terça-feira, 23 de agosto de 2011

Onde estão os empregos verdes?

O blog Cachimbo de Magritte postou há dois dias sobre a descoberta que os americanos começam a fazer sobre o fiasco que tem sido a criação de empregos no sector das energias renováveis. A economia verde foi um dos cavalos de batalha da actual Administração Obama. Provavelmente influenciado pela propaganda renovável do Velho Continente o Presidente Americano decidiu atribuir incentivos a todos os players do sector renovável americano. A indústria de fabrico solar e eólica recebeu os famosos stimulus packages e a produção renovável é alimentada por feed-in tariffs. Houve ainda intenção de anular a vantagem económica da produção eléctrica  termoeléctrica com a introdução de um sistema cap and trade semelhante ao European Trading Scheme (ETS) mas nunca viu a luz do dia. O plano soa familiar? Os resultados também são. O plano previa a criação de 5 milhões de empregos em 10 anos mas hoje é unânime que é um rotundo insucesso como escreve aqui o New York Times.

Os americanos estão a aperceber-se que a vontade política e a modelação forçada do mercado por meio de subsídios pode funcionar durante algum tempo mas não todo o tempo. A criação de empregos duradouros é guiada pela competitividade das empresas, pela robustez dos modelos de negócio e a viabilidade das tecnologias, não por directiva administrativa central.

O problema está a ser agravado por cada vez mais os chineses estarem tomar conta, graças à sua mão-de-obra barata e à favorável paridade do Yuan, da produção mundial de turbinas eólicas e painéis solares. Os painéis fotovoltaicos, pelas suas dimensões, são particularmente fáceis de exportar pelo que a indústria americana está a sofrer um rombo enorme com a concorrência chinesa.

Produção electricidade por fonte EUA
Felizmente para os americanos só 4% da sua electricidade é gerada por energias renováveis (excluindo a hidroeléctrica). Nos países europeus onde essa parcela supera os 10% as renováveis não falham na criação de emprego, as renováveis estão as destruir empregos.

Na Dinamarca o importante sector eólico recebe subsídios à investigação e naturalmente à produção eléctrica a qual é em grande parte exportada com grande desconto no preço. Um estudo concluiu (Part 2) que os empregos criados pelo sector eólico não têm sido substancialmente diferentes do resto da actividade económica, apesar dos enormes incentivos que o sector goza na Dinamarca. Por a energia eólica ter sido uma aposta forte desde os anos 80 a Dinamarca exporta turbinas e serviços relacionados. Dificilmente nos EUA se consegue replicar a mesma proporção de exportação não só pela diferença de escala das duas economias mas também pela concorrência chinesa que referi acima. 

Um estudo espanhol, que estabelece paralelismos entre a experiência no país vizinho e as aspirações da Administração Obama, concluiu que, por via da forte subsidiação, por cada emprego verde criado no país 2,2 empregos na restante economia foram destruídos. E determinou ainda que por cada MW renovável instalado, em média, 5,28 empregos desapareceram.

Outro estudo, desta vez realizado na Alemanha, afirma no sumário que no longo prazo a energia renovável tende a destruir empregos "Second, numerous empirical studies have consistently shown the net employment balance to be zero or even negative in the long run, a consequence of the high opportunity cost of supporting renewable energy technologies". Logo a seguir reforça "Indeed, it is most likely that whatever jobs are created by renewable energy promotion would vanish as soon as government support is terminated, leaving only Germany’s export sector to benefit from the possible continuation of renewables support in other countries such as the US". Ou seja, tal como já tenho referido neste blog, por exemplo aqui, as energias renováveis não são competitivas e só existirão enquanto se mantiverem os incentivos à sua produção. Quando estes terminarem países com indústria produtora de turbinas como a Dinamarca, Espanha ou Alemanha ainda poderão continuar a exportar para países que mantenham tarifas feed-in para as renováveis. O solar já foi tomado pelos chineses em definitivo.

Portugal é uma excepção mundial pois não soube desenvolver uma indústria de turbinas antes de as começar a plantar pelo país como detalha aqui o Prof. Pinto de Sá. E segundo sei não existe nenhum estudo credível sobre o impacto no emprego da aposta nacional nas renováveis. A crença nacional tem sido idêntica à da Administração Obama, que por decisão política se pode criar as condições para a sustentabilidade das fontes renováveis de electricidade. A Associação de Energias Renováveis (APREN) é um dos bons exemplos deste pensamento sonhador e completamente alheado da realidade. Num estudo efectuado em colaboração com a Delloite a APREN acredita que até 2015 o sector renovável gere 60.000 empregos em Portugal (ver conclusões). Felizmente a troika está a colocar ordem e seriedade no sector e a médio prazo os portugueses vão sentir na carteira a miragem das renováveis.

3 comentários:

  1. Na altura em que foi publicado o primeiro Manifesto do grupo liderado por Mira Amaral, eu traduzi para português os sumários executivos dos três estudos que referiu, acerca dos problemas da energia eólica na Dinamarca, Espanha e Alemanha.
    Se quiser oferecê-los aos seus leitores e se me facultar o seu endereço de e-mail , posso enviá-los em ficheiro Word.
    Jorge Pacheco de Oliveira

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  2. Caro Jorge Oliveira,

    Já actualizei o meu perfil e o e-mail está acessível. Agradeço a sua disponibilidade. Envie-me as traduções e revisitarei este tema noutro post.

    Descobri o estudo dinamarquês quando andei a pesquisar para o post "Paradoxo dinamarquês". Os outros foram via o blog "a ciência não é neutra".

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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