Aparentemente nada têm que ver mas existem muitos paralelismos entre a energia nuclear e o transporte aéreo. A mais óbvia é o mediatismo de qualquer acidente que aconteça. Apesar de pouco frequentes quer os acidentes aéreos quer os acidentes em centrais nucleares têm normalmente consequências elevadas. Isso dá-lhes direito à atenção dos meios de comunicação de uma forma quase única. Os acidentes rodoviários são tão comuns que nos habituámos a considerar como algo quotidiano e cujo acontecimento é irrelevante. Em contraste, qualquer perda humana que envolva aviões, mesmo que seja do outro lado do planeta e não envolva conterrâneos, prende a nossa atenção.
Esta característica comum ao transporte aéreo e à energia nuclear de os acidentes poderem ter resultados brutais faz com que ambas as actividades estejam sujeitas níveis de legislação e supervisão anormalmente apertados. Isso resulta em exigências de segurança acima da média e na prática o avião e a central nuclear são, estatisticamente, as formas mais seguras de transporte e produção de energia eléctrica respectivamente. Mas uma coisa é aquilo que a racionalidade dos números demonstra outra é o receio irracional criado pelo mediatismo doas acidentes. Por mais que os números contrariem é difícil á maioria das pessoas ultrapassar a percepção que têm do risco que atribuem a viajar de avião ou viver perto de uma central nuclear.
Outra parte desse medo advém do desconhecimento. Um avião e um reactor nuclear são sistemas altamente complexos cuja compreensão não está acessível a todos. Quase toda a gente tem uma opinião sobre os dois mas será uma minoria que entende que força sustenta um avião no ar ou o que provoca a cisão do urânio no interior de um reactor nuclear. E a incompreensão gera medo.
Não obstante as contrariedades a aviação e a energia nuclear persistem e continuarão a existir simplesmente por serem essenciais à vida moderna. O comboio de alta velocidade constitui actualmente uma alternativa viável ao avião em viagens até 3 horas mas em distâncias maiores o avião é imbatível. E se a viagem evolver a travessia de oceanos o barco é incapaz de competir com a rapidez do avião. Na produção eléctrica também não existe nenhuma fonte capaz de produzir sustentavelmente (em poluição e combustível) energia de base como uma central nuclear.
O transporte aéreo e a energia nuclear são duas das actividades humanas mais regulamentadas e por essa razão seguras. São também das mais avançadas tecnologicamente e por isso sujeitas a equívocos e mitos. E são formas eficientes de dar resposta a necessidades da sociedade actual e por isso o seu desaparecimento devia ser impensável. É precisamente aqui que a aviação e a energia nuclear divergem. Apesar do medo que existe em viajar de avião não existe ninguém no mundo que recomende o desaparecimento do transporte aéreo. Já a energia nuclear tem muitos detractatores que iriam aplaudir o seu fim. Creio que é uma simples questão de imagem, enquanto o transporte aéreo remete a pessoa comum para um imaginário glamoroso e agradável de férias, destinos exóticos e hospedeiras simpáticas uma central nuclear é um unidade industrial sombria e feia, colonizada por homens mascarados e de onde saem bombas atómicas.
Deverão os governos recusar o bem-estar que a energia nuclear traz baseados apenas numa imagem pública pouco sedutora? Não deveria até ser inconstitucional privar as populações do progresso e do avanço tecnológico? Por muito pouco interessante que seja o design dos fato-macacos dos trabalhadores de uma central nuclear na sua essência a energia nuclear é benéfica para o desenvolvimento das sociedades.