quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

O "altamente provável" arrefecimento global

Há duas semanas afirmei que a partilha na internet duma versão preliminar do quinto assessment report (AR5) do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) por parte de um dos seus revisores era um embaraço para esta organização. E seria um embaraço porque um dos gráficos constantes do documento não consegue disfarçar aquilo que é mais do que sabido, que a temperatura média do planeta estabilizou no séc. XXI e neste momento já se encontra fora de qualquer previsão dos modelos computacionais do IPCC. Mas eu já devia saber que uma organização que há mais de 20 anos perpetra a maior falsidade da história moderna não se ia embaraçar facilmente.

Aproveitando um discurso recente e famoso do nosso Primeiro-Ministro eu diria que o ligeiro arrefecimento verificado no séc. XXI, longe de ser uma ameaça para a credibilidade do IPCC, é uma oportunidade para tornar a retórica do efeito do Homem sobre o clima a toda a prova. Primeiro vamos a factos: 
1. O dióxido de carbono é um gás de efeito de estufa, o seu aumento na atmosfera tem a capacidade de fazer aumentar a temperatura. É um gás que, usando um jargão científico, tem um feedback positivo com a temperatura. 
2. Os aerossóis (pequenas partículas sólidas ou líquidas suspensas num gás)  quando presentes na atmosfera têm o efeito de baixar a temperatura porque, essencialmente, servem de escudo à penetração de raios solares. Os aerossóis têm um feedback negativo sobre a temperatura. As nuvens são aerossóis naturais e o fumo da poluição um aerossol antropogénico.
O IPCC afirma que das 7 Gt de CO2 antropogénicas emitidas anualmente metade vai engrossar as 780 Gt que a atmosfera terreste contém o que significa que o nosso contributo anual se cifra em 0,45%. Estudos realizados e cujos papers podem ser consultados aqui defendem que o tempo de vida do CO2 na atmosfera varia de 5 a 10 anos o que significa que, do efeito de estufa total da atmosfera, a responsabilidade humana é de 5%. Essa percentagem traduzida em temperatura corresponde a um aumento de 0,1ºC.

Não tenho números tão detalhados mas a emissão antropogénica de aerossóis     também é diminuta face à natural. Basta referir que a erupção de um vulcão com a consequente emissão de enormes quantidades de poeiras tem efeitos mensuráveis na temperatura global terrestre de uma forma que o Homem não consegue replicar. A erupção do Pinatubo em 1992 provocou um arrefecimento global em 1993 e 1994. A poluição antropogénica é capaz de alterar o clima localmente, como acontece nas cidades, mas nunca a uma escala global.

Os efeitos da actividade humana são de uma ou duas ordens de grandeza inferiores às das forças naturais. O IPCC defende que o pequeno contributo humano é suficiente para desequilibrar o sistema climático. Os cépticos afirmam que o sistema, os seus inputs e outputs ainda não são totalmente compreendidos. E que até hoje não existem evidências mensuráveis de que o Homem tenha produzido alterações no clima à escala planetária.
É o efeito dos aerossóis antropogénicos que o IPCC dá como justificação para o arrefecimento da última década. O blog NoTricksZone faz um apanhado muito oportuno da história. O aquecimento global é real e está em linha com o previsto nos modelos. Só que as actividades humanas emitem aerossóis para além de CO2 e o efeito negativo de uns anulam o efeito positivo de outros. Reparemos na página 10 do resumo para o políticos:
It is extremely likely that human activities have caused more than half of the observed increase in global average surface temperature since the 1950s. (...) The greenhouse gas contribution to the warming from 1951–2010 is in the range between 0.6 and 1.4°C. This is very likely greater than the total observed warming of approximately 0.6°C over the same period.
É preciso ressalvar que os relatórios do IPCC não tiram conclusões, fazem sugestões. Atente nas expressões extremely likely e very likely que reproduzo em itálico tal como aparece no AR5.

Ora, se as temperaturas reais não caem dentro do altamente provável intervalo de aquecimento antropogénico é porque alguma coisa o está a anular. Será arrefecimento antropogénico? Na página 15 do Capítulo 10 é dada a sugestão:
Over the 1951–2010 period, greenhouse-gas-attributable warming at 0.6–1.4 K is significantly larger than the observed warming of approximately 0.6 K, and is compensated by an aerosol-induced cooling of between 0 and –0.8 K
Como está escrito no começo do subcapítulo estas sugestões do IPCC para influência antropogénica no clima são resultado de computação em modelos climáticos e não em resultado de validação robusta de hipóteses científicas:
Since AR4, detection and attribution studies applied to a new generation of models that samples a wider range of forcing, modelling and observational uncertainty than assessed in AR4, support previous studies that concluded that greenhouse gases are the largest contributor to global mean temperature increases since the mid 20th century.
Resumindo, não interessa se a atmosfera aquece ou arrefece, a culpa é do Homem. Não interessa se o clima faz aquilo que sempre fez, variar, a culpa é toda da nossa arrogante e destruidora procura de progresso e bem-estar!

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