Na 1ª parte da análise que fiz ao miserável estudo da Roland Berger/APREN desmontei a aproximação que este fez entre os custos PRE e PRO. Nesta 2ª parte vou mostrar como é ridículo continuar a insistir em supostos benefícios colaterais das energias renováveis. Na página 7 do estudo afirma a Roland Berger que as energias renováveis permitiram poupar entre 2005 e 2010 €2.450M em importação de gás natural e carvão. Apreciei a decência de não se incluir o petróleo nesta equação mas não me espantaria pois foi sempre um dos slogans dos defensores das renováveis, nomeadamente do grande charlatão António Sá da Costa, presidente da APREN. Não me preocupei com a veracidade do número até porque ele é superado pelo custo da produção eólica (€2.866M) no mesmo período e calculado com dados da ERSE.
Mas mais importante que isso é existir um limite técnico para a poupança em combustíveis fósseis graças às renováveis:
- Quanto mais electricidade vier de fontes renováveis mais paragens nas centrais termoeléctricas tem que haver pelo que mais ineficientemente elas vão operar. Ou seja, com o aumento da produção renovável, o seu benefício ambiental é parcialmente destruído pela menor produtividade inerente ao funcionamento intermitente das centrais termoeléctricas para compensar as faltas de vento e sol.
- Como a produção renovável é ditada pela força da natureza e não por decisão da gestão da rede ela é variável de dia para dia, mês para mês e de ano para ano. A Quercus, que tem mais jeito para as contas do que a Roland Berger ou a APREN, veio hoje mostrar que apesar de mais potência renovável instalada em 2011 do que em 2010 este ano teve de se recorrer a mais combustíveis fósseis para produção eléctrica.
- Uma elevada penetração renovável com acesso privilegiado à rede dificulta a co-existência de energia nuclear, a única capaz de eliminar proporcionalmente a importação de combustíveis fósseis. Uma produção elevada de energia renovável só é compatível com barragens e gás natural pela capacidade que estas fontes de energia têm em variar rapidamente a produção eléctrica.
Segunda vantagem apontada às renováveis e um dos grandes mitos criados em Portugal é a sua capacidade de criação de emprego. Para começar, e a menos que já seja possível operar centrais termoeléctricas, nucleares ou barragens sem controlo humano todas as fontes primárias de electricidade geram emprego. A diferença é que umas geram emprego concorrendo no mercado, as renováveis geram emprego subsidiado pelo estado. Se, com a sua baixa produtividade característica, as energias renováveis gerassem mais empregos do que as outras formas de produção eléctrica isso era paradoxal com o objectivo deste estudo, mostrar que a produção renovável pode ser barata. A Roland Berger, como consultora internacional, devia saber mais sobre este assunto, devia saber que noutros países se fazem estudos sobre o impacto das energia renováveis. Devia saber que na Alemanha, Dinamarca e Espanha as energias renováveis eliminam empregos na economia real. Os nossos parceiros europeus na miragem renovável tiveram, pelo menos, a visão de criarem uma indústria renovável. Portugal não o fez e é a própria EWEA (interessada na promoção do sector) que não contabiliza mais do que algumas centenas de empregos em Portugal gerado pela indústria renovável. Com o progressivo fim das tarifas garantidas à produção renovável na Europa e a migração do fabrico de equipamentos de energia solar e eólica para a China só mentirosos ou ingénuos podem afirmar que o cluster renovável em Portugal existe ou tem futuro.
A afirmação seguinte no texto "segurança do abastecimento do País" é cómica, do nível da que comentei na primeira parte sobre o impacto positivos das energias renováveis nos custos da rede e que o Ecotretas tão bem desmontou. Como é que é possível escrever-se que fontes de electricidade imprevisíveis e incontroláveis dão segurança energética a um país que se assume minimamente desenvolvido e membro da União Europeia? Portugal não é a Somália. É certo que os modelos de previsão de condições meteorológicas estão cada vez mais afinados mas dão para antecipar a produção em poucos dias, não mais. Portugal tem a segurança da produção nuclear francesa. Aliás, boa parte da Europa depende da segurança energética gaulesa. Pode afirmar-se que as energias renováveis asseguram até certo limite, como discuti acima, independência energética ainda que o façam com custos muito elevados.
Caro amigo,
ResponderEliminarAs SCUTs também se pagavam a si próprias. E existem estudos que mostram que o TGV é um projecto rentável (ai essa avaliação económica das externalidades positivas!)
Mas no final a conta sempre aparece e não engana!
Para o ano quando a electricidade subir é tirar uma cópia da factura e enviá-la todos os meses aos nossos amigos da APREN e da RB para a anexarem ao estudo.
Como sabe cerca de 70% da Factura da Electricidade tem que ver com produção e transporte. Os restantes repartem-se entre PRE como a cogeração, eólica e fotovoltaica, etc. Cada uma das três possui peso distinto, sendo a eólica e a cogeração são as que levam a maior fatia.
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