quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

A ficção de Filipe Duarte Santos (parte 2/2)

No post anterior comentei sobre um artigo de opinião do Professor Filipe Duarte Santos em que este sugere que a falência do engenho humano para gerar crescimento económico pela via da tecnologia e a ganância do actual sistema financeiro devem precipitar uma nova ordem mundial de sustentabilidade e equidade que se sobreponha ao capitalismo. Aquilo que Filipe Duarte Santos defende não é novo, Karl Marx já o tinha proposto de forma mais eloquente há quase 200 anos. 

Se o artigo de opinião anterior teve um sabor mais marxista este vem numa versão mais ecologista.

A energia e o vício em combustíveis fósseis

A mensagem final é a mesma, o Homem é incapaz de se governar, não é capaz de ter uma visão de longo prazo estruturante e conciliável, no comunismo, com uma sociedade igualitária, no ecologismo, com a sobrevivência do planeta. 

O primeiro parágrafo é elucidativo:
O vício em combustíveis fósseis não é curável nos próximos anos porque os interesses de curto prazo são muito mais fortes do que as preocupações com uma alteração climática global cujos efeitos mais gravosos só irão manifestar-se nas próximas décadas.
Oh, o vício dos combustíveis fósseis. Esses símbolos do capitalismo destruidor e da falsa prosperidade americana, teias dissimuladas de desequilíbrios sociais. O vício predador que ignora a ameaça de um aquecimento global que virá assombrar as gerações futuras (sta perspectiva de futuro é imperiosa porque, como se sabe, este suposto aquecimento global teima em não aparecer no presente).  

A caça aos fantasmas prossegue:
O sector dos combustíveis fósseis tem um gigantesco poder financeiro e económico e não está disponível para a mudança no sentido de um novo paradigma baseado em energias renováveis.
Obviamente que o sector está disponível para a mudança se ela trouxer mais valor acrescentado como escrevi no post anterior. Neste caso, como o produto final é o mesmo (energia eléctrica), o valor acrescentado de cada tecnologia é rapidamente mensurável no custo de produção. E nesse aspecto as renováveis nunca irão alcançar os combustíveis fósseis pelas razões que aponto aqui.

Nem se dá o caso de o sector desaparecer por falta de matéria prima. Se isso acontecesse as empresas simplesmente se adaptariam e explorariam outros recursos. Mas isso não vai acontecer porque como o próprio Prof. Filipe Santos reconhece os combustíveis fósseis: 
Apesar de constituírem um recurso natural não renovável, nas escalas de tempo que nos interessam, as reservas existentes são enormes
E o Prof. volta a dar outra machadada na sua narrativa ecologista: 
Assegurar a exploração e acesso a fontes de energia barata são objectivos prioritários de todos os países 
Evidentemente, por isso é que a maioria dos países usa combustíveis fósseis, porque são economicamente viáveis de extrair, transportar e armazenar e fornecem energia em abundância e de forma fiável. Caso contrário como Filipe Santos não ignora: 
A falta de energia abundante causaria uma regressão de séculos na qualidade de vida e poria em perigo muitas vidas humanas.
É precisamente por serem intermitentes e portanto incapazes de fornecer energia abundante que os realistas vêm dizendo que as fontes renováveis não são solução viável para as necessidades do mundo moderno. Insistir nelas é condenar os países à desindustrialização e as pessoas à pobreza.

O Professor porém não quer saber de realismo:
Contudo, o realismo não deve desmoralizar-nos. Antes pelo contrário, é necessário e urgente praticar a disciplina da racionalidade ao propalar e defender a utopia, apenas aparente, de um novo paradigma energético e de um desenvolvimento sustentável.
Palavras para quê? É preciso negar o concreto para perseguir o imaginário. É preciso recusar o modelo de desenvolvimento actual e eleger um novo paradigma assente em energias renováveis.

Talvez Filipe Santos não se aperceba do que realmente sugere. Mas o que ele propõe é, sob o pretexto de alterações climáticas antropogénicas inexistentes, privar a humanidade de energia abundante e barata, impossibilitando o desenvolvimento tecnológico e económico. O mesmo desenvolvimento que já tinha colocado em causa no artigo de opinião anterior.

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