Masdar, Abu Dhabi |
Decerto muitos ainda se lembrarão da operação de charme de José Sócrates na cidade "ecológica" de Masdar, Abu Dhabi em Janeiro último. A viagem teve o propósito de seduzir os árabes a adquirir títulos de dívida portuguesa e fazer mais propaganda pró-energia renovável. A cidade de Masdar, fruto do sonho do arquitecto inglês Norman Foster, tem o objectivo de ser uma urbe para 50.000 habitantes neutra em emissão de dióxido de carbono. Para isso obtém a sua electricidade a partir do sol e do vento, dessaliniza água do mar e recicla depois de usada, possui edifícios e espaços públicos mais eficientes energeticamente, não permite veículos particulares ou indústrias pesadas. Naturalmente não é auto-suficiente em agricultura, indústria ou serviços pelo que esta suposta neutralidade é uma pura utopia. Nem me parece que a sua proposta de uma vida regrada em consumo energético vá cativar muitos dos novos ricos da região. As classes mais abastadas dos Emirados Árabes Unidos (EAU) gostam de levar uma vida de opulência e consumo desenfreado. Fazem-se deslocar em SUVs adoradores de gasolina barata e não dispensam aberrações ambientais como o Ski Dubai ou corridas de power boats offshore.
Actualmente praticamente toda a energia eléctrica consumida pelos EAU provém de centrais a gás natural. Masdar é evidentemente uma montra ou ideal, jamais será a norma nos EAU, ou em qualquer parte do mundo. Por isso, e porque o consumo eléctrico no conjuntos dos Emirados cresce a um ritmo de quase 10% ao ano, em 2006/2007 houve um debate interno para se estabelecer uma política energética para 2020. As premissas foram:
1. As reservas de gás natural só cobririam metade das necessidades em 2020 o que punha em causa a segurança energética.
2. A importação de carvão foi desconsiderada por questões ambientais e também segurança energética.
3. As energias solar e eólica só conseguiriam fornecer 7% dos 40GW de potência média requerida em 2020.
Projecto da central nuclear de Braka (4 x 1.400 MW) |
O resultado foi o estabelecimento de um ambicioso programa nuclear que dotará o conjunto dos seis Emirados de um parque de 14 centrais nucleares capazes de gerar 20GW de potência média, 25% das quais estarão concluídas em 2020. A EAU abriu um concurso internacional milionário para fornecer todos estes reactores pois pretendia uniformizar as suas centrais. A vitória, pelo menos para a primeira central licenciada, Braka, foi ganho pelo consórcio liderado pela empresa sul-coreano KEPCO.
Braka vai ser um complexo de quatro reactores com uma potência combinada de 5.600 MW de potência que estarão a fornecer electricidade à rede entre 2017 e 2020.
A diferença entre os Emirados e Portugal é que, mesmo apostando em pontuais projectos de energia renovável, os estados do médio oriente não perderam o discernimento e sabem que um futuro com geração eléctrica sustentável passa necessariamente pela existência de centrais nuclerares.
Busherh (1.000 MW) já fornece energia nuclear ao Irão |
Os EAU não são o único exemplo de aposta nuclear para a geração eléctrica. Mais a norte o Irão conectou recentemente a sua primeira central nuclear, Bushehr, à rede. A central de 1.000 MW, cujo plano já vem de longa data, está equipada com tecnologia russa. Ainda que o combustível nuclear não sirva directamente para produzir bombas atómicas, por se tratar do Irão, medidas especiais para evitar a sua proliferação foram tomadas. Não haverá enriquecimento de urânio para a central nem armazenamento depois de usado no Irão. O ciclo do combustível de Busherh será responsabilidade da Rússia com supervisão da International Atomic Energy Agency (IEAE).
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