terça-feira, 6 de setembro de 2011

Mais sobre o conceito renovável da energia

Sol: fonte primária de energias renováveis

O leitor Jorge Oliveira enviou-me uma resposta a este post sobre o carácter renovável das fontes primárias de energia. Dado o seu tamanho coloco neste post (os links e imagens são da minha responsabilidade):

Todas as pessoas com um mínimo de instrução sabem que o nosso Sol um dia se há-de extinguir, mas a verdade é que ninguém se preocupa muito com isso. As pessoas fazem bem. O Sol ainda vai durar mais uns cinco mil milhões de anos.

Em contrapartida, a maioria das pessoas com preocupações em matéria de energia não vive descansada com a duração prevista para as reservas de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural). Trata-se, no entanto, de uma preocupação que diz mais respeito aos nossos filhos, netos e bisnetos, pois nenhum dos actuais habitantes do planeta cá estará quando acabarem os combustíveis fósseis.

Parece então que a questão reside em saber quantos anos constituem motivo de preocupação para as pessoas no que respeita à duração das fontes de energia.

Por motivos compreensíveis, as energias renováveis granjeiam a simpatia geral. Se formos à internet podemos encontrar algumas definições para energia renovável :

1 - Energia renovável é aquela originária de fontes naturais que possuem a capacidade de regeneração (renovação), ou seja, não se esgotam.

2 - A Energia renovável é aquela que é obtida de fontes naturais capazes de se regenerar, e portanto virtualmente inesgotáveis.

3 - O conceito de Energia Renovável aplica-se a qualquer fonte de energia ilimitada, ou seja, fontes de energia em que a sua utilização “hoje” não implica diminuição da sua disponibilidade “amanhã”.

4 - Por energias renováveis entende-se aquelas que não se esgotam no tempo e que não dependem do factor humano para existir.

Verifica-se, assim, que o conceito de "renovável" está associado ao atributo “inesgotável” da fonte de energia. Todavia, como parece não haver nada que dure indefinidamente (o próprio Sol um dia se extinguirá) subentende-se que aquilo que verdadeiramente conta é a relação entre a durabilidade da fonte primária de energia e a durabilidade da própria espécie humana que a ela recorre.

A energia eólica, a fotovoltaica, a energia potencial da água armazenada nas barragens, a energia das ondas e marés, todas elas são claramente exemplos de energias renováveis. Em comum, têm o facto de traduzirem diferentes manifestações da energia que nos chega permanentemente do Sol. E como o tempo expectável de duração do Sol vai para além de tudo o que possamos imaginar, de forma alguma questionamos o carácter inesgotável, ou renovável, das energias que o Sol estimula à superfície do nosso planeta.

Já agora, note-se que a energia geotérmica, que não tem nada a ver com a energia que nos chega diariamente do Sol, é incluída no lote das energias renováveis pelo mais exigente dos ambientalistas. Como se sabe, a energia geotérmica está contida no núcleo do planeta e só é considerada renovável porque todos esperamos que o núcleo do planeta não arrefeça antes de nós próprios sermos “arrefecidos” pelo curso da História. Portanto, o que está em causa no conceito de energia renovável é precisamente a nossa tão antropogénica quanto compreensível visão do mundo.

Como não podia deixar de ser, o que nos interessa para classificar uma determinada fonte de energia como renovável, é a perspectiva de a ela podermos recorrer durante um intervalo de tempo a perder de vista, digamos assim.

Os combustíveis fósseis, existentes na crosta terrestre, não são, claramente, fontes renováveis de energia. A energia que deles podemos extrair tem os dias contados, mais centena menos centena de anos, o que o nosso espírito optimista considera muito pouco para a duração da civilização humana.

Torite: Mineral de tório mais comum
E então a energia nuclear, a que se pode obter do urânio e de outros nuclidos cindíveis? Os elementos naturais cindíveis existentes na crosta terrestre são o urânio e o tório. A tecnologia actualmente empregue nas centrais nucleares recorre sobretudo ao urânio, mas aproveita apenas uma fracção muito reduzida da energia nele contida, a parte correspondente ao U235, que constitui apenas 0,7% do urânio natural. Por esta razão o urânio é considerado como uma fonte de energia que rapidamente se pode esgotar, pondo em causa as centrais nucleares. Mas talvez não seja bem assim.

Se recorrermos a reactores nucleares de regeneração (e os reactores de 4ª geração já estão aí na calha) podemos aproveitar a energia contida em todo o urânio e não apenas a do U235. Se aproveitarmos também o urânio dissolvido na água do mar e ainda o tório, que existe na crosta terrestre em quantidades três vezes superiores à do urânio, a energia que é possível extrair dos elementos naturais cindíveis ultrapassa tudo o que se possa imaginar, sendo comparável, em termos de duração, à energia geotérmica.

Desta forma, através da energia nuclear podemos dispor de energia eléctrica e calor para alguns milhões de anos, possivelmente para além da existência do próprio Homem na Terra.

Em consequência, parece apropriado incluir a energia nuclear nas formas de energia renováveis...

Jorge Pacheco de Oliveira

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