Como quase todos os portugueses, desde sempre fui sugestionado que lá em cima havia um ser superior omnipresente e omnisciente. E desde sempre achei esta ideia completamente disparatada. Não consigo entender como é que os conceitos de omnisciência e omnipresença passam no crivo de um pensamento com o mínimo de racionalidade.
A história terrena dos mensageiros divinos, seja Jesus Cristo seja Maomé (as que conheço melhor), também nunca me pareceu possuir qualquer credibilidade por violarem noções básicas de anatomia, biologia ou física. Fecundação de uma virgem, ressuscitação, etc. São histórias de ficção com um enredo muito fraco, ainda por cima sexistas. E é graças a estes contos que cristãos perseguem judeus, muçulmanos perseguem cristãos, todos perseguem homens da ciência e discriminam as mulheres. Tudo muito bizarro para a minha capacidade de compreensão.
Nunca aderi à fé em Deus mas na minha adolescência aderi à fé do ecologismo. Contudo nunca comprei o pacote completo, deixei sempre de fora o nuclear. O ecologismo, nascido na década de 70 do século anterior, é genericamente contra a energia nuclear. Mas ser contra a energia nuclear não passa na peneira de racionalidade. É impossível argumentar contra ela com coerência. A energia nuclear é limpa, abundante, concentrada, competitiva e segura, o que há de mal nisso?
Não é possível construir uma narrativa anti-nuclear consistente. Mas afirmar que a actividade humana desenvolvida no século XX está a desequilibrar o mundo natural de uma forma potencialmente irreversível e destruidora não toca, à partida, nenhuma campainha de contra-senso. A ideia é credível, não questionava a nossa capacidade de extinguir espécies animais ou desflorestar a Amazónia. Porém, já na altura, me pareceu excessiva a teoria do aquecimento global.
Como é que num século o Homem tinha sido capaz de alterar o clima de um planeta que já conta com 4,5 mil milhões de anos? Como é que, se a actividade humana consome menos energia num ano do que aquela que o Sol produz num minuto (ou algo nesta ordem de grandeza), ela pode ter um peso tão grande no clima terrestre? Sempre me pareceu haver aqui uma gritante disparidade de forças, o David a vencer o Golias, mas havia consenso nos jornais. Havia a cimeira do Rio. Havia um pequeno barco do Greenpeace que navegava pelo mundo a desafiar os super-petroleiros. Se havia quem arriscasse assim a vida é porque o assunto era real e sério. Eu aceitava a narrativa mas haviam peças do puzzle que não encaixavam.
A primeira peça que não encaixava era a recusa da energia nuclear. Se a energia nuclear é essencial para diminuir a poluição provocada pelas actividades humanas como é que os ecologistas podiam ser contra?
Já mais recentemente, a intensa propaganda para promoção das energias renováveis intermitentes tinha lacunas graves. Era supostamente barata e sustentada mas precisava de ser subvencionada. Mas o que é que, sendo barato e sustentável, precisa de ser apoiado pelo Estado? Decidi pesquisar e descobri a aldrabice do modelo económico das energias eólica e solar que que nos é veiculada.
Mas o que fez desmoronar a minha fé no ecologismo foram aqueles a que os ecologistas ortodoxos e radicais chamam de cépticos ou negadores do aquecimento global. Os media sempre difundiram a mensagem do ecologismo que emergiu da falência do socialismo, mas uma boa parte da comunidade científica mantinha-se firmemente contra essa narrativa. E isso fazia-me confusão. Se o aquecimento global era real porque é que homens do saber o contestavam? Se o aquecimento global era consensual porque é que os seus defensores desvalorizavam os negadores com injúrias e acusações de serem agentes das grandes petrolíferas? Se o aquecimento global era inegável porque é que os alarmistas não esmagavam os cépticos com evidências factuais? Era muito estranho.
Não ter mais nada para disputar um debate do que acusações de actividade de lobby enfraquece muito a posição. Mas era isso que os alarmistas faziam para contrariar estudos científicos do lado dos cépticos. O argumento de lobby é fraco porque serve para os dois lados. Os alarmistas também podiam estar a ser pagos pelas empresas das novas fontes renováveis.
Pior do que fraco, o argumento dos alarmistas era e continua a ser insensato. As empresas que exploram os combustíveis fósseis não precisam de fazer lobby para manter a sua actividade. Estas empresas não são colossos devido a uma eficaz teia de influências. São enormes porque ainda não têm concorrência, porque no estado actual da tecnologia não existem alternativas. É verdade que o carvão pode ser substituído pelo nuclear (como aconteceu em França) mas o ecologismo não considera essa possibilidade.
Mais, as grandes empresas de extracção não estão emocionalmente ligadas aos combustíveis fósseis, perseguem racionalmente os lucros. Se os lucros estiverem nos biocombustíveis é aí que elas se concentram. Ou no solar, ou na fusão nuclear.
As empresas com sucesso são flexíveis e adaptáveis. O ecologismo só destrói as grandes petrolíferas se destruir a actividade económica e industrial e, como evidenciarei noutros posts, é mesmo esse o objectivo do ecologismo. O aquecimento global e a destruição do planeta é o pretexto. A desindustrialização é o objectivo. Às acusações de lobby os cépticos sempre responderam com estudos científicos do clima e análises custos/impacto para políticas de mitigação de alterações climáticas.
A visão ecologista sempre teve pedras na engrenagem, sempre teve meias verdades e muita propaganda. A visão céptica é estruturada, científica e moderada.
Designar os racionais de cépticos e negadores como fazem os ecologistas diz muito mais sobre aquilo que é o ecologismo do que sobre a contestação racional. Mantive os adjectivos propositadamente. Noutro post irei voltar a este tema.
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