Apesar do acontecimento em Fukushima ter criado um compasso de espera 2012 deverá recolocar os vários projectos de construção de novas centrais nucleares no mundo de novo em cima da mesa. Ainda para mais por terem começado a existir sinais de que a economia mundial está prestes a sair da crise que se abateu sobre ela em 2008. Contrariamente ao que se veicula penso que será mais a exploração de novas formas de gás natural e não Fukushima a poder boicotar este renascimento do nuclear que, para já, parece estar a afirmar-se.
HTGR Antares da Areva |
O renascimento do nuclear terá que ser acompanhado necessariamente por inovação no desenho de reactores. A regulamentação será cada vez mais apertada o que levará a uma obsolescência mais rápida das actuais tecnologias. Também a inovação na utilização das outras fontes evoluirá pelo que o nuclear terá de se aperfeiçoar para não morrer. A inovação e competitividade no nuclear é tanto mais importante pela pouca popularidade que tem entre as comunidades. Ainda que acredito que ela tenderá a melhorar não me parece que alguma vez o nuclear vá gozar de wishful thinking fantasioso como aquele que alimenta hoje em dia as fontes renováveis intermitentes. A energia nuclear terá de se continuar a impor pelos números.
Creio que a inovação acontecerá naturalmente desde que haja mercado e aí é preciso facilitação política. Quando digo facilitação não me refiro a apoios mas apenas a planeamento e legislação que permita a construção de novas centrais nucleares. Sou optimista ao ponto de achar que se esse espaço para o nuclear for criado a visão de Bill Gates de uma concorrência feroz e altamente inovadora de soluções nucleares surgirá.
Na semana passada houve duas notícias que ajudam a alimentar a convicção de que o nuclear está longe de estar morto. Da Índia chegou a notícia de que o governo local planeia, no começo de 2013, preparar o funcionamento (commission - uma etapa fundamental para a entrada ao serviço de um reactor) do seu primeiro reactor nuclear de 4ª geração. Trata-se do primeiro de um conjunto de cinco reactores de neutrões rápidos ou Fast breeder reactors (FBR)com uma potência de 500MWe, muito superior ao experimental de 13MW existente no país ou ao de 20MW que a China ligou à rede no verão passado.
Os FBR têm a capacidade de consumir urânio 238 (o mais abundante) e por isso têm um consumo específico de urânio muito mais baixo do que a actual geração. Os FBR conseguem inclusivamente consumir resíduos produzidos nos reactores actuais. Este novo reactor constitui o começo da segunda fase do prgrama nuclear indiano, um dos mais ambiciosos do mundo. A primeira fase começou na década de 70 com a construção de reactores que usam água pesada para arrefecimento (Pressurized Heavy Water Reactor - PHWR) e que se ofram tornando cada vez mais potentes à medida que o país ia acumulando know-how. A Índia tem neste momento alguns PHWR em construção. Os FBR destinam-se precisamente a consumir os resíduos que os PHWR geraram ao longo das últimas décadas. A terceira fase terá lugar com o lançamento daquilo a que os indinao designam de advanced reactor que será capaz de consumir tório 232, um material quatro vezes mais disponível na Terra do que o urânio 238 e do qual a Índia detém as maiores reservas mundiais.
Nos EUA, país que recentemente aprovou a construção da sua primeira central nuclear em 30 anos,viu agora a Next Generation Nuclear Plant Industry Alliance (NGNP) seleccionar um design de reactor de 4ª geração arrefecido a gás. A NGNP é uma joint venture criada pelo governo central em 2005 que visou juntar esforços entre várias empresas ligadas ao sector energético para desenvolver e contruir até 2021 um reactor High-temperature Gas-cooled Reactor (HTGR) arrefecido a gás em alternativa à água comum nos reactores actuais. A escolha caiu no reactor Antares da francesa Areva. A utilização de um refrigerante alternativo permite aumentar a temperatura de funcionamento do reactor até perto dos 1000ºC. Para além da maior eficiência do reactor na produção de energia eléctrica as temperaturas elevadas que o gás pode atingir permitem-lhe gerar calor ou produzir hidrogénio em cogeração. Isso torna este tipo de reactor bastante apetecível para outras indústrias e não apenas as que exploram a produção eléctrica. A aliança NGNP é constituída por algumas petrolíferas e outras empresas que actuam no sector químico.
A industrialização de reactores de 4ª geração será um passo decisivo para o futuro da energia nuclear no mundo. A eficiciência destes reactores afasta definitivamente questões de duração de reservas de urânio. E por diminuirem grandemente a quantidade e perigosidade dos resíduos que criam colocam-se noutro patamar de segurança face aos reactores actuais.
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