terça-feira, 1 de novembro de 2011

Utilities espanholas pedem moratória anti-CSP

Andasol 1 - Parabolic through (50 MW)
Depois da eólica e da solar fotovoltaica (photovoltaic - PV) a nova moda em energia renovável é a energia solar concentrada ou Concentrated Solar Power (CSP) como é conhecida em inglês. Existem quatro tipos de sistemas CSP sendo o Parabolic Through o mais comum. Espanha é o país do mundo com mais potência CSP instalada. No final de 2010 existiam 690 MW de CSP em construção no país vizinho. Estão licenciados mais 2.342 MW, o que dá um total de 3.030 MW.

Uma das vantagens do CSP sobre o PV é a capacidade de armazenar a energia sob a forma de calor. Tipicamente isso permite aumentar o factor de capacidade (FC) de uns bons 0,2 no PV para 0,4 no CSP. A primeira central CSP parabolic through europeia é a Andasol na Andaluzia. Andasol é composta por três conjuntos de 50 MW que geram cada um 180.000 MWh/ano, ou seja, com um FC de 0,41. Andasol 1 custou €300M, ou seja, €6M/MW instalado. Se Andasol tivesse a capacidade de um reactor Areva EPR custaria 1650*6 = €9.900M. A última previsão de custos para Olkiluoto 3 coloca-o nos €6.600M. Como uma central CSP funciona 25 anos em vez dos 60 anos de um reactor Areva EPR e não tem o mesmo FC de 0,85 o custo comparado entre os dois tipos de centrais eleva o preço da central CSP Andasol para €50.490M. O custo da energia fornecida por Andasol 1 é 7,6 vezes superior ao que fornecerá Olkiluoto 3. Se admitirmos que o MWh de Olkiluoto 3 custará os típicos €40 então Andasol 1 fornece energia eléctrica a €306/MWh o que está em linha com a tarifa feed-in (FIT) espanhola para CSP que é de €270/MWh durante 25 anos.

Gemasolar - Solar Power Tower (20 MW)
Também a funcionar na Andaluzia desde Abril a central Gemasolar é um exemplo de CSP Power Tower. Trata-se de uma unidade de 20 MW cuja previsão é produzir 110.000 MWh/ano o que, pelas minhas contas, daria um extraordinário FC de 0,63. O projecto menciona um FC de 0,75. Acreditando neste número, e tendo em conta os €230M que a instalação custou, em comparação com Olkiluoto 3 ela produzirá, durante 25 anos, energia eléctrica a €312/MWh.

Se se cumprirem os objectivos de 3.030 MW, e admitindo um valor médio de FC = 0,40, o CSP vai custar ao consumidores espanhóis €7.167M em subsídios, ou €5.919M de sobrecusto em relação ao valor médio MIBEL (€47/MWh). Sob qualquer ponto de vista um disparate. Tendo em conta o défice tarifário que Espanha já acumula, um suicídio.

A FIT espanhola para CSP limita o tamanho das instalações a 50 MW. O CSP vai buscar o calor ao sol mas transforma-o em energia eléctrica da mesma forma que as centrais termoeléctricas ou nucleares, através da rotação de uma turbina. A eficiência de uma turbina depende da sua dimensão e potência e alguns estudos indicam que o ideal será uma central CSP ter entre 150 e 250 MW de potência.

É neste cenário que o presidente da Iberdrola, Ignacio Sánchez Galán, veio pedir uma moratória para congelar a construção de centrais CSP até se anular o pesado défice tarifário espanhol, sob pena de se criar outra bolha como aconteceu com o solar fotovoltaico. Logo de seguida o presidente da Unesa (associação das utilities espanholas), Eduardo Montes, reiterou o pedido do Galán e reforçou sobre a insustentabilidade da actual política energética espanhola.

Neste outro artigo Galán vai mais longe e pede mesmo para se rever a política eléctrica espanhola, nomeadamente reenquadrar as renováveis. Galán pede que se olhe para o exemplo do Reino Unido. O Reino Unido está a apostar fortemente na energia nuclear como forma de produzir energia de base limpa. Conta construir 8 novos reactores nucleares que duplicarão a potência nuclear instalada mesmo depois do desmantelamento dos 18 reactores actuais.

Já referi em posts anteriores que não tenho muitas dúvidas que Espanha irá, no decorrer desta década, relançar um programa de renovação e expansão do seu parque nuclear, tal como o Reino Unido está a fazer. Tenho pena que Portugal fique para trás neste debate e nesta mudança de paradigma. Mas acho que é isso que vai acontecer.

Eólica
Há dez dias o governo espanhol anunciou um corte no FIT à eólica que eu apelidei de fatal para o sector. As reacções não se fizeram esperar e quer a Asociación Empresarial Eólica (AEE) quer a patronal eólica gallega (EGA) têm desenvolvido esforços para travar as pretensões do governo central e já admitiram mover processos em tribunal. Ambas afirmam que as novas tarifas não asseguram a rentabilidade dos parques e que esta nova lei inviabiliza o financiamento de novos projectos.


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