segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A irritação dos Leafistas

Tive conhecimento, há poucos dias, da existência do fórum NissanLeafPT, dedicado aos proprietários e entusiastas portugueses de Nissan Leaf. Decerto serão mais entusiastas pois proprietários não haverão em Portugal nem cem. A descoberta aconteceu porque alguém abriu um tópico no fórum sobre o meu blog, referência que me agradou confesso. Previsivelmente os comentários não foram muito abonatórios, o que não me desagradou de todo. Acredito que o prazer que esta centena de utilizadores retira dos seus Leaf seja beliscado pela recordação de que ele só é possível com o contributo dos impostos de todos os portugueses. Ou que seja desagradável tomar consciência que o vanguardismo ecológico que estes proprietários se arvoram acaba com uma pequena lição de história. Ou ainda que irrite ser informado que a electricidade portuguesa, à conta de irracionalidades com o carro eléctrico, vai ficar mais cara em 2012 e estragar as contas de quem já comprou ou pensa comprar um.

Não resisti a dar uma vista de olhos pelo fórum e não deixei de me divertir com o tópico em que se discute o preço e duração das baterias do Leaf. O tópico está recheado do pensamento optimista e utópico tão característico dos proprietários de carros eléctricos. De outra forma não teriam comprado um. Um dos participantes relembra que a Nissan afirma que as baterias duram 10 anos, eu relembro que a Nissan dá apenas 5 anos de garantia sobre elas. Outro utilizador sugere que o preço das baterias poderá cair para metade em 2020, eu lembro que o custo elevado das baterias origina fundamentalmente na utilização de materiais raros e que a crescente procura tenderá a torná-los mais caros e não mais baratos.

Noutro tópico um utilizador queixa-se que a ausência de postos de carregamento rápido na A2 não lhe permite ir ao Algarve no seu eléctrico. De facto, sem carregamento rápidos o Leaf não pode ambicionar sair da cidade. Mas eu relembro que a Nissan afirma que os carregamentos rápidos reduzem a longevidade das baterias e que a Nissan GB também afirma que estas custam €22.000, ou seja, o preço de um carro convencional novo de características semelhantes ao Leaf. Se calhar mais vale deixar o Leaf em casa e fazer as viagens no convencional.

Eu não diabolizo os carros eléctricos. Só não os acho uma proposta concorrencial (nunca foram em 120 anos de história) e não concordo com a isenção de impostos e incentivos (que ainda não foram pagos) de que gozam. Acho que têm potencial para melhorar a qualidade de vida nas cidades (menos ruído e menos emissões). Era capaz de comprar um para esse fim se tivesse o preço adequado. Por enquanto os carros eléctricos são excentricidades de famílias com desafogo financeiro.

Deixo duas nota para os defensores dos eléctricos pensarem:

1. Se os eléctricos evoluírem tanto como afirmam (ou desejam) já pensaram que os actuais valerão próximo de zero? Se as baterias em 2015 tiveram o dobro da autonomia e custarem uma fracção das actuais que valor comercial terá um Leaf de 2010? Que carro de combustão interna desvaloriza 90% em 5 anos? Que interesse existe em ser um dos primeiros compradores de carros eléctricos em Portugal para além da vaidade da suposta vanguarda ecológica?

2. Imaginem que os compradores de carros de combustão interna estavam dispostos a abdicar das performances e passavam a valorizar a economia. Imaginem que aceitam a velocidade máxima do Leaf de 145 km/h e buscam acima de tudo frugalidade. Qual seria o consumo médio de um parque automóvel assim? 4l/100km? Qual o impacto no consumo de combustível? Provavelmente conseguia-se uma redução de 50%.

2 comentários:

  1. eu sou um desses condutores e o consumo da minha Sharan (modelo mais recente) é na ordem dos 7, para um utilização mista. E ando bem mais devagar que os 145. Agora acho que vender baterias é uma treta. O modelo da renault de aluguer parece bastante mais interessante.

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  2. Eu sou proprietario de um Leaf.
    Aprecio todas as críticas construtivas mas não concordo com o vanguardismo que o senhor apregoa. Aposto que o sr até é uma das pessoas que tem mais do que um telemovel em funcionamento mas, certamente, teria dito os mesmos disparates que aqui diz na altura da introdução dos primeiros TMs no mercado.
    Tive um acidente com o Leaf há quase um mês e afirmo-lhe com toda a sinceridade que o sr não sabe do que fala. Das duas vezes que tive de ir abastecer o veículo de substituição, acredite que aumentou o meu sentimento de falta para com aquela viatura.
    Só lamento o conceito não ter sido introduzido mais cedo, senão mais cedo teria aderido.
    Cumprimentos.

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