Confesso que, enquanto contribuinte, tenho tido dificuldade em compreender onde se encontra a valia de €278.368 do estudo realizado pela Roland Berger para a APREN. Nas minhas críticas um, dois e quatro ressalvo como o estudo é pautado por argumentos desviantes e omissões imperdoáveis que em nada contribuem para ajudar a perceber a competitividade de cada fonte primária de energia eléctrica. Esta última parte do sumário, por outro lado, é original e traz novas e relevantes sugestões. Finalmente entendo a razoabilidade de tantos milhares de euros de dinheiros públicos gastos!
Estes aspectos já foram rebatidos nas análises anteriores. A novidade vem a seguir:Em primeiro lugar, devem ser adoptados ajustes à metodologia de cálculo do diferencial da PRE-FER face à PRO que conduzam a uma análise ajustada dos custos de geração e internalizem os custos e benefícios relacionados com os dois tipos de geração. Verifica-se que a estrutura tarifária actual apresenta uma visão distorcida do custo de energia, ao não reflectir nessa parcela a totalidade dos custos PRO, nomeadamente os custos com os CAE e CMEC, pois são custos de geração da PRO contratualizados.
Desta forma, estas parcelas sairiam da rubrica dos Custos de Interesse Económico Geral (CIEG) passando a integrar os custos de energia, limitando o aumento que se tem verificado nestes “custos de política energética” e que não têm correspondência com a evolução da PRE-FER.
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Com o ajustamento do custo da energia, o peso dos CIEGs na tarifa passa de 41% para 15% na estrutura estimada para 2011.
No final a factura é a mesma mas depois desta operação de charme custará certamente menos a pagar.
Naturalmente, separe-se ainda mais o trigo do joio da PRE. A co-geração fóssil só interessa às grandes empresas que a exploram, jamais à generalidade dos consumidores. Para além disso, é suja e poluidora.O valor do diferencial da PRE deverá estar separado entre a componente renovável, PRE-FER, e não renovável, PRE-NFER (cogeração fóssil). Além disso este diferencial deveria ser autonomizado dos CIEG, já que tem peso que o justifique, evitando associações incorrectas.
Sugere-se também a substituição da expressão “sobrecusto” por “diferencial de custos”, já que estes podem ser positivos ou negativos.Bravo, outra sugestão estruturante que irá sem dúvida aliviar a factura dos consumidores.
Verifica-se ainda que da dívida tarifária de 2010, apenas 15% está afecta à PRE-FER e que este valor não tem origem num desvio não previsto desta forma de geração, mas numa decisão extraordinária de não repercutir o diferencial da PRE em 2009, ao contrário da prática comum. Esse custo deve então ser imputado ao custo de energia do Comercializador de Último Recurso (CUR) e não à PRE.
Fantástico! A PRE não tem culpa das más decisões políticas. O défice acumulado por excessiva remuneração de PRE é um mito que importa desfazer.
Conclusão
Na lógica da Roland Berger e da APREN se se retirar da parcela CIEG tudo o que não é custo com renováveis esta vai emagrecer de tal forma que os consumidores vão perceber como é baratinha a electricidade gerada com vento e sol. Pouco importa a proporção entre custo e electricidade produzida. Pouco importam os investimentos necessários para reforço da rede, bombagem ou backup térmico, eles deixam de estar na parcela CIEG e por isso não são imputáveis às renováveis.
Na visão da Roland Berger e da APREN não existe nenhum problema fundamental com o custo da produção eléctrica em Portugal. Existe sim uma injusta atribuição às renováveis do preço da electricidade que convém separar.
Como a própria APREN faz questão de lembrar neste sumário não é a primeira vez que emite estudos (realce da própria APREN):
Noutro estudo promovido pela APREN, realizado em 2008, previa-se que, em 2015, o sector das energias renováveis contribuiria em 4.120 M€ para o PIB Nacional, e seria responsável pela geração de 60.800 empregos.Como dá para notar, já nessa, altura a APREN mostrava uma visão realista sem mácula.
Meu comentário
A APREN não quer que nada mude, de facto, na política tarifária. Mas isso nós já sabíamos. Escusava o ministério da economia ter gasto €278.638. O problema do custo da electricidade é grave e transversal a toda a economia nacional. Exigia-se à APREN mais seriedade nas afirmações que faz.
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