Se admitirmos que toda a exportação de energia eléctrica ibérica se deveu a excesso de produção eólica então 15,7% da produção eólica foi exportada. Com esta assunção, na Península Ibérica, a eólica valeu apenas 14,4% do consumo. Ainda assim, certamente, o valor mais elevado do mundo. Com esta assunção, uma pequena parte da factura eléctrica que os portugueses e espanhóis pagam serve para financiar a electricidade de Marrocos que é deficitário na produção eléctrica. Graças à produção em regime especial (PRE) a exportação de electricidade na Península Ibérica empobrece os dois países.
Na minha opinião, e o futuro provará se tenho ou não razão, dificilmente os 15% de peso eólico no consumo serão superados expressivamente. As metas de integração de 50% de renováveis propagandeadas pelo Greenpeace, Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) ou as associações americanas (AWEA) e europeia (EWEA) de energia eólica, entre outros, não passam de fantasias parcas em sustentação científica ou económica.
Apesar de os subsídios vitais para a manutenção do negócio da energia eólica estarem cada vez mais a ser postos em causa, quer em Portugal quer em Espanha, acredito que na Península Ibérica ainda se instale potência eólica por mais uns anos até se chegar, talvez, a um peso de 25% no mix produtivo (8% de aumento). Para tal será requerido um parque eólico de 31.500 MW de potência, ou seja, é preciso adicionar mais 9.000 MW de potência. O valor é uma enormidade e, naturalmente, o investimento terá de ser suportado por tarifas feed-in. Parte desta potência será, provavelmente, instalada no mar com custos entre duas e três vezes o custo em terra. Com o fim das tarifas reguladas em Portugal pode-se imaginar o preço da electricidade que estaremos a pagar num cenário destes.
Admitamos que o consumo eléctrico na península não vai aumentar nos próximos anos, uma simplificação que não é totalmente descabida dada a situação económica. Contudo isso significa mais cerca de 23.100 GWh/ano de energia eólica a chegar à rede. Se assumirmos que metade é imediatamente consumida sobram 12.000 GWh. Admitindo que os países periféricos têm capacidade de absorção as exportações iriam aumentar 150% (8.300 GWh em 2010). Se a opção for armazenar em barragens isso implica triplicar a capacidade de bombagem (4.900 GWh em 2010) num total de 16.900 GWh. Mantendo a proporção entre os países a Portugal caberia 2.700 GWh (16%). A opção de bombagem também significa que 3.000 GWh se perdem dada a eficiência de 75% do processo. O custo do equipamento e infraestruturas para a bombagem fica demonstrado no PNBEPH.
Um aumento de 8% na produção eólica significa, respectivamente nos cenários de exportação e bombagem que admiti, uma cobertura de 4% e 6,5% do consumo de energia eléctrica nos países ibéricos. Apesar dos elevadíssimos custos associados, qualquer que seja o cenário, o investimento não permitiria, em segurança, prescindir dos 10% de produção eléctrica com uso de carvão. Essa devia ser a primeira meta ambiental no sector eléctrico. Isso mostra, se dúvidas houver, que a integração de energia eólica não aumenta drasticamente a independência energética nem anula a necessidade de backups termoeléctricos.
Por tudo isto acho que estamos a assistir à chegada do pico de integração de energia eólica na Península Ibérica e também no mundo. Aqui analiso a extrapolação do exemplo ibérico para a União Europeia.
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