sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Custos ambientais das centrais termoeléctricas calculados

Indústrias que fazem 50% da poluição (com CO2) - EEA
Revela o jornal Público que o relatório da European Environment Agency (EEA) intitulado "Revealing the costs of air pollution from industrial facilities in Europe" (aqui) afirma que os custos ambientais decorrentes das actividades industriais na Europa cifraram-se, em 2009, entre os 102 e 169 mil milhões de euros.

Em Portugal, os custos variaram entre os 1432 e os 1986 milhões de euros, se estiverem incluídas as emissões de dióxido de carbono (CO2), ou entre 332 e 886 milhões de euros se ficarem de fora essas emissões.

Sectores mais poluidores (sem CO2) - EEA
Três quartos dos custos totais foram causados pela emissão de apenas 622 unidades fabris, ou seja, 6% do total. O sector que mais polui é evidentemente o sector eléctrico como é patente no diagrama ao lado que não inclui o CO2 que não é um gás poluente.

Voltando a excluir o CO2, segundo o relatório, o Top20 das unidades industriais mais poluidoras da Europa é preenchido por centrais termoeléctricas como se pode ver no quadro abaixo.

Da lista completa de 622 indústrias, 12 estão em Portugal. As indústrias que mais custos causaram foram a Central Termoeléctrica de Sines (entre os 296 e os 357 milhões de euros), a Central Termoeléctrica do Pego (entre 102 e 114 milhões de euros), a Refinaria de Sines (entre os 96 e os 175 milhões de euros) e a Central Termoeléctrica do Carregado (entre 73 e 76 milhões de euros). Como se pode ver no mapa, a Central de Sines está no quadro das indústrias que contribuem para 50% da poluição industrial europeia. 

Tentando ser o mais justo possível com estes dados vou admitir que dos €332M de custos ambientais em Portugal sem CO2, €250M são responsabilidade das termoeléctricas ordinárias.

Diagrama produção eléctrica por fonte (REN)
2009 foi um ano de hidraulicidade média (ver diagramas ao lado) e portanto com uma produção renovável e não emissora de poluentes média. Creio por isso que se pode admitir que foi um ano típico. A produção termoeléctrica ordinária neste ano foi de 23.708 GWh (ver abaixo).

Um reactor nuclear de 1.650MW de potência com uma produtividade de 0,85 produziria cerca de metade deste valor (12.286 GWh) o que significa que permitiria uma poupança de €150M/ano em custos ambientais directos (talvez mais porque acabava produção com carvão) já que tem um impacte ambiental praticamente nulo. Como custaria entre 5 e 7 mil milhões de euros estaria pago ao fim de 30/45 anos só em poupanças ambientais directas (contra um tempo de vida de 60 anos). Podia-se acrescentar os custos indirectos da obtenção e transporte dos combustíveis fósseis.

Produção eléctrica por fonte (REN)
E a alternativa renovável? Prescindir de 24.000 GWh de produção térmica ordinária com PRE renovável seria praticamente impossível do ponto de vista técnico como analisei aqui, para além de ruinoso do ponto de vista financeiro. Também não podemos contar com as novas barragens dado que estas vão acrescentar apenas 3,3% de capacidade de produção líquida ao parque electroprodutor nacional.

A troca de produção a carvão por produção a gás diminuiria a factura ambiental mais de metade do seu valor. Mas as únicas formas de reduzir efectivamente a poluição no sector eléctrico é substituir produção térmica por nuclear ou hídrica. A produção hídrica tem os limites impostos pela natureza para além de outros impactes ambientais que importa contabilizar.

A União Europeia acha que existem mais duas vias, a aplicação de Carbon, Capture and Storage (CCS) às centrais térmicas e a eficiência energética. A primeira é uma delírio sem razoabilidade técnica nem interesse prático como reforçarei no próximo post deste blog. A segunda tem limites que se ultrapassados deixa de ser eficiência energética e passa a ser não produção.

Tenho defendido que seja cobrado às centrais termoeléctricas europeias taxas que traduzam os seus reais custos para o ambiente e saúde. Desta maneira poder-se-á evidenciar o mérito da produção nuclear e sonhar em viabilizar economicamente a produção eólica e solar não subsidiada.

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