Alcançar em 2015 uma capacidade instalada em energia eólica superior a 6000 MW e cerca de 6800 MW em 2020, em articulação com a instalação de nova capacidade hídrica reversível para absorver os consumos de vazio da eólica.
As outras fontes renováveis terão muito menos expressão e para quem tiver curiosidade encontra no ENE2020 as respectivas metas. Não vou analisar em detalhe a projecção de custos que a Roland Berger fez. Por um lado neste sumário não são reveladas as contas e por outro as contas partem de pressupostos errados assumidos pelo estudo na primeira parte.
Quero antes discutir a forma gritante como a Roland Berger ignora factos técnicos que fazem do cumprimento do PNAER uma tarefa bastante discutível como já tive oportunidade de analisar aqui. A Roland Berger faz a simplificação típica das projecções de integração de energia renovável que se encontram noutros estudos semelhantes, isto é, admite crescimento linear de todas as variáveis. Nem vou referir o facto de que, com uma produtividade média de 20% (solar), 25% (eólica onshore) e 40% (eólica offshore) a produção de electricidade das renováveis não acompanha o ritmo de instalação.
Mas realmente inoportuno é a tábua rasa que estes estudos fazem em características fundamentais para uma fonte de energia poder estar na base do diagrama de cargas e que não são apanágio das energias renováveis:
- Densidade e escala - É possível ter produção suficiente para satisfazer a procura? E que quantidade de combustível e/ou terreno ocupado é necessário para tal?
- Acesso à rede - A fonte pode estar tão perto da rede de distribuição para que seja tecnica economicamente viável explorá-la?
- Armazenagem - É preciso armazenar parte da electricidade produzida para se conseguir uma produtividade aceitável ou estabilizar a variabilidade na produção?
- Despachabilidade - A fonte consegue satisfazer a procura e as variações de carga na rede?
- As energias eólica e solares têm uma baixa densidade de produção e por isso requerem espaços generosos para a sua instalação. Acontece que em Portugal os melhores espaços estão tomados e, apesar de ainda não se verificar a contestação de outros países, os portugueses não vão tolerar o impacte ambiental de uma duplicação do número de geradores. Para tal terá de acontecer a instalação de futuros parques no mar que custam cerca de três vezes mais, custo que não é compensado pela melhor produtividade. Onde é que isto está mencionado no estudo? Em lado nenhum.
- Diz a Roland Berger que as energias renováveis permitem poupar nos custos da rede. Mas só numa visão utópica de produzir e consumir localmente através de redes regionais. No mundo real os parques eólicos são instalados em locais remotos (e no mar) exigindo por isso investimentos avultados para recolher a pouca electricidade que produzem.
- No post que linkei acima discuti a necessidade de armazenagem que o aumento da potência eólica irá exigir em Portugal. As novas barragens estão a ser construídas precisamente para isso. Naturalmente não existe qualquer referência por parte da Roland Berger a este facto que fará subir o preço médio da electricidade devido à baixa eficiência da bombagem.
- A deficiente, ou ausente, despachabilidade das energias renováveis são o grande entrave para poderem almejar estar na base do diagrama. Trocar produção ordinária por produção renovável como a Roland Berger faz é mais ou menos o mesmo que o Real de Madrid trocar o Cristiano Ronaldo por um modelo igualmente popular ignorando o facto de este não ser capaz de chutar numa bola. Ter um parque eólico de 6.800 MW instalado e saber que muitas vezes o seu contributo para a produção vai ser nulo é um luxo que só cabe na cabeça de irresponsáveis.
Claro que se se ignorar os pontos que mencionei acima é possível construir gráficos tão bonitos como estes acima. Ainda para mais incluindo benefícios líquidos como o "efeitos de mérito", a poupança em importação de combustíveis fósseis ou a criação de emprego que abordei na segunda parte da minha crítica.
Licenças de CO2
O factor mais decisivo para o ganho de competitividade das fontes renováveis segundo a Roland Berger é o aumento do custo ambiental para as centrais termoeléctricas em virtude das licenças de CO2. O documento não discute o impacto da substituição em Portugal, até 2030, de toda a produção eléctrica com carvão por gás natural que emite menos de metade de CO2 e muito menos de outros gases, esses sim, poluentes. Nem considera o fim do comércio das licenças que é um cenário com bastante probabilidade, principalmente se a Alemanha acabar mesmo com a energia nuclear e se virar para a produção termoeléctrica. Também não menciona a captura de armazenagem de carbono que é a grande esperança europeia para o futuro do sector (mas que na minha opinião é outra miragem como as renováveis).
A Roland Berger também não contempla a hipótese de construção de centrais nucleares em Portugal o que é compreensível. Como não emitem CO2 não precisam de adquirir licenças. Como não usam combustíveis fósseis também têm esse benefício. Mas mais importante que isso:
- A energia nuclear é a mais densa que existe e requer muito pouco espaço de implantação da central ou abastecimento de combustível.
- As centrais nucleares podem ser instaladas perto dos centros de consumo e não no cimo de serras ou no meio do mar.
- Com um mix produtivo bem dimensionado a existência de centrais nucleares não implica armazenagem. Mas se a potência nuclear for sobredimensionada a armazenagem necessária ainda assim pode ser economicamente competitiva dado o baixo custo da produção nuclear.
- Uma central nuclear moderna só precisa de parar um mês a cada 18 para renovação do combustível. A despachabilidade durante os 85 a 90% do tempo em que está a gerar electricidade é total para a base do diagrama. Para os picos é necessário o auxílio de fontes mais flexíveis na produção, como o gás natural e as barragens.
A Roland Berger não considera a produção ordinária nuclear porque ela não deixa que a produção renovável seja competitiva até 2030 e, provavelmente, nunca.
Caro Bruno Carmona.
ResponderEliminarAdmiro-o muito pelo seu contributo ao debate energético e o tempo que dispõe para o mesmo.
Sem duvida que a energia com os custos operacionais mais baixos é a nuclear, isso ninguém terá duvidas.
Mas faço-lhe desde já algumas perguntas:
1- Onde prevê a instalação da(s) centrais nucleares que tanto refere?
2 - As populações estarão de acordo?
3 - A opinião publica terá de acordo?
4 - Qual o meio de financiamento das mesmas?
5 - Que fim prevê para o lixo radioactivo?
Cumprimentos
Caro anónimo,
ResponderEliminarObrigado pelo seu elogio.
Faz perguntas de alguma complexidade mas deixo um breve comentário.
1. Perto dos centros de consumo e da rede de distribuição. Uma na Grande Lisboa e outra no Grande Porto. Como não vamos ter nenhuma antes de 2025 e nessa altura deve pensar-se em desactivar a central de carvão em Sines essa era uma possível localização para a central do sul.
2,3. As populações não estão de acordo. Seria necessário um trabalho de explicação das vantagens e da implicação da construção das centrais. Mas acredito que com honestidade as pessoas percebessem a necessidade delas.
4. Quase garantidamente seria necessária uma parceria público-privada dado o valor de investimento.
5. Quase todo ele será combustível nuclear para as futuras centrais nucleares de 4ª geração e por isso deveria ser armazenado. Contudo, parece-me razoável, dada a nossa falta de know-how e dimensão, entregar o ciclo do combustível a um país com indústria nuclear, Caso do Reino Unido por exemplo.
Cumprimentos