sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Espanha desincentiva energia eólica

Sentença de morte em Espanha?
Uma das reservas que me levanta o novo plano energético para Portugal tem que ver com a forte possibilidade de Espanha rever a sua política e reapostar no nuclear. Creio que a questão não é "se" mas "quando" isso irá acontecer.  Espanha tem um problema gravíssimo com um défice tarifário cerca de dez vezes superior ao português para um consumo eléctrico cerca de cinco vezes maior. E numa altura em que as agências de rating "atacam" a qualidade da dívida espanhola e no clima de todas as convulsões financeiras na Europa urge conter este défice.

Mesmo que não seja com nuclear, Espanha terá de diminuir produção especial em favor de produção ordinária para baixar custos de geração. Com uma produção cinco vezes maior do que a nossa o digrama de cargas ibérico vai alterar-se, o custo no MIBEL também. Não digo que seja inevitável acontecer o mesmo por cá mas no MIBEL nórdico, o Nordpool, em que existe um país de produção inferior e muita eólica (Dinamarca) e dois países com mais produção e quase toda ordinária (Noruega e Suécia) a base de licitação do mercado é de €-20/MWh.

Racional seria Portugal parar imediatamente adição de mais potência renovável e renegociar a remuneração da existente. Como é uma medida radical sugeri, pelo menos, baixar as tarifas de novos contratos para valores que reflictam os actuais custos de produção (€55/MWh eólica e €170/MWh fotovoltaica). Também devia haver ajustes na restante produção especial. E considero que os incentivos à microgeração e mini-hídrica deviam acabar desde já por uma questão de justiça social.

Mas hoje o Ecotretas revelou que Espanha vai cortar unilateralmente os subsídios à produção eólica, cerca de 40% do valor actual. A atribuição passa a ser de apenas €55/MWh (o valor que calculei como justo), durante 12 anos ao invés de 20 e para 1.500h/ano no lugar de 2.100! Naturalmente a Asociación Empresarial Eólica (AEE) prevê que, da potência prevista instalar até 2015, só 12% venha a ver a luz do dia. Ou seja, Espanha foi mais longe do que aquilo que o governo português diz ser possível em Portugal ou até daquilo que sugeri. Não tenhamos ilusões, em Espanha a sentença de morte da energia eólica foi decretada.

Não deixo de ficar impressionado com o ritmo dos acontecimentos no sector eléctrico ibérico. Escrevi, quando construi os cenários de 2 e 3 reactores de 1.600 MW em Portugal, que essas possibilidades devem ser coordenadas com Espanha para haver escala para gerar economias e capacidade de gestão. Não me preocupa essa necessidade pois sempre achei que Espanha ia liderar o processo. Creio que essa mudança se inicia precisamente com este corte nos incentivos à eólica espanhola.

Relembro que quando a Holanda fez um corte de 40% nos incentivos à eólica anunciou simultaneamente um programa nuclear.

10 comentários:

  1. Meu caro, não tenha tanta confiança nesse cenário. O tema energético actual em Espanha parece ser outro.

    "The Basque Country has discovered a shale gas field in southern Alava

    The President of the autonomous Basque Government, Patxi Lopez, announced on Friday in Dallas (Texas) that the Basque Country has discovered a shale gas field in southern Alava of 180,000 million cubic metros..."

    FC

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  2. Caro Bruno Carmona,

    Antes de mais é indispensável fazer uma nota do que postou na "Microgeração é anti-social". 1º As tarifas que fala são incorrectas, o valor para os contratos são de 360€/MWh (8 anos) para potências de ligação inferior a 3,68 kW e de 250€/MWh para potências superiores. Estão instalados no país, cerca de 45 MW, que representam um universo de cerca de 13000 Microprodutores. Se cada um produzir em média 5500 KW/ano, isso equivalerá a cerca 30 milhões de euros/ano. Dizer que o défice tarifário de mais de 3.200 milhões de euros é da responsabilidade da Microgeração, não é falar verdade.

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  3. Caro FC,

    É verdade que o shale gas não só está a aumentar as reservas de gás natural do mundo o que manterá os preços mais baixos como, se calhar mais importante, está a redistribuir essas reservas pelo mundo o que traz mais segurança energética à Europa ou EUA.

    http://luzligada.blogspot.com/2011/08/euromilhoes-polaco.html

    Neste século, na produção eléctrica, a primeira metade vai ser dominada pelo gás natural e a segunda pelo nuclear. O nuclear não pode viver sem o GN para dar resposta aos picos de consumo. Acho pouco provável Espanha compensar com GN toda a produção eólica, nuclear e carvão do país. Pouco provável e nada recomendável. Mas veremos o que acontece.

    Caro Pedro,

    Admito que tenha dado valores desactualizados. Mas os que refere continuam a ser obscenos. A microgeração não contribui para o défice nem para o mix produtivo, por isso se desparecer não se dá por isso. Acima de tudo, acho que deve acabar por uma questão de justiça social.

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  4. Caro Bruno Carmona,

    Obscenos? Obsceno é o custo das centrais nucleares, os impactos ambientais quando a coisa corre mal (que nenhum Pró-Nuclear FALA)? Obscenas são as milhares de vitimas que ainda sofrem ou sofreram da proclamada "Geração Limpa". Obsceno é pensar que algum dia será possível instalar uma central Nuclear no litoral norte do nosso País...

