Mix eléctrico australiano |
Emissão de gases de efeito de estufa por fonte |
Esta preferência prende-se com o facto de a Austrália ter enormes reservas de carvão. Este mineral tão abundante no território constitui mesmo a sua maior fonte de exportação. E a Austrália também lidera o ranking de exportadores de carvão à frente da Indonésia. Esta riqueza tem a vantagem de proporcionar aos australianos um preço de electricidade muito competitivo mas o grande inconveniente, para o resto do Mundo, de a Austrália ser o maior emissor de GEE per capita do planeta. Existirão alternativas? Naturalmente que sim.
Carbon Capture and Storage (CCS)
A Austrália podia aumentar o peso do gás natural pois tem esse recurso no seu subsolo com reservas estimadas para 81 anos. Mas isso iria melhorar, não solucionar o problema. Outra hipótese seria equipar as centrais a carvão e gás natural com captura e armazenamento de CO2 (CCS). Porém essa é uma tecnologia não totalmente dominada. E mesmo dominada pode elevar para cerca do dobro o custo de produção da central termoeléctrica. Uma das razões para tal é que existe necessidade de comprimir o dióxido de carbono capturado antes de armazenar debaixo da terra. Esse processo pode consumir cerca de 25 a 40% da energia produzida numa central a carvão. Outro problema são os riscos de fugas do CO2 armazenado no subsolo. Reconheçamos, mesmo que a industrialização do CCS venha a ser uma realidade (e a preço competitivo) não é uma solução muito elegante. Se não queremos CO2 libertado é preferível não o emitir no processo de geração eléctrica. É essa uma das vantagens das energia renováveis e nuclear.
Solar fotovoltaica
Custo de produção de MWh por fonte |
Hidroeléctrica
Mix produtivo fontes renováveis |
Eólica
Distribuição de ventos (m/s) |
Em 2009 a Austrália produziu 266 TWh de energia eléctrica, dos quais 90%, ou 240 TWh, a partir de combustíveis fósseis. Distribuindo igualmente pelo ano isso significa que, em média, as centrais termoeléctricas do país produziram 27,4 GW ininterruptamente. Se a mesma quantidade de electricidade viesse do vento a Austrália precisaria de 78GW de potência eólica instalada. Mesmo considerando a enorme área do país favorável à produção eólica, que cobre vários fusos horários, seria impossível conseguir um equilíbrio produtivo de forma a ultrapassar a intermitência na rede. A ideia europeia de uma super rede eléctrica poderá mitigar mas jamais permitir 90% de produção eólica. Seria inevitável, numa noite de muito vento, a rede eléctrica australiana ser chamada a absorver um excesso 51 GW. E de que forma o poderia fazer, exportar como faz Portugal para Espanha? Impossível pois a Austrália está rodeada por mar. Armazenar em barragens por meio de bombagem como é também objectivo luso? Não existem rios e lagos para viabilizar esta hipótese. Só resta aos Australianos desligarem os parques eólicos da rede quando estes produzirem a mais. O problema é que a grande vantagem ambiental das turbinas eólicas (não consumir combustível) é um grande entrave económico à sua massificação. Como a energia eólica não tem custos variáveis, desligar parques eólicos da rede em alturas de sobreprodução iria implicar uma queda considerável do factor de capacidade e um agravamento do preço do kWh.
Desligar da rede os parque eólicos nas alturas de produção em excesso teria como consequência uma insuficiência de energia armazenada para dispensar à rede nas alturas de produção eólica deficitária. Ao contrário dos países europeus com excesso de potência eólica instalada a Austrália não pode depender de uma "França nuclear". A Austrália tem de ser auto-suficiente dentro das suas fronteiras. Mesmo com uma potência eólica instalada de 78GW, teria de ter sempre centrais a gás natural de reserva para alimentarem a rede quando tal fosse preciso, como acontece em Portugal. Para além dos custos associados à diminuição da eficiência das centrais termoeléctricas por não operarem na sua potência nominal essa condicionante estragava os objectivos de abandono de combustíveis fósseis. Este exercício do caso australiano serve para mostrar algo que detalharei mais noutro post e que já comentei neste. A energia eólica não serve para produção de energia de base se não for combinada com mecanismos de escoamento do excesso (barragens) e compensação da falta (central gás natural).
Por não ter capacidade de armazenagem de energia eólica em barragens a descarbonização da economia Australiana só será possível com a mudança da produção energética para uma fonte isenta de emissão de GEE, competitiva no preço face aos combustíveis fósseis e sem a intermitência da eólica, a energia nuclear. Enquanto isso não acontecer a taxa ambiental de Julia Gillard terá um impacto tão profundo quanto a erradicação dos camelos. A aversão dos australianos à energia nuclear não deixa antever novidades para breve.
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