sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Subsidiar tecnologias maduras?

Uma dos pontos abordados pela DECO quando avançou com a petição de alerta para a excessiva subsidiação de energias renováveis foi a estratégia de se viabilizar, pela criação de regimes especiais, tecnologias que já estão em fase de cruzeiro. Apesar de todo o sector das novas energias renováveis ser alvo de subsídios ou incentivos a maior parte delas não são ideias novas, não integram know-how ou mão-de-obra nacional e não representam vantagem competitiva para a economia portuguesa.

 Turbinas eólicas
Turbina eólica de 12kW - 1888
A energia eólica é a energia da moda, e tida por muitos como o futuro da produção eléctrica. Só que a obtenção de electricidade a partir do vento nada tem de novo, já existe desde 1888. E até as mais comuns, hoje em dia, Horizontal Axis Wind Turbines (HAWT) já existem desde 1941. Muitos dirão que as modernas HAWT nada têm que ver com as primeiras. Correcto, e os reactores nucleares ou as turbinas a vapor das centrais termoeléctricas têm? A energia eólica é contemporânea da energia nuclear e a sua subsidiação não pode ser justificada pela imaturidade da sua  tecnologia. As turbinas actuais podem ter mais potência e serem mais eficientes do que as anteriores mas essa é uma evolução porque estão a passar todas as outras formas de produção de energia eléctrica. A energia eólica será tão concorrencial daqui a 100 anos quanto o é hoje. A grande desvantagem da energia eólica está na imprevisibilidade e incapacidade de controlar o vento e isso era verdade há 100 anos atrás e continuará a ser no século XXII. Alimentar a energia eólica com subsídios na esperança de que se torne um dia competitiva é um exercício de fé e um monumental desperdício de dinheiro. 

Turbinas HAWT - actualidade
Carro eléctrico
Pelo renascimento recente do interesse no carro eléctrico muitas pessoas pensam que ele é novo mas na verdade o carro eléctrico é tão antigo como o próprio carro. Na verdade, mais antigo do que o carro de motor de combustão interna. No começo do século XX, nos EUA, país onde os carros eléctricos atingiram mais popularidade, estes representavam 40% do parque, tanto quantos os carros a vapor. Os carros a gasolina eram metade, valiam apenas 20% do parque.

 Os carro eléctricos eram apreciados pela facilidade com que se colocava em funcionamento, ausência de ruído ou fumo. O preço era elevado, a performance era diminuta e a autonomia também pelo que eram mais usados dentro das cidades. Como se entende, as vantagens e desvantagens do carro eléctrico de hoje não são muito diferentes dos de há um século atrás. Até o conceito Better Place dinamarquês em que se troca as baterias numa estação de reabastecimento já existia nos EUA em 1896. Nada de novo portanto em relação aos carros eléctricos do Século XXI.

Detroit Electric -1912
Com a evolução da tecnologia de motores Otto e Diesel, a descoberta de mais petróleo, e a construção de estradas mais longas que motivou viagens maiores, o carro eléctrico perdeu competitividade e praticamente desapareceu. Então porquê o ressurgimento? Acima de tudo pela perspectiva de que o preço do petróleo torne a utilização dos automóveis convencionais mais onerosa e, consequentemente, os eléctricos mais apetecíveis. Mas também os incentivos dados por alguns países, nomeadamente aqueles que vêem nos carros eléctricos uma forma de armazenar energia eólica em excesso. Incentivos esses que mascaram aquilo que é sabido desde há 100 anos, que os carros eléctricos não são competitivos face aos equipados com motores de combustão interna. Os defensores dos carros eléctricos alegam que a tecnologia dos carros eléctricos vai evoluir a ponto de os tornar propostas aliciantes no seu desempenho e preço. E os carros de combustão interna, vão estagnar? A história não tem mostrado o extraordinário progresso do automóvel convencional?

Nissan Leaf - 2010
O carro eléctrico poderá tornar-se, um dia, uma alternativa viável, ninguém sabe. Vai depender de conjunturas externas (preço do crude, consumos dos carros de combustão interna) e da própria evolução da tecnologia e preço das baterias. Com esta incerteza e sabendo que a massificação do carro eléctrico não acontecerá nesta década que fundamental interesse estratégico para Portugal pode resultar dos benefícios únicos que gozam desde já? Quanto a mim só a necessidade de criar armazenamento extra para mais energia eólica.

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