O jornal Expresso noticiou na edição da semana passada que a Câmara Municipal de Lisboa (CML) assinou um protocolo de cooperação com a agência governamental japonesa NEDO (New Energy and Industrial Technology Development Organization) para o desenvolvimento de projectos na área da gestão e eficiência energética. Entre as soluções a testar incluem-se naturalmente carro eléctrico, smart grids e edifícios inteligentes produtores de energia eléctrica. Previsivelmente a NEDO considera Lisboa uma parceira ideal para montar à escala de uma grande cidade projectos energéticos a maior parte deles altamente dispendiosos e pouco eficientes. Quase garantidamente o investimento ficará a cargo do município. Com que dinheiro seria interessante saber mas a CML já deu mostras de ter um wishful thinking na área da energia inabalável mesmo em alturas de austeridade.
É indiscutível que Lisboa é altamente apetecível para este tipo de experiências. Não só a gestão da cidade é favorável como Portugal é líder na integração de energias renováveis intermitentes e na instalação de postos de abastecimento para veículos eléctricos. Temos campo bem fértil para a plantação deste tipo de projectos. Que a colheita não é bem aquilo que Lisboa e o país precisa no campo e energético é menos relevante.
Dois conceitos fundamentais para a eficiência na Indústria são produção just in time e a economia de escala. O conceito de produção just in time (JIT), curiosamente aperfeiçoado no Japão, defende que a produção de um bem ou produto deve seguir o mais fielmente a procura sem necessidades de inventário ou armazenamento reduzindo por isso custos. A ideia de economia de escala é a de que o custo unitário de produção tende a diminuir com o aumento de unidades produzidas, dado que todas as empresas têm custos fixos independentes do seu output.
Estes são conceitos universais. Também já foram no sector eléctrico. Mas deixaram de ser com o advento das energias renováveis intermitentes e a microgeração. As renováveis intermitentes são a antítese do just in time e a microgeração é a negação das economias de escala. No entanto, é isso que a NEDO vai propor aos lisboetas.
Não contesto e reconheço que se pode fazer mais em eficiência energética de edifícios. Reconheço virtudes de um sistema de rede de distribuição mais inteligente. Mas querer desenvolver sistemas de armazenamento de energia eléctrica nos quais a divulgação do carro eléctrico se insere não faz sentido do ponto de vista técnico e ofende qualquer lógica económica. Da mesma forma pretender que edifícios urbanos produzam energia eléctrica em micro-escala é uma ideia demasiadamente ingénua para se continuar a ter em tempos tão difíceis. A sociedade portuguesa e os políticos portugueses ainda não se aperceberam que a ineficiência electroprodutora do país é um dos maiores elefantes brancos nacionais e uma das mais ruinosas políticas dos últimos 15 anos. A demissão de Henrique Gomes é só o começo de um processo que será certamente uma das pastas mais difíceis deste Executivo.
A jornalista Luísa Meireles que assina o artigo termina o texto referindo que o Japão está num processo de passagem da energia nuclear para as renováveis. É certo que, no rescaldo de Fukushima, a energia nuclear passou a ser menos popular entre os japoneses. Mas não é certo que o Japão a abandone internamente. Se o fizer é garantido que se o fizer terá importantes proporções ambientais e económicas.
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