quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A obsessão com a criação de emprego nas renováveis

Os defensores portugueses das renováveis têm dois argumento obsessivos, a potência instalada e a criação de emprego. É compreensível, não têm outros números em que fiquem bem na fotografia. Sobre a irrelevância da potência instalada face à energia produzida já me referi várias vezes, este post debruça-se sobre a a propalada criação de emprego. A APREN, com toda a sua demagogia, previa, em 2008, que em 2015 as energias renováveis criariam 60.800 empregos. Um número perfeitamente ilusório que testemunha a eufórica complacência pró-renovável que se vivia em Portugal antes da recessão mundial começar a trazer alguma objectividade a alguns observadores do sector. Hoje, até a APREN terá de rever os seus números depois do anúncio em relação ao congelamento de novos projectos renováveis. Não vou fazer uma contabilidade dos empregos efectivamente gerados pelas fontes renováveis em Portugal até porque a discussão não precisa de chegar tão longe para se desmontar este argumento falacioso dos defensores das renováveis. E não precisa por três razões fundamentais:
  1. Contar empregos criados e não os dividir pela energia eléctrica produzida não nos diz nada sobre a importância desses empregos. O sector eléctrico não foge à necessidade de eficiência e a eficiência só se mede reduzindo cada emprego à energia eléctrica que ele coloca na rede.
  2. Embora aparentemente desconhecido em Portugal, nos outros países europeus que apostaram fortemente em energias renováveis olha-se para o sector de uma forma mais científica e estudos aí realizados revelam que as energias renováveis destroem mais empregos na economia real do que aqueles que criam. Em Portugal, onde ao contrário dos países citados nunca existiu uma indústria de equipamentos para parques eólicos e solares, o rácio entre empregos criados e destruídos, principalmente nos mais qualificados, é ainda pior. Isso não interessa aos empresários que têm beneficiado das subvenções às renováveis mas é central numa análise do contributo positivo que o sector trouxe à economia portuguesa e à geração de emprego.
  3. Mas acima de tudo a criação de emprego não é um vantagem quando se fala de sector electroprodutor. Um centro electroprodutor é tanto melhor quanto menos empregos gerar. 
Confesso sentir algum constrangimento em escrever sobre conceitos tão básicos de racionalidade empresarial mas quando se usa tantas vezes o argumento da criação de emprego parece que nem toda a gente tem esta noção. A energia eléctrica não é um produto acabado que apela à emoção como um carro ou roupa ou um serviço diferenciado como um hotel de luxo ou um spa. É nesse tipo de produtos ou serviços que se consegue fazer diferença, seja na qualidade intrínseca ou tangível dos mesmo seja em valores mais abstractos e emocionais.

A energia eléctrica é um serviço básico, é um meio e não um fim em si mesmo. Pela particularidade de a energia eléctrica não ser um bem transaccionável e provir da mesma rede de distribuição nem sequer é possível distinguir a sua origem. Os consumidores não têm hipótese de fazer opções de origem da energia que consomem. Eu não sei se a energia eléctrica que me permite estar neste momento a escrever este texto no computador veio de Sines, Espanha ou de um parque eólico qualquer. Se um restaurante tiver um empregado por cada mesa ao invés de 10 mesas o serviço é com certeza melhor. Mas se amanhã a central do Carregado contratar mais 50 trabalhadores isso não mudará nada na forma como a máquina de lavar roupa cá em casa trabalha. Pode soar mal mas o sector electroprodutor ideal é aquele que não emprega ninguém. Ou aquele que emprega tão pouca gente quanto seja possível sem comprometer a sua eficiência.

Outra coisa completamente diferente seria os defensores portugueses das renováveis vangloriarem-se da criação de empregos qualificados indirectos na pesquisa e desenvolvimento, não na produção de energia. Porém isso é coisa que não existe. Isso seria estruturante e revelaria saúde e pujança do sector. Mas como se sabe em Portugal nunca houve visão para tal e neste momento é tarde. É tarde porque 2010 deverá ter marcado o pico da aposta renovável no mundo ocidental. E é tarde porque os chineses estão a tomar conta da indústria de fabrico de turbinas eólica e painéis solares.

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