Portugal tem sido um dos países pioneiros no consumo de energias renováveis, particularmente eólica. Actualmente o país tem instalados cerca de 4.000MW de potência eólica. Como os parque eólicos nacionais têm uma factor de capacidade de cerca de 25% todo o conjunto de aerogeradores fica aquém da capacidade de produção de, por exemplo, um reactor nuclear Areva EPR. E claro, ocupam uma área de solo enorme. Esta questão do espaço é um problema da energia eólica, principalmente num país pequeno em área como Portugal. Dado que nem todos os locais são apropriados para a instalação de aerogeradores e que um parque eólico, devido à sua baixa intensidade, ocupa uma grande superfície não é difícil de entender que é um desafio encontrar locais suficientes em território nacional para poder ter uma potência instalada eólica que satisfaça as necessidades de electricidade de base do país.
No julgamento da EDP a solução passa pela exploração dos ventos na nossa costa o que, à partida, faz todo o sentido. Não se rouba espaço em terra, os parques podem ficar perto dos grandes centros consumidores (Lisboa, Porto, Setúbal, Faro). E, acima de tudo, por não existirem obstáculos físicos, no mar o vento sopra mais forte. Com tantas vantagens podemos perguntar porque é que não se começou por explorar a força do vento no mar em detrimento de em terra. Essencialmente porque a produção de energia eólica offshore custa cerca de três vezes a onshore. Mas nem só do ponto de vista económico a eólica offshore é questionável.
Tecnicamente a implantação de turbinas no mar é um desafio muito maior do que em terra. Não só a instalação exige mais meios e tem um custo mais elevado mas também a manutenção posterior do equipamento requer uma logística superior à dos aerogeradores em terra. Estas são questões com que as empresas que já instalaram parques eólicos offshore se depararam. Nomeadamente na Dinamarca que foi o país pioneiro na técnica e que, não surpreendendo, tem a energia eléctrica mais cara da Europa.
Hoje em dia os parque eólicos offshore do mundo estão, basicamente, concentrados no norte da Europa por razões que se explicam facilmente. Os mares do norte da Europa têm profundidades baixas o que permite que a profundidade média a que as turbinas estejam afundadas seja de apenas 11m. A tecnologia de ponta offshore é detida pela Siemens (Alemanha) e Vestas (Dinamarca) com esta última a ser fornecedora da experiência que a EDP vai realizar. Mas fundamentalmente é nos extremos norte e sul do planeta que estão os ventos mais fortes. Isso fica patente neste mapa de ventos da NASA com o inverno do hemisfério norte em cima e o verão em baixo. Pode-se ver claramente que no inverno, quando os países do norte mais precisam de electricidade para aquecimento, que Irlanda, Escócia, Inglaterra e os países nórdicos são atingidos por ventos com intensidades de 1200W/m2, sensivelmente o dobro dos 600 W/m2 da costa portuguesa. E mesmo no verão, quando Portugal mais precisa de energia para arrefecimento, os ventos sopram mais forte no norte da Europa. Esta qualidade dos ventos a norte ajuda a explicar porque é que a maioria dos parque eólicos europeus estão situados nas costas norte da Alemanha, ao largo da Dinamarca e das ilhas britânicas e não no mar Mediterrâneo.
E o projecto da EDP? A EDP pretende instalar uma turbina Vestas de 2,0MW em mar profundo (mais de 50m) sem enterrar a torre no fundo do mar optando, ao invés, por a fazer boiar. A EDP pretende ser pioneira em parque eólicos flutuantes e reafirmar o pioneirismo de um país que não tem nem tecnologia, nem condições de vento para isso.
E o projecto da EDP? A EDP pretende instalar uma turbina Vestas de 2,0MW em mar profundo (mais de 50m) sem enterrar a torre no fundo do mar optando, ao invés, por a fazer boiar. A EDP pretende ser pioneira em parque eólicos flutuantes e reafirmar o pioneirismo de um país que não tem nem tecnologia, nem condições de vento para isso.
Não haverá um risco enorme para a EDP nesta aposta? Não Se a EDP conseguir provar nos 12 meses em que vai decorrer a experiência que a pequena turbina de 2MW consegue gerar energia eléctrica. Para os contribuintes portugueses seguramente. À semelhança da energia eólica onshore a industrialização de um parque desta natureza só avançará com forte subsidiação do estado português. A pergunta tem que se colocar ao nível do estado. Para que interessará a Portugal subsidiar um parque eólico offshore num local de águas profundas e ventos fracos? Que interessa a um país pobre estar a fazer experiências em tecnologia não madura com pouca ou nenhuma integração de equipamento e know-how nacional?
O programa de governo do PSD questiona a oportunidade de tanta produção de energia eléctrica em Regime Especial (PRE) no nosso país. O memorando de entendimento da troika assinado pelos três principais partidos portugueses defende claramente o fim das subsidiação às renováveis. Espero que o novo ministro da economia Álvaro Santos Pereira tenha em conta este ponto do memorando “Decisions on future investments in renewables, in particular in less mature technologies, will be based on a rigorous analysis in terms of its costs and consequences for energy prices. International benchmarks should be used for the analysis and an independent evaluation should be carried out. Reports on action taken will be provided annually in Q3-2011, Q3-2012 and Q3-2013.” quando tiver à sua frente a pasta do parque eólico offshore.