quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Já somos 7 mil milhões

A acreditar no contador que o jornal Expresso tinha na sua página de internet a Terra conta desde a passada segunda-feira com 7 mil milhões de seres humanos vivos.  O triunfo da raça humana mas um enorme problema de gestão de recursos.  De acordo com a International Energy Agency (IEA) existem mais de 1,4 mil milhões de seres humanos sem acesso a energia eléctrica.
Como os  defensores das renováveis acreditam que a humanidade pode depender deste tipo de fontes fiz uma contas rápidas para tentar perceber que ponto era fazível fornecer estas todas estas pessoas com energia eólica, ainda assim a mais realista das fontes renováveis sem ser a hidroeléctrica.
Fui buscar os dados de quatro países: Portugal; África do Sul por ser, quanto a mim, uma referência mínima de bem-estar; China por ser a futura potência mundial e a Somália por ser um dos países mais pobres do mundo e com um baixo consumo eléctrico (0,03 MW/ano - linha 2) per capita (o que quer dizer que a energia eléctrica não está acessível a todos os somali). Os dados de Portugal são os oficiais, os restantes, por rapidez, tirei do World factbook da CIA.
Primeira constatação é que a intensidade energética de Portugal é pouco superior à da África do Sul (4,95 vs 4,33 - linha 3). Apesar de Portugal ser um país de clima temperado, e por isso a requerer pouca energia eléctrica para aquecimento, este dado permite duvidar dos objectivos de eficiência energética pretendida pelo governo para o país. Conseguir-se 25% até 2020, provavelmente, só se o tecido empresarial português e os hábitos de vida dos portugueses se aproximarem mais do standard africano (mesmo se do país mais rico de África) do que dos nossos parceiros europeus.
Feitas as contas, se os 1.400M de pessoas sem acesso a electricidade vivessem em Portugal garantir-lhes o fornecimento com eólica subvencionada a €55/MWh (valor realista tendo em conta o custo actual da tecnologia eólica onshore) custaria anualmente mais de duas vezes o PIB nacional (linha 8). Se o consumo dessa população fosse igual ao de um chinês mesmo assim o PIB português teria de duplicar para pagar FITs (linha 9). Mais realista, se esses 1.400M fossem Somali e o país lhes quisesse garantir um fornecimento ao nível de um sul-africano o PIB da Somália teria de subir cerca de 8.000% (l10).
Naturalmente fazer chegar electricidade a 1,4 mil milhões de pessoas, ainda para mais sabendo que a maior parte delas vive em países extremamente pobres, é uma tarefa enorme mesmo recorrendo à barata produção a carvão. Consegui-lo com vento, como fica demonstrado, envolveria custos anuais brutais, até para países com o nível de desenvolvimento de Portugal.
Mas os maiores desafios às renováveis seriam técnicos e não financeiros. Já tenho referido vários deles no blogue mas vou detalhar a questão do espaço. Com uma produtividade média de 25%, para o consumo sul-africano, seria preciso adicionar mais 173 GW (l12), ou 72% (l13) da potência de 240 GW instalada até final de 2011. Com uma densidade de 2,7W/m2 isso iria requerer uma área equivalente a 5 Portugal ou quase uma França.

2 comentários:

  1. "O governo japonês aprovou um resgate de 900 mil milhões de ienes (8,4 mil milhões de euros) à Tokyo Electric Power Co. (Tepco), após a catástrofe nuclear em Fukushima que provocou a destruição dos reatores. O objectivo do governo é evitar a falência da maior distribuidora de energia eléctrica do Japão, bem como começar a pagar a indemnização devido à crise nuclear."

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  2. Caro anónimo,

    Se ler o artigo até ao final verá que parte dos prejuízos da Tepco advém da paragem forçada de boa parte dos reactores nucleares japoneses.

    “Os activos líquidos da Tepco de 708,8 mil milhões de ienes poderão ser arruinados no final do próximo ano fiscal” se não se subirem os preços da electricidade e se não se reiniciar o funcionamento das plantas de energia nuclear

    http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=517019&pn=1

    Se o governo alemão mandasse parar as linhas de montagem da BMW depois de ter acontecido um acidente numa das suas fábricas acha que a BMW ficava bem economicamente?

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