A imprensa portuguesa tem difundido a notícia de que o gigante Siemens vai abandonar a energia nuclear em virtude de Fukushima. Mas esta é uma interpretação pouco precisa mas que até já tinha sido feita no artigo original do Der Spiegel.
1. A Siemens não vai abandonar a energia nuclear completamente. Uma central nuclear difere de uma central termoeléctrica na forma como gera o vapor de accionamento da turbina. Nas centrais nucleares usa-se a cisão de urânio e nas termoeléctricas queima de combustível fóssil. Toda a parte convencional de geração eléctrica, ao fazer o vapor passar por uma turbina, é basicamente idêntica.
Aquilo que o CEO da Siemens Peter Löscher confessou ao jornal alemão é que a sua empresa irá deixar de participar na construção e financiamento de novas centrais e no desenvolvimento da parte nuclear das mesmas mas continuará a fornecer todo o equipamento para a parte convencional. Ainda que a Siemens seja um líder mundial na construção de turbinas da dimensão requeridas em centrais eléctricas o facto da empresa ter deixado de ter qualquer parceria com um fornecedor de reactores fará, na minha opinião, com que deixe de ter uma posição cometitiva no mercado.
2. Ainda que Löscher diga que a razão para a decisão teve como base "German society and politics' clear position on ending nuclear energy.", o que até lhe fica bem dizer no momento actual, a verdade é que a Siemens tem vindo a abandonar progressivamente a tecnolgia de reactores nucleares, pelo menos desde 2009, quando alienou a sua participação na Areva.
Não é raro as empresas reorganizarem-se e diminuírem o portfolio de capacidades para se concentrarem em áreas chave. Não conheço a realidade da Siemens para afirmar se é este o caso mas coloco reservas em relação ao timing escolhido para abandonar o core do nuclear e apostar mais nas renováveis. As maiores economias do mundo como a China, Índia, Reino Unido, EUA ou Rússia têm renovado compromissos em relação à energia atómica. Esta decisão da Siemens de deixar os reactores nucleares para saltar para bordo do comboio renovável que começa a abrandar parece-me pouco sensata. Ainda para mais quando se sabe que a Alemanha terá uma palavra cada vez menos forte no sector.
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