domingo, 29 de janeiro de 2012

Aviação vs energia nuclear, a bela e o monstro

Aparentemente nada têm que ver mas existem muitos paralelismos entre a energia nuclear e o transporte aéreo. A mais óbvia é o mediatismo de qualquer acidente que aconteça. Apesar de pouco frequentes quer os acidentes aéreos quer os acidentes em centrais nucleares têm normalmente consequências elevadas. Isso dá-lhes direito à atenção dos meios de comunicação de uma forma quase única. Os acidentes rodoviários são tão comuns que nos habituámos a considerar como algo quotidiano e cujo acontecimento é irrelevante. Em contraste, qualquer perda humana que envolva aviões, mesmo que seja do outro lado do planeta e não envolva conterrâneos, prende a nossa atenção.

Esta característica comum ao transporte aéreo e à energia nuclear de os acidentes poderem ter resultados brutais faz com que ambas as actividades estejam sujeitas níveis de legislação e supervisão anormalmente apertados. Isso resulta em exigências de segurança acima da média e na prática o avião e a central nuclear são, estatisticamente, as formas mais seguras de transporte e produção de energia eléctrica respectivamente. Mas uma coisa é aquilo que a racionalidade dos números demonstra outra é o receio irracional criado pelo mediatismo doas acidentes. Por mais que os números contrariem é difícil á maioria das pessoas ultrapassar a percepção que têm do risco que atribuem a viajar de avião ou viver perto de uma central nuclear.

Outra parte desse medo advém do desconhecimento. Um avião e um reactor nuclear são sistemas altamente complexos cuja compreensão não está acessível a todos. Quase toda a gente tem uma opinião sobre os dois mas será uma minoria que entende que força sustenta um avião no ar ou o que provoca a cisão do urânio no interior de um reactor nuclear. E a incompreensão gera medo.

Não obstante as contrariedades a aviação e a energia nuclear persistem e continuarão a existir simplesmente por serem essenciais à vida moderna. O comboio de alta velocidade constitui actualmente uma alternativa viável ao avião em viagens até 3 horas mas em distâncias maiores o avião é imbatível. E se a viagem evolver a travessia de oceanos o barco é incapaz de competir com a rapidez do avião. Na produção eléctrica também não existe nenhuma fonte capaz de produzir sustentavelmente (em poluição e combustível) energia de base como uma central nuclear.

O transporte aéreo e a energia nuclear são duas das actividades humanas mais regulamentadas e por essa razão seguras. São também das mais avançadas tecnologicamente e por isso sujeitas a equívocos e mitos. E são formas eficientes de dar resposta a necessidades da sociedade actual e por isso o seu desaparecimento devia ser impensável. É precisamente aqui que a aviação e a energia nuclear divergem. Apesar do medo que existe em viajar de avião não existe ninguém no mundo que recomende o desaparecimento do transporte aéreo. Já a energia nuclear tem muitos detractatores que iriam aplaudir o seu fim. Creio que é uma simples questão de imagem, enquanto o transporte aéreo remete a pessoa comum para um imaginário glamoroso e agradável de férias, destinos exóticos e hospedeiras simpáticas uma central nuclear é um unidade industrial sombria e feia, colonizada por homens mascarados e de onde saem bombas atómicas.

Deverão os governos recusar o bem-estar que a energia nuclear traz baseados apenas numa imagem pública pouco sedutora? Não deveria até ser inconstitucional privar as populações do progresso e do avanço tecnológico? Por muito pouco interessante que seja o design dos fato-macacos dos trabalhadores de uma central nuclear na sua essência a energia nuclear é benéfica para o desenvolvimento das sociedades.

 

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Espanha suspende subvenções a novos projectos renováveis

Uma semana depois de o governo alemão anunciar o fim progressivo das subvenções à energia solar, o governo espanhol anunciou, como se esperava, suspensão (para já temporários) no apoio dado a futuros parques produtores de energia renovável. Como tenho vindo a acompanhar aqui no blog o executivo anterior já tinha feito uma proposta de redução de apoio às eólicas que os intervenientes no sector apelidaram de ruinosa. E as grandes utilities espanholas tinham pedido uma moratória para impedir novos parques termosolares concentrados.

Mas a lei anunciada hoje é mais radical dado que qualquer parque eólico, solar, termosolar, cogeração ou biomassa construuído a partir de hoje terá de concorrer no mercado. E de acordo com a notícia nenhum prazo foi dado para a manutenção desta lei que na prática deverá parar de imediato novos projectos renováveis. A medida é sem dúvida o reflexo do défice tarifário de 24 mil milhões de euros que nuestros hermanos acumulam numa altura em que o país entra em recessão.

Em Portugal, depois do recente anúncio do congelamento de novos parques eólicos, é sabido que o ministério de Economia está a avaliar o sector e dentro em breve deverá apresentar novidades. Desconfio que, talvez não com a mesma contundência, mas o executivo português deverá seguir as pisadas do governo de Rajoy.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Erro das renováveis na comunicação social

O sobrecusto das renováveis e cogeração é cada vez mais notícia e tema da imprensa generalista. Ontem, na SIC Notícias, Patrick Monteiro de Barros falou sobre alguns assuntos abordados neste blog, o desastre económico das renováveis, o monstruoso défice tarifário, a segurança da energia nuclear, a necessidade de baixar o preço médio da energia em Portugal, segurança e independência energética, impacte ambiental. Para ver aqui a partir do minuto 7:00: http://sicnoticias.sapo.pt/programas/jornaldas9/article1260592.ece 

E hoje é o tema da coluna de Henrique Raposo no jornal Expresso.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Recursos endógenos... quando os há!

Dizem os defensores das energias renováveis que as mesmas têm a virtude de promover a independência energética por explorarem recursos endógenos. Claro que sim, enquanto existirem recursos endógenos. Esse não é o caso de 2012. O ano começou solarengo. Ideal para quem está de férias, ou tem de trabalhar ao ar livre. Mas uma desgraça para a nossa balança energética. E claro, como existe de certa forma uma correlação entre chuva e vento desconfio que a produção eólica neste mês do mês também não esteja a ser entusiasmante.

Este bom tempo não vem nada a calhar para a causa renovável numa altura em que o governo está a estudar os apoios às várias fontes de energia. Esta demonstração da imprevisibilidade das fontes renováveis pode ser um dilúvio para a pretensão de quem pretende a manutenção das actuais regalias.