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  5. Caro Pedro,

    Antes de ficar excitado e recorrer a clichés, pense lá um pouquinho - pequenino - mas pense!

    Julga que a população japonesa teria atingido o nível de vida que tem sem o nuclear? Ou a francesa aqui ao lado? Ou a italiana - com a suprema hipocrisia de serem o maior importador mundial de electricidade (basicamente toda de origem nuclear) e terem vetado o nuclear em Itália?!? E o que é que o resto do mundo beneficiou com o desenvolvimento do Japão, da França e da Itália?... e estou muito longe de ser exaustivo...

    Tem dúvidas que o Irão tem mesmo de ter centrais nucleares, por maior que seja o risco que isso representa para a paz? Alguma vez se apercebeu que a única forma de obter água potável em quantidade suficiente para satisfazer as necessidades (via consumo directo e produção agrícola) de milhares de milhões de pessoas, é através da dessalinização? E que termodinamicamente os dois processos (aquecimento ou arrefecimento) que o permitem fazer têm rendimentos miseráveis? Mas que a produção constante de electricidade via nuclear se adapta muitíssimo bem ao ritmo dos consumos diários? À noite produz muito, consome pouco e armazena; e vice-versa de dia.

    Quem é que lhe arrogou o direito de negar aos miseráveis na China, Paquistão, Índia, e em todos os países do mundo que não têm o seu nível de vida, o conforto que o Pedro desfruta? O seu modo de vida não lhe parece imoral e obsceno comparado com o dessas pessoas? Quando você consumir a mesma energia que eles consomem em média, tem moral para dizer mal do nuclear, do carvão, do gás de xisto, dos hidratos de metano, e tudo o resto que anda a exorcizar. Até lá sugiro-lhe recato e boas maneiras. Fique sabendo que nunca conheci nenhum defensor da energia nuclear que fosse a favor do esclavagismo, coisa que objectivamente a esmagadora maioria dos ambientalistas não são! O seu modo de vida é insustentável à custa de renováveis, e a quase totalidade não está puto disposta a abdicar do seu conforto médio-burguês... Porque os que (sobre)vivem em cabanas e da recolecção, não me consta que lhes tivesse sido dado escolha, nem sequer para pensarem se queriam ser ambientalistas ou não.

    AM

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  6. Caro Bruno Carmona,

    Nos dois últimos comentários que aqui fiz, só lhe peço que me diga qual é a parte(s) que encontra e se acha no direito de não concordar. Diga me qual é?? Lamento, mas não vou entrar no seu nível de se achar superior e dono da razão, isso não, respeito a sua opinião mas isso não me obriga a concordar com ela, e tb não ponho em causa a sua capacidade de raciocínio, facto que indelicadamente sugeriu.

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  7. Caro Pedro,

    O último comentário, com o qual de resto concordo, não foi feito por mim mas pelo AM.

    Não tenho nada contra fontes renováveis de energia desde que concorram em mercado livre em condições idênticas às restantes.

    Concordo que o governo português atribua dinheiro para I&D em todas as fontes de energia, renováveis, combustíveis fósseis e nuclear. Mas a presença das fontes no mercado deve ser feita pelo seu mérito não por condições favoráveis dadas artificialmente.

    Em relação ao nuclear, pense que quando coloca a trabalhar o seu Honda, liga a sua TV Sony ou tira uma fotografia com a sua Nikon isso é possível em parte porque os japoneses souberam, em boa hora, apostar em energia nuclear.

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  8. Caro Pedro,

    Passo então explicar-lhe de uma forma que «até uma criança de 4 anos perceba» porque tenho razão.

    Verifico que já colocou 3 mensagens a este texto do Luz Ligada. A energia eléctrica que precisou de consumir para o fazer, é superior à energia eléctrica consumida por milhões de seres humanos por dia... Adapte os seus consumos aos seus princípios e veja lá o que acontece (antecipo que só vai conseguir ver o que quer que seja durante o dia).

    Quanto à sua hipersensibilidade a ser contrariado, é possível que radique numa infância em que isso não lhe foi feito o número de vezes adequado.. No entanto não devo aprofundar o diagnóstico dado que a psiquiatria não é a minha especialidade.

    Cumprimentos,

    AM

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  9. Caro AM,

    Não vamos partir para a ofensa pessoal.

    Caro Pedro,

    Os seus comentários padecem do problema dos argumentos típicos dos defensores das renováveis. Se quer discutir objectivamente o problema tente responder às questões:

    - Se as renováveis são competitivas porque razão ainda existem FITs?

    - Se é possível um país depender unicamente de renováveis porque é que isso ainda não aconteceu em nenhum país do mundo? É capaz de construir um cenário desses realista para Portugal?

    - Se a sustentabilidade ambiental se consegue com renováveis como explica que a emissão de CO2 por cada MWh produzido na Dinamarca seja 7x superior, na Alemanha seja 6x e em Portugal 3x superior à de França?

    http://luzligada.blogspot.com/2011/07/falacia-das-renovaveis.html

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  10. Caro Bruno,
    A casa é sua. Como convidado agradeço a hospitalidade e peço-lhe desculpa por qualquer inconveniência.
    AM

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