domingo, 10 de julho de 2011

Guerra nos céus

A320NEO equipado com motores PW1000G
Foi no final de 2010 que a Airbus apresentou a nova geração do seu modelo Single Aisle A320 o qual foi recebido com grande desconfiança por parte dos Lessors que não perderam tempo a minimizar o potencial da nova aeronave. Obviamente a irritação dos lessors não advém das fracas capacidades do novo A320 mas da preocupação com o valor dos seus activos em termos de aeronaves de médio curso. É que, a confirmar-se o anunciado incremento de 15% na poupança de combustível e 2 toneladas na capacidade de carga, o novo A320 NEO (como é conhecido) não é só a mais recente proposta do consórcio europeu de fabrico de aeronaves. É um atestado de obsolescência quer à actual frota A320 quer à família 737NG da rival Boeing.

Apesar de apresentar algumas evoluções ao nível da fuselagem e sistemas (caso dos sharklets) a grande novidade do A320NEO (New Engine Order - que lhe dá o nome e a prometida frugalidade) advém das duas novas motorizações oferecidas, o CFM Leap-X e o Pratt & Whitney PW1000G. Mesmo contabilizando o preço superior em cerca de $8 milhões face ao actual A320 e a incógnita que será o custo de manutenção dos novos motores é inegável que, a partir de 2016 quando o NEO começar a cruzar os céus, ele se tornará um elemento diferenciador na competição entre companhias.

Sem entrar em grandes detalhes técnicos, que se encontram aqui, quer o motor americano da P&W quer o motor da joint-venture franco-americana CFM conseguem uma melhoria dos consumos optimizando o trabalho da fan (de resto a zona onde se produz a maior parte do impulso dos motores turbofan modernos) recorrendo a diferentes soluções. O PW1000G adopta uma caixa redutora no veio da fan para aperfeiçoar a velocidade de rotação desta em relação ao core do motor. Ao invés, o Leap-X incrementa o bypass ratio (relação entre o ar que passa na fan e não entra no compressor e o ar que é queimado nas câmaras de combustão) para 10:1 (cerca do dobro do actual CFM56 que equipa os A320).

Dificilmente se podia contestar o sucesso do A320NEO e a reacção inicial dos lessors só veio anunciar o forte impacto que o novo modelo teve nos meses seguintes. Só durante o Paris Air Show foram encomendados 380 unidades por parte de duas companhias low cost asiáticas o que elevou para mais de 1.000 o número de A320NEO encomendados. Estes números fazem desta a mais bem sucedida aeronave de sempredo ponto de vista comercial.

Desenho de um motor turbofan open rotor
Nem só os lessors se sentiram pressionados pelo renovado modelo europeu. Na Boeing tem reinado a completa indefinição sobre como dar resposta capaz ao A320NEO, se remotorizando o actual 737 se avançando desde já para um modelo completamente novo. Na minha opinião a empresa americana devia apostar na segunda via. Um 737 modificado nunca será competitivo face ao A320NEO (por exemplo, o 737 não tem altura para receber o CFM Leap-X sem alterações importantes no trem de proa). Para além disso, a Boeing já partirá com atraso nunca conseguindo lançar a resposta antes de 2018. É preferível apostar num modelo completamente novo com motores open rotor mais económicos (na imagem) que permitirão à Boeing retomar a liderança tecnológica e comercial no segmento Single Aisle dentro de uma década.

É inegável, numa época em que o maior custo das companhias aéreas é o combustível, o contributo que o A320 NEO terá na competitivade das mesmas. Principalmente nas low cost que fazem do preço das passagens a sua primeira aposta. Será por isso interessante saber que posição tomarão as duas principais low cost carriers europeias, Ryanair e Easyjet.

A estratégia da companhia inglesa é mais fácil de adivinhar. Por já operar o A320 é natural que progressivamente vá substituindo a actual frota pelos novos NEO. Já houve até comentários oficiais da empresa em relação à nova aeronave.

Mais interessante é a opção da Ryanair que opera exclusivamente Boeing 737-800. A empresa irlandesa costuma estar um passo à frente da concorrência e para já assinou um acordo de entendimento com os chineses da Comac que irão lançar, também em 2016, um rival do A320NEO. Conhecido por C919 e feito para rivalizar com o novo Airbus, faz-se equipar precisamente com os mesmos motores CFM e P&W do A320NEO.

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