Mariano Rajoy |
O abaixamento do preço grossista da electricidade sempre que há excesso de produção renovável não é um benefícios destas fontes mas uma desvantagem. Este argumento presente no estudo APREN/Roland Berger é tolo quando aplicado à produção renovável portuguesa mas não tanto se essa produção tiver lugar do outro lado da fronteira. Como o dia 6 de Novembro tão bem ilustra, o excesso de produção renovável espanhol é um prejuízo para os consumidores locais mas uma prenda para os consumidores portugueses. E claro, o inverso é verdade.
O preço da electricidade em Portugal já é o mais elevado da Europa para consumidores domésticos pesando o poder de compra como calculei aqui e o secretário de estado da Energia reconheceu recentemente. Se este preço é de alguma forma financiado pelo excesso de produção renovável espanhola é seguro que se a potência renovável instalada em Espanha for suprimida os consumidores portugueses irão sofrer as consequências.
Como venho defendendo neste blog há algum tempo não tenho dúvidas que Espanha irá trocar potência renovável por nuclear. Com um défice tarifário que ultrapassa os €20.000M parece-me uma dedução inevitável. Espanha precisa urgentemente de energia eléctrica barata e o nuclear será imbatível para o fazer sem o impacto ambiental das termoeléctricas.
A verdade é que em Espanha se têm dado passos extraordinários para que o país volte a apostar no nuclear. O anterior governo socialista em final de funções propôs novas tarifas para a eólica que, se aprovadas, serão a sua morte. Os lideres das eléctricas espanholas querem travar uma terceira vaga renovável agora sob a forma de termosolar concentrada. O maior avanço foi dado ontem com a maioria absoluta conquistada pelo Partido Popular (PP) nas eleições legislativas e a eleição de Mariano Rajoy como no Primeiro-Ministro de Espanha.
Embora durante a campanha Rajoy nunca se tenha comprometido com grandes objectivos, fosse para o sector eléctrico ou outro, é sabido que defensor de um mix energético que inclua centrais nucleares no parque electroprodutor. O programa do PP inclui para o sector eléctrico três medidas que dizem respeito ao nuclear (pág.33):
- Reverter a decisão de fechar a central nuclear de Santa Maria de Garona em 2013.
- Acordar a extensão até aos 60 anos no funcionamento das centrais nucleares espanholas em troca de uma taxa nuclear. Esta foi a proposta que Merkel fez aos operadores das centrais alemãs em 2010.
- Começar a estudar localizações para novas centrais.
A primeira medida deverá avançar imediatamente e acredito que o acordo para a segunda acontecerá brevemente. A grande dúvida será até que profundidade será levada a terceira. Mesmo que o número de centrais em Espanha não aumente se os novos reactores instalados forem de 1.600MW de potência a capacidade nuclear espanhola aumentará. Mas, como calculei aqui, Espanha poderá ir até 16 reactores de 1.600MW para gerarem cerca de 70% do consumo doméstico. Actualmente Espanha tem 8 reactores com um total de 7.448MW de potência que geram 18% do seu consumo.
Num cenário assim o diagrama de custos do MIBEL alterar-se-á para prejuízo de Portugal. O mais sensato seria o governo português começar a encetar conversações com o homólogo espanhol para que a aposta nuclear ibérica seja feita de forma concertada e integrada. Portugal só terá a ganhar com isso. Deixar-se ficar para trás será prolongar uma decisão mais ou menos inevitável. Arrastar demasiado esta decisão pode obrigar a construir mais centrais de ciclo combinado que inviabilizem o nuclear em Portugal até 2040.
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