quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A hipocrisia anti-nuclear na Europa

Saldo exportador/importador electricidade alemã (Bundesnetzagentur)
A Agência Federal Alemã Bundesnetzagentur que actua no sector da electricidade produziu o gráfico do saldo de exportação/importação de electricidade alemã. A barra amarela assinala o dia em que Merkel deu ordem para desligar os oito (em 17) reactores nucleares mais antigos da rede. Imediatamente, como o gráfico tão bem ilustra, o país passou de exportador para importador de electricidade. Até aqui nada de novo dado que as centrais nucleares alemãs garantiam até Março cerca de 25% do consumo eléctrico alemão. Naturalmente que, se de um dia para o outro, o país se viu amputado da mais de 10% da sua capacidade de geração teriam de existir consequências.

Muito mais interessante é a forma como essa falta foi suprimida. Previsivelmente, a Alemanha teve de recorrer aos maiores exportadores europeus de electricidade. A Electricité de France (EDF), que tem compensado a falta de energia nuclear germânica com energia nuclear gaulesa. E a checa CEZ que vende aos alemães parte da electricidade produzida na central nuclear de Temelín a cerca de 100km da fronteira com a Alemanha. Também a Polónia tem ajudado a cobrir a falta de energia nuclear limpa alemã. Fá-lo com a electricidade produzida da forma mais venenosa que existe, a obtida com queima de carvão castanho ou linhito. Mas não só.

O jornal Der Spiegel, que tem dado bastante atenção a este tema do fim do nuclear na Alemanha, vem revelar que também os austríacos, deficitários em produção eléctrica e importadores de electricidade nuclear alemã até Março, querem explorar este filão que se abriu no seu vizinho.

Barragem nos Alpes Austríacos
Os Austríacos, à semelhança dos suíços, têm a sorte de parte dos Alpes estarem no seu país e dispõem de recursos hidroeléctricos que lhes garante a maior parte das suas necessidades de electricidade. Mas ao contrário dos Helvéticos, a Áustria é o país do mundo com maior fobia anti-nuclear. A ponto de ainda recentemente se terem manifestado e exigido que a partir de 2015 seja proibida importação de energia atómica, nomeadamente da vizinha República Checa. Como se fosse possível saber com exactidão a fonte de todos os kW que percorrem a rede.

Como a Áustria não tem excedente produtivo adquire energia nuclear a Temelín nas horas de vazio para depois vender aos alemães nas horas caras de pico fazendo uso da capacidade de bombagem das suas barragens.

Os alemães e os austríacos parecem ter esquecido a luta que vêm travando há mais dez anos para fechar a central nuclear de Temelín sob o pretexto da falta de segurança. Temelín começou a ser construída na década de 1980 e está equipada com tecnologia russa.

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